Maria Paula Figueiredo
Pedagoga, especialista em Neurociência na Escola, Direito Educacional e Gestão Escolar, mestranda em Ciências Empresariais
Publicação: 01/04/2025 03:00
Direto de Austin, Texas, para a semana mais criativa, ousada e instigante do ano: o South by Southwest (SXSW). Conhecido por antecipar tendências globais, o festival é o ponto de encontro de mentes inquietas e de um network executivo seleto — onde temas como inteligência artificial, biotecnologia e inovação social se cruzam no mesmo palco. E, entre tantos nomes esperados, como Amy Webb e Ian Beacraft, a grande surpresa da palestra de abertura não foi uma nova tecnologia, mas sim uma velha conhecida de todos nós: a saúde emocional.
A verdade é que em pleno século 21, nunca estivemos tão conectados e tão desconectados de nós mesmos. Os dados apresentados mostraram, com contundência, que vínculos sociais estão diretamente ligados à longevidade, à saúde física e ao bem-estar mental. Num mundo onde o futuro é o hoje construído, é paradoxal — e profundamente simbólico — que a grande disrupção de 2025 seja, justamente, a urgência de nos reconectarmos uns com os outros.
Entre os auditórios, exposições e ativações lotadas, onde a segunda maior delegação do evento era de brasileiros, a tônica era clara: a pandemia da solidão. De aplicativos de relacionamento que agora priorizam conexões de amizade e comunidades, como defendeu o CEO do Bumble, à avalanche de palestras sobre saúde mental e pertencimento, o SXSW deste ano parece ter entendido algo que muitas vezes esquecemos no cotidiano: tecnologia sem humanidade é só ruído, é só talvez uma programação que não está servindo ao seu maior objetivo: ajudar realmente ao resgate da humanidade.
De volta à rotina, fui digerindo tudo. Porque quando saímos da imersão criativa e voltamos ao mundo real — às escolas, às famílias, aos consultórios — percebemos o tamanho da ferida. Nas escolas, atendemos diariamente pais que buscam ser ouvidos, não por questões pedagógicas de seus filhos, mas por angústias pessoais. A escola, muitas vezes, se torna o espaço possível de escuta, porque em casa, essa escuta não existe.
A ansiedade e a depressão em jovens estão em níveis alarmantes, sim. Mas muitas vezes, o que vejo são adultos que já não sabem mais como se relacionar nem com eles mesmos, que talvez nunca tenham sido ensinados a isso e desta forma, tampouco se relacionam com os seus filhos. A dor que chega à escola é só a ponta visível de um iceberg, como já dizia Freud. Debaixo d’água, estão frustrações, carências, projeções e ausências que, quando não bem trabalhadas, atravessam gerações.
Esther Perel, psicanalista e uma das vozes mais potentes do festival, lembrou: “Não existe nenhuma fonte maior de alegria e mais significativa na vida do que os nossos relacionamentos com os outros.” Talvez estejamos, finalmente, prontos para ouvir essa frase não como um clichê, mas como um alerta e chamado.
Porque, no fim, a verdadeira inovação não será o próximo computador quântico, nem o próximo biorrobô. Será reaprender o básico: escutar, acolher, conectar. E isso, ainda que não pareça, pode ser a maior revolução do nosso tempo. No final do dia, com quantas conexões reais e profundas você realmente tem convivido?
A verdade é que em pleno século 21, nunca estivemos tão conectados e tão desconectados de nós mesmos. Os dados apresentados mostraram, com contundência, que vínculos sociais estão diretamente ligados à longevidade, à saúde física e ao bem-estar mental. Num mundo onde o futuro é o hoje construído, é paradoxal — e profundamente simbólico — que a grande disrupção de 2025 seja, justamente, a urgência de nos reconectarmos uns com os outros.
Entre os auditórios, exposições e ativações lotadas, onde a segunda maior delegação do evento era de brasileiros, a tônica era clara: a pandemia da solidão. De aplicativos de relacionamento que agora priorizam conexões de amizade e comunidades, como defendeu o CEO do Bumble, à avalanche de palestras sobre saúde mental e pertencimento, o SXSW deste ano parece ter entendido algo que muitas vezes esquecemos no cotidiano: tecnologia sem humanidade é só ruído, é só talvez uma programação que não está servindo ao seu maior objetivo: ajudar realmente ao resgate da humanidade.
De volta à rotina, fui digerindo tudo. Porque quando saímos da imersão criativa e voltamos ao mundo real — às escolas, às famílias, aos consultórios — percebemos o tamanho da ferida. Nas escolas, atendemos diariamente pais que buscam ser ouvidos, não por questões pedagógicas de seus filhos, mas por angústias pessoais. A escola, muitas vezes, se torna o espaço possível de escuta, porque em casa, essa escuta não existe.
A ansiedade e a depressão em jovens estão em níveis alarmantes, sim. Mas muitas vezes, o que vejo são adultos que já não sabem mais como se relacionar nem com eles mesmos, que talvez nunca tenham sido ensinados a isso e desta forma, tampouco se relacionam com os seus filhos. A dor que chega à escola é só a ponta visível de um iceberg, como já dizia Freud. Debaixo d’água, estão frustrações, carências, projeções e ausências que, quando não bem trabalhadas, atravessam gerações.
Esther Perel, psicanalista e uma das vozes mais potentes do festival, lembrou: “Não existe nenhuma fonte maior de alegria e mais significativa na vida do que os nossos relacionamentos com os outros.” Talvez estejamos, finalmente, prontos para ouvir essa frase não como um clichê, mas como um alerta e chamado.
Porque, no fim, a verdadeira inovação não será o próximo computador quântico, nem o próximo biorrobô. Será reaprender o básico: escutar, acolher, conectar. E isso, ainda que não pareça, pode ser a maior revolução do nosso tempo. No final do dia, com quantas conexões reais e profundas você realmente tem convivido?