As selfies que constrangem os políticos Autoretratos tirados por fãs ajudam a embalar a campanha, mas podem provocar saias justas em momentos delicados

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Publicação: 31/08/2014 03:00


As selfies, febre nas redes sociais, não poderiam deixar de atrair os políticos em plena campanha eleitoral. Dezenas de eleitores param os candidatos nas ruas com o objetivo de tirar fotos com o celular nas mãos, compartilhar com os amigos na internet e obter “curtidas”, termo usado pelos internautas. Quanto mais “curtidas”, melhor para quem está se expondo e para a liderança em cena. O difícil, no entanto, está sendo evitar situações delicadas. E são muitas.
Selfies são fotografias retiradas com celulares, na maioria das vezes, ou máquinas fotográficas, mas o diferencial é que são seguradas pela própria pessoa que está registrando aquele momento. Eles estão feitos por casais até para registrar momentos após o ato sexual, o chamado #aftersex, e publicados na internet, com algumas brincadeiras. Mas nem sempre é tão engraçado.
Em dezembro do ano passado, a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, ficou constrangida ao ver o marido – o próprio Obama – fazer um autoretrato ao lado da primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning Schmidt e do primeiro-ministro britânico, David Cameron, no velório de Nelson Mandela. Jornais registraram que houve uma cena de ciúme de Michelle e indelicadeza de Obama ao tirar foto sorrindo num funeral.
Bem aqui, abaixo da linha do Equador, especificamente em Pernambuco, a situação não é diferente. Num dos dias da greve de ônibus, em 22 de agosto, o senador licenciado Armando Monteiro (PSB) estava numa estação de metrô, conversando com passageiros, e foi pego de surpresa por uma mulher que lhe pediu uma selfie. Armando, com o semblante tenso, disse “sim”, ao lado de uma sorridente eleitora.
 No velório e enterro do ex-governador Eduardo Campos, também não faltaram saias justas com a família do ex-presidenciável e aliados que passaram por lá. Caminhando em direção ao cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife, uma mulher viu seguranças cercando um político e pediu para fazer um autoretrato, sorridente. Depois de conseguir a proeza, a mulher perguntou: “quem é?”, ficando radiante ao saber que se tratava do governador do Ceará, Cid Gomes.
Em outra situação delicada, no mesmo velório de Eduardo, outra mulher tirou uma foto de si mesma sorrindo com o caixão ex-governador ao fundo. Virou meme, algo que se espalha na internet com dimensão, tendo a imagem prejudicada. Segundo o doutor em Comunicação e Semiótica, professor da Universidade Presbiteriana Mackensie, Celso Figueiredo, os políticos não têm como se proteger desse fenômeno. “É aceitar ser fotografado e seguir adiante”, declarou ao Diario.
Celso Figueiredo lembrou, contudo, que as selfies viram um fenômeno tão expressivo ao ponto do dicionário Oxford ter incluído sua definição em 2014, “tendo sido considerada a palavra do ano”. Ele ressaltou não haver um perfil específico dos que fazem autoretratos e postam na internet. “As situações delicadas parecem especialmente apelativas paras as pessoas que decidem tirar essas fotos. Cai então o senso de ridículo ou de propriedade de fazer um retrato em situações que exigem compostura”, declarou.