Josué Nogueira
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Publicação: 31/08/2014 03:00
Mesmo ocupando apenas 8,7% das cadeiras no Congresso Nacional, 12,8% das prefeituras nacionais e 7,4% dos governos estaduais, as mulheres representam 52% dos 143 milhões de votantes que compõem o eleitorado brasileiro. Somada à pouca representatividade, elas ainda concorrem com os homens num quesito nem um pouco abonador: a utilização dos laços familiares para a inserção na vida pública. Na lista de candidatos proporcionais deste ano em Pernambuco os nomes femininos que surgem com maiores chances têm sobrenomes associados à política estadual (veja quadro). E, assim como acontece entre eles, o filhotismo justifica muitas das candidaturas. Já o lançamento de esposas, tendência em evolução, mostra como os laços de parentesco se diversificam, sem jamais fazer discriminação sexual.
A prática reproduz o patriarcalismo “às avessas”, segundo avalia Izabel Santos, coordenadora do Centro das Mulheres do Cabo, organismo não governamental que atua na formação política de mulheres na Região Metropolitana do Recife. Para ela, na maioria dos casos, as mulheres que ganham mandato por prestígio familiar são escolhidas apenas pela falta de herdeiros do sexo masculino na família. Isso, segundo ela, reforça a prevalência dos homens. “Elas garantem o espaço do pai ou marido, que pode estar se desligando (da vida pública) ou impedido de concorrer. Por isso, na maioria das vezes, exercem um mandato com pouca autonomia. O comando fica com os padrinhos, que manipulam os mandatos”, diz.
Por outro lado, a pressão que existe sobre as mulheres que são eleitas por caminhos desvinculados dos laços familiares demonstra o quanto o machismo impera na vida pública. “Estas são muito mais cobradas e sempre colocadas à prova. Mesmo com uma mulher na Presidência da República, a política segue sendo um universo destinado a homens. As próprias mulheres acreditam que não sabem ou não podem”.
A transformação dessa realidade, obrigando os partidos a apresentar igual número de candidatos homens e mulheres, é um dos pontos propostos na mobilização que os movimentos sociais iniciam nesta segunda-feira (1º) em todo o país. Até o dia 7, cerca de 400 entidades, entre elas CNBB e OAB coletarão assinaturas para a apresentação de um projeto popular de reforma política e promoverão um plebiscito popular propondo uma reforma geral no próprio sistema político do Brasil. “Queremos que a votação seja em lista fechada e que haja paridade entre os sexos. Só assim teremos o crescimento da participação das mulheres na política. Foram essas mudanças que possibilitaram o crescimento de 40% da presença das mulheres na política em países da América Latina, como Argentina e Chile”, destaca Silvia Camurça, coordenadora do Fórum de Mulheres de Pernambuco.
Saiba mais
Afilhadas e padrinhos
Simone Santana (PSB)
Candidata a deputada estadual. Tem 51 anos, é médica e esposa do prefeito de Ipojuca, o ex-deputado Carlos Santana (PSDB)
Raquel Lyra (PSB)
Concorre à reeleição para a Assembleia Legislativa. Tem 35 anos e é ex-secretária estadual da Criança e Juventude. É filha do governador de Pernambuco, João Lyra (PSB)
Laura Gomes (PSB)
Deputada estadual, disputa a reeleição. Tem 61 anos. Foi secretária estadual de Direitos Humanos. É casada com o vice-prefeito de Caruaru e ex vice-governador Jorge Gomes (PSB).
Priscila Krause (DEM)
Vereadora do Recife, concorre a vaga na Assembleia Legislativa. Tem 36 anos, é jornalista. É filha do ex-governador e ex-prefeito do Recife Gustavo Krause.
Aline Mariano (PSDB)
Disputa cadeira de deputada estadual, é vereadora do Recife. Tem 39 anos. É filha do ex-deputado estadual Antônio Mariano.
Izabel Urquiza (PMDB)
Pleiteia vaga na Assembleia Legislativa. Tem 36 anos, é bancária e filha da ex-deputada estadual e prefeita de Olinda Jacilda Urquiza (PMDB).
Andrea Lossio (PMDB)
Concorre a cadeira de deputada federal. Tem 40 anos e é esposa do prefeito de Petrolina, Julio Lossio (PMDB).
Isabella de Roldão (PDT)
Vereadora do Recife, busca vaga na Câmara dos Deputados. Tem 39 anos e é filha do ex-deputado, ex-conselheiro do TCE, ex-secretário Desenvolvimento Social e presidente da Agência Reguladora de Pernambuco, Roldão Joaquim.