O tarifaço e o cidadão comum

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e professor universitário

Publicação: 01/08/2025 03:00

O tarifaço imposto pelos Estados Unidos — com tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros — está longe de ser apenas uma disputa entre governos. Ele já começa a afetar diretamente o bolso e o cotidiano do cidadão comum no Brasil.

O anúncio do tarifaço de Trump em abril de 2025 reacendeu as tensões no comércio internacional e colocou o Brasil no centro de um cenário volátil. A medida prevê novas tarifas de importação que variam entre 10% e 50% sobre produtos de mais de 180 países — incluindo os brasileiros.

O tarifaço consiste em uma política comercial baseada no princípio da reciprocidade. Ou seja, os Estados Unidos passarão a tributar mais fortemente os produtos de países que, segundo o governo americano, já impõem tarifas elevadas sobre bens norte-americanos.

Apresentado como um mecanismo de equilíbrio no comércio exterior, a medida teria caráter protecionista, visando fortalecer a produção doméstica dos EUA e incentivar renegociações comerciais com seus parceiros, entre eles, o Brasil, mas medidas geram inúmeras polêmicas e insegurança no mercado financeiro.

Mais do que uma estratégia econômica, as “super tarifas” marcam o início de uma nova guerra comercial liderada pelos Estados Unidos, com consequências diretas para a balança comercial do Brasil e o setor produtivo nacional.

Algumas consequências serão vistas em curtíssimo prazo.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Com tarifas elevadas, os produtos brasileiros perdem competitividade lá fora.

O Brasil tem uma economia ainda fechada e vulnerável, o que amplifica os efeitos de medidas protecionistas como essa.

O que não pode haver no momento é a politização de medidas e de discursos.

A politização em momentos de crise econômica pode complicar ainda mais o cenário. Quando o foco se desloca do impacto real — como o desemprego, a inflação e a perda de poder de compra — para disputas ideológicas ou partidárias, quem mais sofre é o cidadão comum.

Com o dólar disparando após o anúncio, produtos importados e insumos ficam mais caros, pressionando os preços no mercado interno.

Para conter a inflação, o Banco Central mantém os juros altos (15% em julho de 2025), o que encarece empréstimos e compras a prazo.

Além do que o menor consumo e exportações em queda podem desacelerar a economia.

Produtos como carne bovina, café e suco de laranja — que o Brasil exporta em larga escala — podem ter seus preços alterados por causa da oferta e demanda internas.

Com inflação e juros altos, o salário do trabalhador perde valor real, dificultando o acesso a bens e serviços.

Estima-se que até 110 mil postos de trabalho podem ser eliminados, principalmente nos setores de agropecuária, comércio e indústria.

Indústrias como Embraer, WEG e exportadoras de carne e açúcar enfrentam queda nas vendas e podem reduzir produção.

E o que pode ser feito em curto prazo.

Priorizar soluções com base em dados, e não em narrativas políticas.

Explicar com clareza como cada medida econômica afeta a população.

Trabalhar com setor privado, estados e municípios para mitigar os efeitos do tarifaço.

Buscar canais diplomáticos e comerciais para reverter ou compensar as tarifas aplicadas pelos EUA.

Precisamos de saídas verdadeiras e concretas, pois não estamos diante de um partido político, estamos diante de cada cidadão brasileiro.