Por que as forças civilizadas ainda se embatem politicamente com a barbárie

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 19/04/2025 03:00

Apesar de gerar progresso com a melhoria da qualidade média de vida a longo prazo, a humanidade sempre se deparou com a barbárie em seu caminho. Aqueles com uma visão humanista e defensores do progresso social, com a melhoria da qualidade de vida média, sempre tiveram que enfrentar as visões bárbaras do momento. Foi assim quando alguns passaram a defender o fim da antropofagia. Também encontramos o mesmo embate quando os progressistas defendiam o fim da escravidão. A luta pelo fim dos laços feudais, que limitavam o desenvolvimento da produção artesanal e manufatureira, além de ligar famílias às terras, sem permitir a competição, também acirrou disputas ao redor do mundo. No século 20, disputas entre os que defendiam o livre comércio, sem tantas restrições nacionais, levaram a uma guerra. A defesa das liberdades individuais e da democracia defrontou-se com as forças políticas que defendiam o autoritarismo, limites ao livre comércio e extermínio de raças e povos que julgavam inferiores, mas saiu-se vitoriosa na segunda guerra mundial, apesar de não eliminar completamente revelações pontuais e localizadas, como no Chile de Pinochet e nas ditaduras militares no Brasil e na Argentina. Apesar de árduas e cheias de retrocessos, essas batalhas sempre opuseram progressistas aos bárbaros e foram vencidas pelos primeiros.

Contudo, até recentemente, julgava-se que já havia um lado vitorioso na disputa entre o fascismo, a barbárie nos confrontos da Segunda Guerra Mundial, e as forças progressistas, defendendo a democracia, as liberdades individuais (inclusive no comércio) e uma distribuição de renda mais justa. Entretanto, desde 1970, aumentou a concentração de renda nos países desenvolvidos. Paralelamente, gerou-se uma legião de frustrados, que ficaram à margem dos progressos e da melhoria do bem-estar recente. Esses agora se tornaram os neofascistas (trumpistas, bolsonaristas e toda laia de frustrados) e ameaçam o avanço das forças civilizatórias.

As investidas de Trump contra a democracia e o respeito aos povos diferentes daquilo que ele considera como os verdadeiros americanos (branco e fascista) são uma ofensiva da barbárie. Ela representa um ressurgimento da ideologia fascista, que se julgava derrotada e definitivamente vencida, assim como ideias como a escravidão e a antropofagia. No Brasil, a força da direita bolsonarista também é um exemplo desse fenômeno de novo levante fascista da barbárie.

Uma hipótese para o ressurgimento da barbárie o vê como consequência de erros nas ideias progressistas do momento. Reduzimos nossa capacidade de construir e gerar bem-estar. Hoje, as forças progressistas colocam-se mais do lado de quem atrapalha, invocando regulações e impondo limites às ações construtivas com várias imposições. As ideologias reguladoras ganharam mais apelo entre as forças progressistas, e isso elevou as frustrações sociais, base do fascismo. Talvez nós, verdadeiramente de esquerda ou liberais, devamos pensar em nos tornar mais criadores e construtores e menos reguladores. Essa, talvez, seja a melhor forma de combater o fascismo e a barbárie, representada no Brasil pelas forças bolsonaristas. Quanto mais demorarmos a dar essa guinada, mais força política vamos dar para a barbárie.