A naturalização do inatural: quando o horror vira rotina

Beto Rabello
Advogado

Publicação: 04/06/2025 03:00

Vivemos dias em que o inaceitável deixou de chocar. A violência se banalizou. O crime se institucionalizou. O horror se acomodou no cotidiano como se fosse parte da paisagem social. Homicídios e assaltos diários já não causam espanto. Tornaram-se números, manchetes repetidas, lamentos breves que logo se perdem em meio à correria do dia a dia. E assim, a barbárie se disfarça de normalidade. Isso não pode continuar!

Jovens que rejeitam o estudo e desprezam o trabalho honesto fazem do crime sua escolha profissional. Assaltar, vender drogas ou se prostituir deixou de ser exceção e virou, para muitos, estilo de vida. A lógica é simples e brutal: ganhar fácil, consumir agora, sem medir consequências. O esforço é ridicularizado, o mérito é desvalorizado, e o imediatismo reina como valor absoluto. São presas fáceis para as organizações criminosas.

Enquanto isso, o Estado falha em todas as frentes. O governo, atolado em discursos vazios e medidas ineficazes, não consegue mais controlar a escalada da criminalidade. Os pais, enfraquecidos pela inversão de valores e desamparados por leis que os desautorizam, não têm mais força nem moral para conter seus próprios filhos. As leis beneficiam os jovens infratores e pune rigorosamente seus pais, confundindo uma educação rígida, preventiva, às vezes com a necessidade de se impor com mais firmeza, educação tem que começar em casa, não é o estado quem cria. A polícia prende, mas sabe que está enxugando gelo. E o Judiciário, amparado em formalismos e garantias mal aplicadas, mantém as portas das cadeias girando, liberando reincidentes sem qualquer responsabilidade sobre os efeitos sociais dessa leniência. A maioria dos crimes brutais, são praticados por reincidentes.

Naturalizar o inatural é mais do que um erro, é um perigo. Quando deixamos de nos indignar com o absurdo, abrimos espaço para que ele se torne regra.

Quando deixamos de reagir, consentimos. A exposição constante ao crime gera uma anestesia emocional que mina o senso coletivo de justiça e de sobrevivência ética. A sociedade, rendida, passa a agir como se nada pudesse ser feito. Mas pode. E deve. Naturalizar o inatural, só muda quando é em nossas famílias.

É preciso resgatar a autoridade da família, o valor do trabalho honesto, o papel firme da polícia, e sobretudo, a responsabilidade moral do Judiciário. A lei não pode proteger quem afronta deliberadamente a ordem e a vida. Garantias não podem servir de escudo para o desprezo pela dignidade humana.

A juventude precisa ser resgatada do abismo - não com romantizações sociológicas, mas com exigência, limite e alternativa real de futuro. É necessário restaurar a ideia de que a vida só tem sentido quando construída com esforço, não tomada à força. Os jovens precisam entender, que a vida no crime é passageira, morrem muito cedo ou passarão anos presos, sem desfrutar daquilo que é o mais importante nas nossas vidas, a liberdade.

Porque enquanto o inatural continuar sendo tratado como normal, a barbárie continuará vencendo - não apenas nas ruas, mas dentro de nós.