Saúde em crise exige coragem, presença e ação sindical firme

Ana Carolina Tabosa
Presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe)

Publicação: 22/05/2025 03:00

Pernambuco enfrenta uma crise profunda e prolongada na saúde. O SUS, ainda marcado pelos traumas da pandemia, das arboviroses e do colapso pediátrico, continua sobrecarregado. A atenção primária, porta de entrada da maioria dos usuários, opera com equipes incompletas, estrutura frágil e desabastecimento crônico. Na linha de frente, médicos exaustos tentam garantir o cuidado, apesar das condições indignas de trabalho.

A situação da rede materno-infantil é alarmante: partos em unidades superlotadas, escassez de leitos e sobrecarga profissional. É imprescindível que os municípios assumam sua responsabilidade, sobretudo nos partos de baixo risco, com uma rede eficaz e humanizada. Na média e alta complexidade, a ausência de leitos – especialmente de UTI – compromete vidas e esgota quem cuida. A oncologia, por sua vez, expõe o drama do abandono: filas intermináveis, diagnósticos tardios, biópsias sem prazo, angústia sem resposta. A dignidade do paciente não pode continuar sendo adiada.

Reconhecemos avanços pontuais dos governos. Mas a saúde pública exige mais que anúncios e promessas: exige execução, planejamento e compromisso real com a vida.

Na saúde suplementar, a crise assume nova face. A inflação dos planos empurra famílias para o SUS. A Agência Nacional de Saúde precisa agir com firmeza diante da financeirização selvagem do setor. Investidores alheios à ética e à ciência impuseram reajustes abusivos, cortaram direitos, precarizaram vínculos. A pejotização foi cartelizada, transformando o medo do desemprego em ferramenta de controle. É urgente que o Judiciário olhe para esse modelo com a seriedade que ele exige. O trabalho médico sustenta famílias, garante dignidade e não pode ser tratado como mera estatística contratual.

Além dos desafios no atendimento, outro ponto crítico compromete o futuro da saúde: a formação médica. Multiplicam-se faculdades sem infraestrutura mínima, enquanto as vagas de residência não acompanham esse crescimento. O resultado é uma juventude médica com pouca vivência prática, sem especialização e vulnerável à precarização. Esses profissionais ingressam no mercado sob insegurança, baixa remuneração e escassez de oportunidades. É urgente reequilibrar qualidade formativa, acesso à residência e perspectivas reais de carreira.

A classe médica também enfrenta a corrosão simbólica de sua função social. Agravam-se os episódios de agressões físicas e verbais, a desinformação sistemática e as interferências políticas que fragilizam o ato médico. Resistir a esse cenário exige coragem coletiva, firmeza institucional e união inabalável da categoria.

E dentro dessa luta, há uma voz que cresce silenciosa: a das mulheres médicas. Mas seguimos enfrentando barreiras estruturais, sobretudo aquelas que tentam oprimir a maternidade. Nenhuma médica deve ser forçada a escolher entre ser mãe ou ser médica. Defenderemos a licença-maternidade, o combate ao assédio e a criação de ambientes de trabalho justos e acolhedores. Apoiar as médicas é cuidar melhor da sociedade.

O Simepe segue mobilizado. Nossa gestão, eleita em processo democrático e participativo, tem um compromisso claro: lutar por concursos públicos, vínculos justos, remuneração digna, condições reais de trabalho e saúde mental para quem cuida. A pejotização forçada não será normalizada. Estaremos presentes, do litoral ao sertão, como escudo, ponte e voz.

Iniciamos este mandato com humildade, entusiasmo e clareza de propósito. Nosso lema traduz o que guia esta nova etapa:

É voz. É direito. É presença. É sindicato.

Com união, transparência e firmeza, seguiremos fortalecendo a luta por uma medicina respeitada, humana e valorizada em Pernambuco.

Não basta resistir. É preciso transformar.