Aldo Paes Barreto
Jornalista
Publicação: 28/03/2025 03:00
Tantos e tantos anos depois, lembro em detalhes dos acontecimentos no Recife, que culminaram com o golpe militar de 1964. Como está acontecendo atualmente, a cidade estava dividida. Naqueles últimos dias de março, os primeiros movimentos do golpe militar pareciam mais uma das tantas escaramuças que o recifense assistira nos últimos anos. Parte da sociedade civil queria a intervenção militar para combater o comunismo e a corrupção. A outra pedia o fim do capitalismo.
Também como hoje, poucos sabiam, mais os interesses econômicos e políticos estavam longe daqui. Era a Guerra Fria.
Estudante vestibulando fiquei zanzando pelo centro da cidade naquele resto de manhã do 1º de abril. O cursinho suspendera as aulas e poucos ônibus circulavam. Na confluência das avenidas Dantas Barreto e Guararapes, um grupo de jovens prosseguia na manifestação que tivera início da Escola de Engenharia, na Rua do Hospício, contra o golpe militar. As informações, desencontradas, diziam que o governador Miguel Arraes estava preso e era para o Palácio, já cercado pelo Exército, que os manifestantes se dirigiam.
Foi então que uma patrulha do Exército, comandada pelo major Hugo Coelho - soube-se depois -, procurou barrar a passeata. Os estudantes recuaram, apanharam algumas bandas de cocos e arremessaram contra os soldados. A violenta resposta veio com a ordem do major: “Fogo!” Ele mesmo mirou dois manifestantes pelas costas e atirou com arma curta atingindo mortalmente os dois.
Jonas Albuquerque, estudante secundarista, e Ivan Rocha, vestibulando de Engenharia, que até poucos dias servia ao Exército, haviam sido mortalmente feridos pelos disparos. Pelas costas, pude verificar horas depois, diante dos corpos dos dois no necrotério do antigo Pronto Socorro, na Rua Fernandes Vieira.
Após os tiros, os manifestantes debandaram e eu, quase arrastado por um amigo, Edmundo Lins da Cunha, fui para casa. Na Encruzilhada, bairro onde morava, a notícia das mortes já chegara, somando-se a outra tragédia: um acidente automobilístico dias antes, no Sábado de Aleluia, provocara a morte do estudante de Medicina Cândido da Fonte e ferira Paulo Jácome, colegas da Faculdade do meu irmão.
À noite, junto com amigos e colegas do sobrevivente Paulo Jácome fomos visitá-lo no antigo Pronto Socorro, na Avenida Fernandes Vieira. E no térreo, na “pedra” do necrotério do antigo hospital vigiados por soldados do Exército, jaziam os corpos de Jonas e Ivan. Jonas recebera um tiro que lhe arrancara o maxilar, evidenciando que ele corria e procurava olhar para trás quando levou o balaço. Ivan recebeu um disparo que lhe varara o peito e explodiu o tórax. Ambos, pelas costas.
Os militares já eram donos do poder e prometiam o fim do comunismo, a prosperidade do Brasil e bem-estar de todos os brasileiros. Era o dia 1° de abril. Dia da Mentira.
Também como hoje, poucos sabiam, mais os interesses econômicos e políticos estavam longe daqui. Era a Guerra Fria.
Estudante vestibulando fiquei zanzando pelo centro da cidade naquele resto de manhã do 1º de abril. O cursinho suspendera as aulas e poucos ônibus circulavam. Na confluência das avenidas Dantas Barreto e Guararapes, um grupo de jovens prosseguia na manifestação que tivera início da Escola de Engenharia, na Rua do Hospício, contra o golpe militar. As informações, desencontradas, diziam que o governador Miguel Arraes estava preso e era para o Palácio, já cercado pelo Exército, que os manifestantes se dirigiam.
Foi então que uma patrulha do Exército, comandada pelo major Hugo Coelho - soube-se depois -, procurou barrar a passeata. Os estudantes recuaram, apanharam algumas bandas de cocos e arremessaram contra os soldados. A violenta resposta veio com a ordem do major: “Fogo!” Ele mesmo mirou dois manifestantes pelas costas e atirou com arma curta atingindo mortalmente os dois.
Jonas Albuquerque, estudante secundarista, e Ivan Rocha, vestibulando de Engenharia, que até poucos dias servia ao Exército, haviam sido mortalmente feridos pelos disparos. Pelas costas, pude verificar horas depois, diante dos corpos dos dois no necrotério do antigo Pronto Socorro, na Rua Fernandes Vieira.
Após os tiros, os manifestantes debandaram e eu, quase arrastado por um amigo, Edmundo Lins da Cunha, fui para casa. Na Encruzilhada, bairro onde morava, a notícia das mortes já chegara, somando-se a outra tragédia: um acidente automobilístico dias antes, no Sábado de Aleluia, provocara a morte do estudante de Medicina Cândido da Fonte e ferira Paulo Jácome, colegas da Faculdade do meu irmão.
À noite, junto com amigos e colegas do sobrevivente Paulo Jácome fomos visitá-lo no antigo Pronto Socorro, na Avenida Fernandes Vieira. E no térreo, na “pedra” do necrotério do antigo hospital vigiados por soldados do Exército, jaziam os corpos de Jonas e Ivan. Jonas recebera um tiro que lhe arrancara o maxilar, evidenciando que ele corria e procurava olhar para trás quando levou o balaço. Ivan recebeu um disparo que lhe varara o peito e explodiu o tórax. Ambos, pelas costas.
Os militares já eram donos do poder e prometiam o fim do comunismo, a prosperidade do Brasil e bem-estar de todos os brasileiros. Era o dia 1° de abril. Dia da Mentira.