Luciano Martins
Advogado, assessor parlamentar, vice-presidente da União Brasileira de Apoio aos Municípios no Estado de Mato Grosso do Sul
Publicação: 15/05/2025 03:00
A Rota Bioceânica, ao conectar o Centro-Oeste brasileiro ao Pacífico via Paraguai, Argentina e Chile, surge como uma oportunidade de integração regional. No entanto, a fragilidade das políticas educacionais brasileiras pode transformar essa possibilidade geoeconômica em mais uma repetição do ciclo de exclusão. A falta de adaptação dos currículos técnicos à dinâmica regional e internacional não apenas limita a formação profissional, mas também perpetua uma realidade de marginalização das populações historicamente desfavorecidas.
O Pronatec, uma das principais políticas de educação técnica do Brasil, ampliou o acesso à formação, mas suas limitações são evidentes. O modelo de ensino funcionalista e voltado para a empregabilidade imediata negligencia aspectos essenciais, como a formação integral do sujeito e a valorização da diversidade cultural. Ao buscar suprir demandas imediatas do mercado de trabalho, o Pronatec ignora a complexidade das relações de trabalho e a necessidade de uma educação que forme cidadãos críticos e conscientes de sua atuação no mundo.
O que o Brasil continua a produzir é uma educação técnica que, longe de emancipar, reforça as desigualdades estruturais. A Rota Bioceânica poderia ser uma oportunidade de romper com esse ciclo, mas o país continua a formar profissionais para um mercado de trabalho restrito, sem preparo para lidar com a transnacionalidade e as complexas relações interregionais. O ensino técnico segue centrado no nacional, enquanto as dinâmicas de trabalho e as interações sociais exigem fluência em outras línguas, práticas culturais e conhecimentos que vão além do puramente técnico.
Ao não considerar as especificidades culturais da região, a educação técnica contribui para a perpetuação da violência simbólica que Pierre Bourdieu tanto criticou. A escola, disfarçada de neutralidade, transforma diferenças culturais em deficiências a serem corrigidas, reforçando uma lógica de exclusão. Essa visão homogênea de educação ignora a riqueza cultural local, não prepara os indivíduos para as exigências da integração regional e mantém as populações em um ciclo de subordinação.
O Brasil, ao continuar a subestimar as complexidades da formação profissional necessária para a Rota Bioceânica, arrisca aprofundar a exploração de mão de obra barata. Sem uma formação técnica que inclua noções de direito internacional, comércio exterior e a própria ética da cooperação transnacional, o Brasil pode cair na armadilha de exportar apenas commodities humanas, sem a construção de uma rede de profissionais que pensem criticamente e desenvolvam soluções para os desafios impostos pela integração regional.
O idioma, elemento essencial para a comunicação transnacional, torna-se uma das barreiras mais evidentes nesse processo. A falta de domínio de línguas como o espanhol e o inglês não é apenas um obstáculo técnico, mas um reflexo de uma educação desatualizada, que não prepara os indivíduos para o mundo globalizado em que vivemos. Essa lacuna linguística limita as possibilidades de negociação e cooperação, fundamentais para o sucesso de iniciativas como a Rota Bioceânica.
A ausência de profissionais qualificados, como técnicos em desembaraços aduaneiros, evidencia a falta de preparação do país para lidar com as exigências do comércio internacional. O Brasil, ao não investir em uma formação técnica voltada para esses campos, corre o risco de se tornar uma peça descartável na cadeia global de produção e comércio. Em vez de se posicionar como um ator estratégico, o país pode se ver reduzido à condição de exportador de produtos brutos, sem valor agregado, e de trabalhadores temporários, sem autonomia ou perspectiva de crescimento.
É urgente que o modelo educacional brasileiro, especialmente no campo da educação técnica, seja repensado. Contudo, não basta reformular currículos e métodos. A questão mais profunda está na falta de uma visão de longo prazo, que compreenda a educação como ferramenta de transformação social e não apenas como preparação para o mercado de trabalho imediato. O Brasil precisa de uma mudança de mentalidade, que compreenda a educação técnica como um processo de formação integral, capaz de gerar cidadãos que entendam a complexidade do mundo em que vivem.
A Rota Bioceânica pode ser uma metáfora para essa travessia necessária na educação técnica brasileira. Não se trata apenas de construir estradas e portos, mas de reconfigurar a mentalidade que sustenta o modelo de ensino. Sem isso, o futuro da integração regional se limita a uma mera reiteração das velhas estruturas de exclusão, onde a mobilidade não é de pessoas ou ideias, mas de mercadorias, sem que os indivíduos tenham a capacidade de compreender ou participar de sua própria transformação.
O Pronatec, uma das principais políticas de educação técnica do Brasil, ampliou o acesso à formação, mas suas limitações são evidentes. O modelo de ensino funcionalista e voltado para a empregabilidade imediata negligencia aspectos essenciais, como a formação integral do sujeito e a valorização da diversidade cultural. Ao buscar suprir demandas imediatas do mercado de trabalho, o Pronatec ignora a complexidade das relações de trabalho e a necessidade de uma educação que forme cidadãos críticos e conscientes de sua atuação no mundo.
O que o Brasil continua a produzir é uma educação técnica que, longe de emancipar, reforça as desigualdades estruturais. A Rota Bioceânica poderia ser uma oportunidade de romper com esse ciclo, mas o país continua a formar profissionais para um mercado de trabalho restrito, sem preparo para lidar com a transnacionalidade e as complexas relações interregionais. O ensino técnico segue centrado no nacional, enquanto as dinâmicas de trabalho e as interações sociais exigem fluência em outras línguas, práticas culturais e conhecimentos que vão além do puramente técnico.
Ao não considerar as especificidades culturais da região, a educação técnica contribui para a perpetuação da violência simbólica que Pierre Bourdieu tanto criticou. A escola, disfarçada de neutralidade, transforma diferenças culturais em deficiências a serem corrigidas, reforçando uma lógica de exclusão. Essa visão homogênea de educação ignora a riqueza cultural local, não prepara os indivíduos para as exigências da integração regional e mantém as populações em um ciclo de subordinação.
O Brasil, ao continuar a subestimar as complexidades da formação profissional necessária para a Rota Bioceânica, arrisca aprofundar a exploração de mão de obra barata. Sem uma formação técnica que inclua noções de direito internacional, comércio exterior e a própria ética da cooperação transnacional, o Brasil pode cair na armadilha de exportar apenas commodities humanas, sem a construção de uma rede de profissionais que pensem criticamente e desenvolvam soluções para os desafios impostos pela integração regional.
O idioma, elemento essencial para a comunicação transnacional, torna-se uma das barreiras mais evidentes nesse processo. A falta de domínio de línguas como o espanhol e o inglês não é apenas um obstáculo técnico, mas um reflexo de uma educação desatualizada, que não prepara os indivíduos para o mundo globalizado em que vivemos. Essa lacuna linguística limita as possibilidades de negociação e cooperação, fundamentais para o sucesso de iniciativas como a Rota Bioceânica.
A ausência de profissionais qualificados, como técnicos em desembaraços aduaneiros, evidencia a falta de preparação do país para lidar com as exigências do comércio internacional. O Brasil, ao não investir em uma formação técnica voltada para esses campos, corre o risco de se tornar uma peça descartável na cadeia global de produção e comércio. Em vez de se posicionar como um ator estratégico, o país pode se ver reduzido à condição de exportador de produtos brutos, sem valor agregado, e de trabalhadores temporários, sem autonomia ou perspectiva de crescimento.
É urgente que o modelo educacional brasileiro, especialmente no campo da educação técnica, seja repensado. Contudo, não basta reformular currículos e métodos. A questão mais profunda está na falta de uma visão de longo prazo, que compreenda a educação como ferramenta de transformação social e não apenas como preparação para o mercado de trabalho imediato. O Brasil precisa de uma mudança de mentalidade, que compreenda a educação técnica como um processo de formação integral, capaz de gerar cidadãos que entendam a complexidade do mundo em que vivem.
A Rota Bioceânica pode ser uma metáfora para essa travessia necessária na educação técnica brasileira. Não se trata apenas de construir estradas e portos, mas de reconfigurar a mentalidade que sustenta o modelo de ensino. Sem isso, o futuro da integração regional se limita a uma mera reiteração das velhas estruturas de exclusão, onde a mobilidade não é de pessoas ou ideias, mas de mercadorias, sem que os indivíduos tenham a capacidade de compreender ou participar de sua própria transformação.