Um novo jogo, o mesmo tabuleiro Avanço dos socialistas Paulo Câmara e Marina Silva nas pesquisas obrigou os concorrentes a repensarem estratégias

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Publicação: 31/08/2014 03:00


A reviravolta nas eleições provocada pela morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB) e a entrada de Marina Silva (PSB) na disputa pelo Palácio do Planalto devem forçar uma revisão constante na estratégia dos candidatos em todo país a 35 dias do eleitor ir às urnas. Em Pernambuco, o nome indicado pelo PSB para concorrer ao governo do estado, Paulo Câmara, embalou tanto nas pesquisas que o ex-presidente Lula (PT) marcou uma vinda ao estado nesta quinta-feira para participar de atos políticos em Petrolina e no Recife. Lula vem reforçar a campanha do senador licenciado Armando Monteiro Neto (PTB) e da própria presidente Dilma Rousseff (PT), que está perdendo terreno no Nordeste.

Se no cenário nacional a disputa mudou completamente, com um empate técnico entre Dilma e Marina, que apareceram com 34% de intenções de votos na pesquisa Datafolha divulgada sexta-feira passada, a eleição estadual deve ficar acirrada no mesmo nível. Paulo Câmara tem maior tempo no guia eleitoral e teve uma exposição grande na mídia e nas ruas após a morte do ex-governador.

O acidente que provocou a morte de Eduardo ainda é um dos principais assuntos comentados nas disputas estadual e nacional. O falecimento do ex-governador vem provocando não só discussões religiosas, comum em estados do Nordeste, como incitando versões de tramas políticas que o teriam vitimado, algo que está sendo descartado pelos especialistas em acidentes aéreos.

O candidato ao Senado pelo PT, João Paulo, chegou a dizer na última quinta-feira que Paulo Câmara queria se passar por Eduardo e explorar a comoção do momento ao máximo. Armando Monteiro, por sua vez, pediu que os eleitores não votassem apenas pela emoção. “É preciso que se acompanhe o desempenho daquele representante. É importante não votar porque um amigo pediu, de não fazer do voto um instrumento de homenagem”, declarou o trabalhista.

Lideranças do PTB, como o deputado federal Silvio Costa, dizem não haver necessidade nenhuma de mudança na estratégia, porque já contavam com o crescimento de Câmara. Mas se realizou uma reunião entre os candidatos que apoiam Armando na última sexta-feira para que a campanha na Região Metropolitana do Recife, que concentra 40% dos eleitores, seja reforçada nessa reta final. O discurso de Armando vai enfatizar, nos próximos dias, o seu próprio perfil, de uma pessoa que transita bem com empresários e trabalhadores, e criticar o uso eleitoral da morte do ex-governador.

Otimismo
Já o prefeito do Recife, Geraldo Julio, informou não haver necessidade de mudança de estratégia na campanha de Paulo Câmara, que vem num ritmo de crescimento semelhante ao seu, em 2012. O prefeito demonstrou otimismo no desempenho do candidato socialista, ressaltando que apenas 50% dos eleitores conhecem o correligionário, resultado que abre margem para um aumento maior no percentual de intenções de votos.

“Vamos continuar apresentando as propostas, esclarecendo a população que o escolhido por Eduardo é Paulo Câmara… Esse episódio triste abriu o debate eleitoral no Brasil e no estado. Eduardo conseguiu plantar no país a semente da esperança”, declarou o gestor, sinalizando que o mote da campanha socialista continuará o mesmo.

Saiba mais

Argumentos que serão usados contra Marina

Inexperiência administrativa
A candidata do PSB já começou a ser questionada ao longo do fim de semana sobre o fato de nunca ter tido experiências como governante. Ela foi ministra por cinco anos e meio e senadora pelo PT

Falta de quadros para governar
Tanto PSB quanto a Rede Sustentabilidade (que nem sequer foi criada) teriam poucos nomes técnicos e políticos para formular propostas ao país

Falta de sustentabilidade política
O PSB tem uma coligação pequena. O discurso contra o formato político atual dificulta uma política de alianças que dê estabilidade parlamentar para que Marina implante as medidas que julgar necessárias

Avião suspeito
O PSB está enrolado para explicar de quem é o jato que caiu em 13 de agosto, matando Eduardo Campos e outros integrantes da campanha do candidato socialista

Intransigência
Marina é conhecida por ser pouco conciliadora. Durante o governo Lula, deixou a pasta após desavenças com Dilma Rousseff (ministra da Casa Civil) e Mangabeira Unger (ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos). Filiou-se ao PV e deixou o partido por discordância com a cúpula verde. Assim que foi confirmada como candidata do PSB, praticamente todo o comando de campanha socialista acabou substituído

Ambiguidade no discurso
Marina ainda passa a impressão de não saber conciliar o discurso da sustentabilidade com o crescimento econômico. Adversários e empresários têm vivo na memória as críticas feitas por ela à construção de algumas rodovias e hidrelétricas do PAC

Discurso econômico básico
A socialista não apontaria os meios para retomar o crescimento econômico, limitando-se a propor a retomada do tripé câmbio flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal

O contra-ataque de Marina

Marina Silva conseguiu capitalizar o discurso da “nova política” de Eduardo Campos. Ela vai continuar usando os movimentos de junho do ano passado contra o PT que, para ela, não ouviu o clamor das ruas.

Taxada de deixar a religião prevalecer sobre o estado laico, Marina lançou, no programa de governo, uma pauta para beneficiar o público LGBT. O programa prometeu ampliar o atendimento no SUS às mulheres que “interrompem a gravidez” e dar “igualdade” aos direitos civis no união entre casais do mesmo sexo.

Criticada pela intransigência, Marina reuniu-se na quinta com o setor sucroenergético, dando razão às queixas dos usineiros, e na sexta-feira com o setor do agronegócios. Esse era visto como um dos pontos nevrálgicos até mesmo dentro do PSB. O vice de Marina é um dos principais representantes do agronegócio.

Intenções de voto por região da pesquisa Ibope do dia 26/08

Candidatos    Nordeste    Centro-Oeste/Norte    Sudeste    Sul   
Dilma Rousseff (PT)    46    38    27    31
Marina Silva (PSB)    27    29    30    27
Aécio Neves (PSDB)    11    16    25    18
Pastor Everaldo (PSC) 1    1    1    2
Luciana Genro (Psol)    0    0    1    1
Demais candidatos    1    2    2    1
Branco/Nulo    7    7    7    8
Não responderam    7    7    8    11

Percentual dop eleitorado brasileiro por região
Sudeste 43,2%
Nordeste 27,1%
Sul 14,7%
Norte 7,5%
Centro-Oeste 7,1%