Inteligência Artificial: para onde vamos?

Walter França
Cirurgião bariátrico e do aparelho digestivo

Publicação: 19/06/2025 03:00

A Inteligência Artificial (IA) domina o mundo contemporâneo e já está inserida no dia a dia até de quem nunca ouviu falar nela. Engana-se quem acredita que é algo distante. Independentemente da conectividade que o ser humano possua ele, em algum momento, a utiliza, seja para chamar um carro de aplicativo, pedir uma refeição, navegar nas redes sociais. Todas essas atividades corriqueiras são gerenciadas por algoritmos.

Como não poderia ser diferente, a Inteligência Artificial já está presente na área da saúde e, num futuro não tão distante, estará tendo papel decisivo no monitoramento da saúde e acompanhamento de patologias. Alguns centros cirúrgicos de países mais desenvolvidos já executam cirurgias complexas através de robôs, sem a participação humana, bem como, realizam atendimentos de alta tecnologia com diagnósticos rápidos e precisos. Recente matéria publicada em 2022 noticiou que um robô realizou uma cirurgia laparoscópica experimental no intestino de um porco sem a participação direta do cirurgião. Certamente, este é um grande passo para a medicina e para o desenvolvimento tecnológico de inteligência artificial e automação. Projetado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, o Smart Tissue Autonomous Robot (STAR) permite automatizar uma das tarefas mais delicadas da cirurgia do aparelho digestivo que é a reconexão de duas extremidades de um segmento do intestino. Como cirurgião do Aparelho Digestivo, além de cirurgião bariátrico, sei que os procedimentos no aparelho digestivo tendem a ser longos e requerem um grande número de movimentos repetitivos e de alta precisão. O robô realizou o procedimento em quatro animais, gerando resultados semelhantes ao procedimento executado por humanos que exige que o cirurgião suture com alta precisão e consistência.

A IA é uma ferramenta potente para otimizar e aumentar a eficiência do sistema de saúde seja no armazenamento e cruzamento de dados, seja nos diagnósticos mas, o olhar humano, este é diferenciado, acolhe e aproxima. A máquina tem a sua importância, mas não podemos abolir a intuição e a percepção delicada do subjetivo no primeiro contato com o paciente.

É impressionante observarmos o quanto a tecnologia evoluiu nas últimas décadas e como estamos cada vez mais dependentes dela para a maioria das nossas atividades cotidianas. Desde então muitos se questionam qual será o futuro dessa relação homem X tecnologia. Será de domínio ou de submissão? Essa resposta de forma concreta para mim ainda é uma incógnita.

A experiência, a ética e o julgamento clínico humano são pilares essenciais para a prática médica. A tecnologia da robótica é utilizada em muitas cirurgias da obesidade mas, por trás do robô, há o profissional no controle da máquina. A robótica e IA são campos relacionados e não idênticos. A robótica se concentra na operação de robôs enquanto a Inteligência Artificial é utilizada para criar robôs mais avançados que possam realizar tarefas que façam uso da inteligência humana e que pensem, tomem decisões e resolvam problemas como humanos.

Diante da pretensão de humanizar robôs acredito que a utilização da Inteligência Artificial na saúde se destacará, num primeiro momento, na questão da organização de dados, relatórios e na celeridade dos diagnósticos, através de equipamentos modernos e tecnológicos. A IA, ao meu ver, aumentará a sua abrangência nestes quesitos dando suporte aos profissionais para a resolução dos problemas de saúde dos pacientes. O tratamento, seja através de medicamentos ou de um procedimento cirúrgico, deverá ter o veredicto do médico. No futuro, talvez em países mais avançados, é possível que a máquina substitua o homem.

Não podemos dar as costas aos avanços tecnológicos e sim, usufruirmos do melhor que eles possam nos oferecer em prol do bem-estar dos nossos pacientes. O equilíbrio entre a Medicina Humanizada e a Inteligência Artificial é o caminho mais viável para o sucesso de qualquer tratamento e cirurgia potencializando sempre os melhores resultados em prol da saúde. Viva a Inteligência Artificial! Viva a Medicina Humanizada!