A relação especial com a Ilha de Deus Moradores do primeiro lugar visitado por Eduardo na campanha de 2006 acompanharam com consternação as notícias do acidente

Anamaria Nascimento
anamarianascimento.pe@dabr.com.br

Publicação: 14/08/2014 03:00

Comunidade era isolada do resto da cidade até passar por processo de urbanização. Moradores como Nalvinha da Ilha dizem que as obras trouxeram dignidade. Crianças preparam homenagens ao ex-governador (RAPHA OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS)
Comunidade era isolada do resto da cidade até passar por processo de urbanização. Moradores como Nalvinha da Ilha dizem que as obras trouxeram dignidade. Crianças preparam homenagens ao ex-governador
Os televisores das casas da Ilha de Deus, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, permaneceram ligados ontem durante todo o dia. Os olhares incrédulos dos moradores revelavam a relação que tinham com Eduardo Campos. Nos noticiários, a informação de que o político que mudou a face da comunidade havia morrido era acompanhada com consternação. Quando a morte foi confirmada, muitos deixaram suas casas, gritando a triste notícia. Minutos depois, ela foi anunciada por uma voz embargada na rádio comunitária, a Boca da Ilha.

Quem deu o aviso foi o comunicador social Edson Fly, um dos mais antigos moradores. Vive na Ilha de Deus desde que nasceu, há 40 anos. “Eduardo nos respeitou como seres humanos. Há uma ferida aberta no peito de cada um”, desabafou. A Ilha de Deus foi o primeiro lugar visitado por Eduardo Campos, em 2006, durante campanha ao governo do estado. Sem panfletos ou palanque, o então candidato visitou a comunidade a pé. Prometeu que, se eleito, voltaria para transformar a infraestrutura da área.

 (RAPHA OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS)
A promessa foi cumprida. Após ser empossado para o primeiro mandato como governador de Pernambuco, voltou à Ilha de Deus, desta vez com os secretários, e começou a tirar os compromissos do papel. O pontapé inicial da urbanização foi a construção da Ponte Vitória das Mulheres, em parceria com a Prefeitura do Recife.

Até então, a comunidade era isolada do resto da cidade e só se ligava com a Imbiribeira por uma precária ponte de madeira. “As pessoas só podiam ser socorridas em carros de mão, pois não chegava ambulância ou carro. A ponte trouxe dignidade para os moradores”, contou a líder comunitária Josenilda Pedro da Silva, a Nalvinha da Ilha. A ONG Centro Educacional Popular Saber Viver, que já existia na comunidade, passou a ser apoiada e a abrigar cursos profissionalizantes. O grupo de artesãs também recebeu suporte do estado.

Quase 500 casas foram construídas, tirando os moradores das palafitas. As ruas foram calçadas. Água na torneira, sonho antigo dos moradores, chegou em 2007. Também foram reconstruídas as sedes do centro de cultura Caranguejo Uçá e da Igreja Aprisco de Jesus. Posto de saúde, praças, escola municipal e creche foram erguidas. O projeto contemplou ainda iluminação pública, pavimentação e paisagismo. “Desde que ele decidiu transformar nossas vidas, tudo mudou”, disse Edson Fly.
As atividades no Caranguejo Uçá e no Centro Educacional Popular Saber Viver foram canceladas ontem. Foi decretado luto de três dias na comunidade.

 (RAPHA OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS)
Saiba mais

2
mil moradores

480
famílias

474
casas foram construídas na comunidade

5
tipos de casas, com até

3
quartos, adaptadas a necessidades especiais

1
unidade de saúde da família reformada

1
escola municipal e 1 creche construídas

1
ponte erguida em parceria com a Prefeitura do Recife

3
rios cercam a Ilha de Deus: o Beberibe, o Tejipió e o Jordão