Uma referência da sua geração Um dos mais renomados criminalistas do país, Márcio Thomaz Bastos morreu ontem, em decorrência de problemas pulmonares

Publicação: 21/11/2014 03:00

Familiares e amigos foram ao velório do ex-ministro da Justiça, que morreu ontem (RENATO MENDES/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO)
Familiares e amigos foram ao velório do ex-ministro da Justiça, que morreu ontem
Aos 79 anos, o ex-ministro da Justiça e o advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos deixa a vida para entrar para a história, como ele mesmo um dia previu ao promover a reforma do Poder Judiciário e a revolução na Polícia Federal. Thomaz Bastos se orgulhava ao dizer a amigos que seria reconhecido como o ministro que concedeu autonomia à corporação. Era considerado um dos mais influentes advogados de uma geração de criminalistas a participar ativamente do processo de redemocratização do país. Na manhã de ontem, o ex-ministro morreu. O corpo dele será cremado hoje, em São Paulo.

O dia mal começara ontem quando a notícia de sua morte fora replicada em todos os meios de comunicação. Prematuramente, o Brasil perdia um profissional com alma de jurista, apaixonado pela advocacia. “Não tenho vocação de juiz. Eu nunca ia ser um bom juiz. Eu sou parcial. Eu escolho lado. Não tenho aquela distância dos fatos”, afirmou, certa vez. Tanta paixão o motivou a fundar, em 1996, o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), uma organização não-governamental que ajudava pessoas carentes a ter direito à defesa. Aliás, o “sagrado direito à defesa” era um dos lemas repetidos pelo ministro, que na carreira optou por defender casos polêmicos e até bem impopulares.

A causa da morte de Márcio Thomaz Bastos foi a descompensação de fibrose pulmonar, doença irreversível nos pulmões na qual o tecido pulmonar vai gradativamente tendo aumento de fibras como parte do processo de cicatrização do órgão debilitado. Casado havia quase 50 anos, deixou a mulher Maria Leonor de Castro Bastos, a filha, Marcela, e netos.

Nascido em Cruzeiro (SP), Bastos estudou em escolas públicas e formou-se advogado. Em 1979, numa palestra no ABC paulista, conhecera o então líder sindical Lula, que mais tarde o convidaria a ser o ministro da Justiça em sua gestão como presidente da República. Bastos fez questão de apoiar o amigo nas corridas ao Palácio sustentando que um operário não somente poderia, como deveria ser presidente.

Bastos apoiou a ditadura militar, mas  como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) de 1983 a 1985, se aproximou dos movimentos sociais. Participou das Diretas-Já. Na década de 1990, colaborou com a redação da petição do impeachment de Collor.  (Do Correio Braziliense)

Casos célebres
Relembre a atuação do advogado desde a década de 1980:

Chico Mendes
Thomaz Bastos foi um dos assistentes da acusação no caso do assassinato do ativista ambiental Chico Mendes, morto em 1988.

Universal
Em 1992, o advogado atuou na defesa do bispo da Igreja Universal Edir Macedo, que na época estava preso preventivamente sob suspeita de estelionato, curandeirismo e charlatanismo.

Índio Galdino
Conhecido também por assumir casos impopulares, Thomaz Bastos defendeu os jovens acusados de incendiar o índio Galdino Jesus dos Santos, em 1997, causando-lhe a morte. Com exceção de um adolescente, os quatro maiores de idade acusados foram condenados a 14 anos de prisão.

Calourada
Uma das defesas mais polêmicas feitas pelo ex-ministro foi a dos dois estudantes acusados de afogar e matar o calouro de Medicina da USP Edison Tsung Chi Hsueh. O caso foi arquivado em 2006.

Pimenta Neves
Thomaz Bastos trabalhou na acusação no caso Pimenta Neves. Réu confesso, o jornalista foi condenado por assassinar sua ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide.

Roger Abdelmassih
Em 2009, o advogado assumiu a defesa do médico Roger Abdelmassih, dizendo que “a denúncia é fruto da criatividade intelectual” do MP. Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão por crimes sexuais contra 37 mulheres.

CPI do Cachoeira
O ex-ministro defendeu o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, durante o escândalo da Operação Monte Carlo. O escritório, porém, deixou a defesa do acusado posteriormente.

Thor
Em 2013, Thomaz Bastos defendeu o filho do empresário Eike Batista, Thor Batista, no caso do atropelamento de um ciclista. A família Batista fez um acordo de R$ 630 mil com familiares da vítima.

Mensalão
Em 2012, o escritório de advocacia do ex-ministro atuou em favor de ex-dirigentes do Banco Rural, envolvidos na Ação Penal 470, conhecida como mensalão.

Lava-Jato
Mesmo internado, o ex-ministro coordenava a defesa da Camargo Corrêa e da Odebrecht, duas empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato, que investiga um esquema bilionário de desvios de dinheiro da Petrobras.