Política monetária restritiva e seus impactos negativos na economia brasileira

Sérgio Rodrigues, Advogado e professor universitário
e
Sandro Prado, Economista e professor universitário

Publicação: 31/03/2025 03:00

A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, acompanhada por sinalizações de novos aumentos, reacende o debate sobre os efeitos de uma política monetária restritiva em um cenário de inflação persistente. Com a meta de inflação para 2025 fixada em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a inflação acumulada nos últimos 12 meses excedendo o teto da meta de 4,5%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 5,06% no período. Dessa forma, o Banco Central busca alinhar as expectativas inflacionárias aos objetivos estabelecidos pelo CMN.

A elevação da taxa de juros é uma ferramenta clássica da política monetária restritiva, destinada a conter a inflação ao encarecer o crédito e desestimular o consumo e os investimentos. No entanto, essa estratégia possui efeitos colaterais diversos e significativos. A alta dos juros reduz o consumo das famílias e os investimentos das empresas, resultando em menor demanda por bens e serviços. Como consequência, há uma desaceleração da atividade econômica, impactando diretamente os negócios voltados ao mercado interno. Em 2024, o consumo das famílias foi um dos principais responsáveis pelo bom desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), registrando um crescimento de 4,8% — o melhor resultado desde 2011.

Os efeitos negativos não param por aí. Além da redução da demanda agregada, os projetos de expansão e inovação tornam-se menos atrativos devido ao aumento do custo do capital, levando à estagnação tecnológica e produtiva do país. O encarecimento do crédito restringe o acesso a financiamentos, afetando negativamente setores que dependem de capital externo.

A redução da demanda interna impacta diretamente o PIB, provocando uma desaceleração do crescimento econômico, que foi de 3,4% em 2024. A queda na produção voltada para o mercado doméstico afeta especialmente o setor de serviços, que, apesar de ter crescido 3,7% no mesmo ano, sente os efeitos da retração da economia.

Com juros mais altos, o serviço da dívida das famílias aumenta, comprometendo uma parcela maior da renda disponível e limitando o consumo futuro. No orçamento de 2025, mais de R$ 2,5 trilhões estão destinados exclusivamente ao pagamento da dívida pública, e cada aumento da Selic representa um acréscimo estimado de R$ 55 bilhões nesse montante. Além disso, a desaceleração da atividade econômica pode resultar na redução de postos de trabalho, elevando as taxas de desemprego. Embora a taxa de desocupação no Brasil esteja em um patamar relativamente aceitável, de 6,5% (cerca de 7,2 milhões de pessoas), sua distribuição não é homogênea entre as regiões. Estados como Bahia e Pernambuco lideram o ranking do desemprego, com 10,8% da força de trabalho desocupada.

Embora o controle da inflação seja fundamental, a adoção de uma política monetária excessivamente restritiva pode agravar os desafios econômicos. Os juros elevados impactam negativamente o setor industrial, reduzindo seu dinamismo e capacidade de investimento. Essa política também enfraquece a contribuição da demanda interna para o PIB, enquanto setores exportadores acabam se sobressaindo, impulsionados pelo fraco desempenho do mercado doméstico e pela desvalorização do real frente ao dólar no final de 2024.

Um fator crítico na atual inflação é o aumento dos preços dos alimentos, que afeta desproporcionalmente as famílias de baixa renda. Esse tipo de inflação é menos sensível às variações na taxa de juros, pois fatores como condições climáticas adversas e choques de oferta desempenham um papel determinante. Assim, a elevação da Selic é ineficaz no combate a essa modalidade de inflação, ao mesmo tempo em que amplia os impactos negativos sobre a economia real.

É imperativo que o Comitê de Política Monetária (Copom) e os formuladores de políticas econômicas considerem os efeitos adversos de uma política monetária excessivamente restritiva. Embora o controle da inflação seja essencial, é fundamental equilibrar as medidas para evitar a desaceleração excessiva do crescimento econômico e a ampliação de problemas sociais, como o desemprego e o endividamento das famílias. Uma abordagem mais equilibrada poderia incluir a adoção de políticas fiscais complementares e medidas estruturais que enfrentem as causas subjacentes da inflação, especialmente no setor de alimentos, sem comprometer o bem-estar econômico geral.