Kosovo, um país a descobrir

Ricardo Spencer
Professor na escola de formacão profissional CIFP Audiovisual de Vigo, na Galícia, Espanha

Publicação: 31/07/2025 03:00

No ano passado, quando me ofereceram a possibilidade de viajar a Kosovo, através de um intercâmbio entre universidades, a proposta me pareceu uma  excelente oportunidade para conhecer o país mais jovem da Europa e tristemente conhecido pela guerra que  assolou o território, com início em fevereiro de 1998 até junho do ano seguinte. Na realidade, está reconhecido como nação soberana apenas por 108 países membros das nações unidas. Infelizmente, o Brasil e a Espanha se incluem entre os quais não o reconhecem como Estado independente. O que é uma pena, pois o país balcânico possui  extensos recursos minerais, um turismo emergente e está bastante empenhado em estabelecer relações comerciais internacionais. 

Localizado ao Norte da Albânia e ao Sul da Sérvia, possui cerca 1,8 milhão de habitantes, majoritariamente de religião islâmica, sendo 11% de cristãos católicos e ortodoxos. Viajando pelo país se pode notar a harmonia que existe entre distintas crenças. Os kosovares têm origem albanesa, sendo o albanês o idioma oficial. Tanto é assim que eles se consideram, com evidente orgulho, albano/kosovares.  Não escondem o forte sentimento de Nação livre e soberana e a sua origem dos antigos povos da Dardânia.

A guerra deixou marcas importantes no seu povo. Os massacres ocorridos há 27 anos durante a invasão sérvia logo depois da separação da extinta Iugoslávia são recordados em memoriais e cemitérios. Estão espalhados por todo o território, onde podemos ver túmulos de famílias inteiras, incluindo crianças e anciãos vítimas de execuções sumárias, segundo documentos oficiais. Foi então, quando a Otan interveio bombardeando as tropas do presidente Slobodan Milosevic, em junho de 1999, pondo fim ao conflito. Em 2008, o Kosovo declarou a independência, apesar de haver adotado de maneira unilateral o euro como moeda oficial desde 2002,  até  o presente momento.

Os kosovares são alegres, hospitaleiros e desfrutam do bom tempo dos meses do verão em bares e cafeterias ao ar livre. Ainda que seja um país muçulmano, não existe qualquer restrição quanto ao consumo público de bebidas alcoólicas. Nas mesas vemos homens e mulheres consumindo cerveja, vinho ou rakia, uma espécie de aguardente elaborada com pêssego ou uva. 

Principalmente no verão, existe um aumento substancial de pessoas nas ruas da capital Pristina. O motivo é o regresso dos emigrantes para passar as férias no país natal. A guerra de 1998 provocou a diáspora. Estima-se que cerca de 700 mil kosovares vivam no estrangeiro. Uma imagem que não difere muito de qualquer outra cidade europeia é a quantidade de pessoas que se pode ver à noite passeando pelo centro da cidade aproveitando as frescas temperaturas, distinto dos 30 graus durante o dia. Os kosovares têm um bom gosto na hora de vestir.  Mulheres de todas as idades gostam de estar bem maquiadas e são exuberantes. Os homens tampouco poupam esforços em andar na última moda. É uma sociedade jovem e moderna que procura obter o reconhecimento como povo que está em constante desenvolvimento. As empresas de extração mineral contam com importantes reservas de  zinco, chumbo, níquel, cromo, ouro e, especialmente, carvão, que é a terceira maior reserva do continente e também indústrias de produtos metálicos e plásticos.

Este ano fui convidado pela Universidade de Pristina, através do professor Blerim Gjinovci e da coordenadora Saranda Krasniqi, para realizar de 7 a 18 de julho um curso de efeitos especiais para cinema e TV para um grupo de alunos de diversas origens: Bósnia, Turquia, Albânia, Espanha, Malásia, Holanda, além de alunos kosovares. O curso faz parte de distintas atividades educativas e culturais dentro do PISU (Universidade Internacional de Verão de Pristina). As aulas visam aproximar o alunado da interpretação do roteiro para a planificação e execução de efeitos especiais utilizando técnicas alternativas e materiais de fácil aquisição.