Padre Henrique, presente

José da Costa Soares
Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Pernambuco e sócio efetivo do IAHGP

Publicação: 26/05/2025 03:00

No próximo dia 28 de maio, às 9h30, a Universidade Federal de Pernambuco e o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano prestarão uma homenagem à memória do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, descerrando uma placa do projeto “História nas Paredes”, nas dependências da UFPE, a qual será adotada pela Associação dos Docentes da UFPE e pela vereadora Cida Pedrosa.

A escolha do mês de maio, mês em que o padre Henrique foi sequestrado, torturado e morto pela ditadura militar brasileira, não poderia ser mais oportuna, dadas as tentativas recentes de revisionismo histórico assistidas neste país em torno do que foi o golpe de 1964 e todos os seus consectários políticos e humanitários.

Mas, o que aconteceu com o padre Henrique?

A história é muito trágica e dolorosa, transformando o jovem religioso em um mártir da democracia e dos direitos humanos deste país.

Na noite do dia 26 de maio de 1969, o jovem padre, então assessor direto do arcebispo de Olinda e do Recife dom Helder Camara, foi sequestrado no bairro do Parnamirim, no Recife (provavelmente, pela mesma Rural Willys verde e branca, que, menos de trinta dias antes, promovera o atentado que deixara paraplégico o líder estudantil Cândido Pinto, na Ponte da Torre).

Na manhã do dia seguinte, 27, o seu corpo foi encontrado na Cidade Universitária, com marcas de espancamento, queimaduras, cortes profundos e três ferimentos produzidos por arma de fogo.

Era clara a motivação do crime: calar dom Helder Camara.

Naquele momento, o país vivia o pior período da repressão, conhecido como “anos de chumbo”, intervalo compreendido entre a assinatura do AI-5 (13.12.1968) e o início do Governo Geisel (15.03.1974).

Dom Helder era uma personalidade internacionalmente reverenciada, integrando a linha da Igreja Católica que se opunha à ditadura militar, ao lado de outros clérigos, como dom Paulo Evaristo Arns, frei Beto e frei Tito.

Um eventual atentado contra a vida do próprio arcebispo provocaria o clamor da comunidade internacional, desnudando, para o mundo, o regime autoritário brasileiro.

Era preciso evitar essa exposição, buscando-se um meio indireto.

A vida do jovem padre Henrique, então, aos 28 anos, foi escolhida para esse fim.

Após o reconhecimento do corpo, o velório foi realizado na matriz do Espinheiro.