Aldo Paes Barreto
Jornalista
Publicação: 23/05/2025 03:00
Desde os primeiros anos na escola, ninguém tinha dúvidas: Luizinho seria jogador de futebol. Craque. Quando foi estudar no Recife e ficava batendo bola pelas ruas do bairro, não demorou para ser descoberto por um olheiro carioca. No final do ano, Luizinho estava treinando no Botafogo ao lado das celebridades da época. Não fez muito sucesso. Em 1960, quando Didi foi treinar o Sporting Cristal, no Peru, Luizinho foi com ele. Mas, também não brilhou. Terminou cedido a um clube da cidade de Chiclayo, que nem disputava o campeonato nacional. O pernambucano foi ficando, casou e viveu anos na cidade peruana. Fez bom pé de meia, casou com moça fina e rica. Batia uma bolinha, jogava tênis. Numa dessas peladas de raquetes, conheceu um padre americano. O padre Roberto. Frequentavam o mesmo clube. O missionário era cordial, simpático, embora de pouca conversa, reservado.
Naquela época, o casamento do ex-craque desmoronou e ele decidiu voltar ao Brasil. Comprou um sítio em Aldeia de Santa Lúcia e tornou-se figura conhecida. Carismático, generoso, frequentava os bares mais movimentados, a barbearia.
Quando o novo papa foi escolhido, Luizinho reconheceu o antigo parceiro de tênis. “Conheço esse papa”, comentou com amigos. E detalhou os contatos com o antigo missionário. Dia seguinte, a cidadezinha amanheceu aumentando e festejando a história. Todo mundo dizia que Luizinho era muito amigo do papa e que iria a Roma. Luizinho minimizava. Não era bem assim. Não tinha nenhuma intimidade. Não houve jeito, a versão ampliada era comentada, todos orgulhosos do conterrâneo amigo do papa.
Cansado de desmentir a história, terminou concordando. Na verdade, não iria à Roma, viajaria ao Peru tratar de negócios. Mas, pra quê contrariar o povo?
Dias antes da viagem ao Peru, foi ao barbeiro, “seu” Juquinha. E enquanto ia cortando os cabelos, o fígaro não perdeu a oportunidade:
- Ah, seu Luizinho , então é verdade que o senhor vai ver o papa?
- Pois é, Juquinha. Conheci o papa quando ele foi bispo no Peru, mas ficou nisso. Não posso dizer que sou amigo dele. Vou ver meus filhos e acertar algumas pendências.
- Ah, seu Luizinho está escondendo o jogo? Todo mundo já sabe que vosmicê é amigo do papa... Pois, deixe eu pedir um favor. Faz dias minha mulher não me deixa dormir, azucrinando minha paciência, insistindo para eu lhe encaminhar o pedido...
- O senhor sabe, né, doutor? Nós temos um filho, o João Mário, que está no seminário. A gente queria que o senhor falasse com o papa para ver se ele arranja uma paróquia aqui por perto, para o João Mário... O menino é um santo e o papa não vai se arrepender.
Luisinho ia concordando, balançando o rosto ensaboado em sinal afirmativo. No dia seguinte viajou. Voltou duas semanas depois, e nem colocou as malas no carro, deu de cara com o barbeiro. Viera dar às boas vindas ao amigo e saber notícias da “nomeação do João Mário”.
- Ah, meu caro. Nem queira saber... Assim que cheguei ao Vaticano, lá na Igreja de São Pedro, mal me ajoelhei diante de Sua Santidade, ele colocou a mão na minha cabeça, me reconheceu e foi falando: “Luis Antônio quem foi o incompetente do barbeiro que cortou o teu cabelo?”.
- Aí, né, meu caro Juquinha... não tive a menor condição de tocar no assunto...
Naquela época, o casamento do ex-craque desmoronou e ele decidiu voltar ao Brasil. Comprou um sítio em Aldeia de Santa Lúcia e tornou-se figura conhecida. Carismático, generoso, frequentava os bares mais movimentados, a barbearia.
Quando o novo papa foi escolhido, Luizinho reconheceu o antigo parceiro de tênis. “Conheço esse papa”, comentou com amigos. E detalhou os contatos com o antigo missionário. Dia seguinte, a cidadezinha amanheceu aumentando e festejando a história. Todo mundo dizia que Luizinho era muito amigo do papa e que iria a Roma. Luizinho minimizava. Não era bem assim. Não tinha nenhuma intimidade. Não houve jeito, a versão ampliada era comentada, todos orgulhosos do conterrâneo amigo do papa.
Cansado de desmentir a história, terminou concordando. Na verdade, não iria à Roma, viajaria ao Peru tratar de negócios. Mas, pra quê contrariar o povo?
Dias antes da viagem ao Peru, foi ao barbeiro, “seu” Juquinha. E enquanto ia cortando os cabelos, o fígaro não perdeu a oportunidade:
- Ah, seu Luizinho , então é verdade que o senhor vai ver o papa?
- Pois é, Juquinha. Conheci o papa quando ele foi bispo no Peru, mas ficou nisso. Não posso dizer que sou amigo dele. Vou ver meus filhos e acertar algumas pendências.
- Ah, seu Luizinho está escondendo o jogo? Todo mundo já sabe que vosmicê é amigo do papa... Pois, deixe eu pedir um favor. Faz dias minha mulher não me deixa dormir, azucrinando minha paciência, insistindo para eu lhe encaminhar o pedido...
- O senhor sabe, né, doutor? Nós temos um filho, o João Mário, que está no seminário. A gente queria que o senhor falasse com o papa para ver se ele arranja uma paróquia aqui por perto, para o João Mário... O menino é um santo e o papa não vai se arrepender.
Luisinho ia concordando, balançando o rosto ensaboado em sinal afirmativo. No dia seguinte viajou. Voltou duas semanas depois, e nem colocou as malas no carro, deu de cara com o barbeiro. Viera dar às boas vindas ao amigo e saber notícias da “nomeação do João Mário”.
- Ah, meu caro. Nem queira saber... Assim que cheguei ao Vaticano, lá na Igreja de São Pedro, mal me ajoelhei diante de Sua Santidade, ele colocou a mão na minha cabeça, me reconheceu e foi falando: “Luis Antônio quem foi o incompetente do barbeiro que cortou o teu cabelo?”.
- Aí, né, meu caro Juquinha... não tive a menor condição de tocar no assunto...