O efeito Lava-Jato nas disputas municipais Especialistas acreditam que os desdobramentos do petrolão terão grande peso nas eleições de outubro

Publicação: 15/08/2016 03:00

 (Silvino/DP (arte))
A Operação Lava-Jato, desencadeada em março de 2014, vai influenciar diretamente, sobretudo nos grandes colégios eleitorais, as eleições municipais marcadas para outubro. Há dois anos, durante a corrida presidencial que reelegeu a presidente Dilma Rousseff (PT), os efeitos foram bem menores porque os investigadores ainda não tinham chegado diretamente ao chamado núcleo político do esquema. A conclusão é de cientistas políticos ouvidos pelo Correio Braziliense/Diario. Eles acreditam que, agora, a operação pode levar a um maior índice de votos brancos e nulos e até de abstenções por servir de combustível para potencializar um descrédito histórico na classe política brasileira. Apesar de envolver uma gama variada de partidos políticos, todos são enfáticos em apontar o PT como o maior prejudicado pelos efeitos das investigações.

O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Calmon diz, porém, que é preciso levar em consideração as especificidades de cada disputa eleitoral. “Há uma dúvida, no entanto, em relação a essa influência no voto de cada eleição específica. Os efeitos, por exemplo, podem ser ignorados na disputa em Salvador ou em Curitiba porque ambos os candidatos estão igualmente envolvidos, falando de maneira hipotética.”

Calmon acredita que a Lava-Jato será responsável por abrir uma grande oportunidade para grupos que contestam a estrutura política atual no país. “Obviamente, vai existir alguma influência na medida em que boa parte da elite política brasileira está diretamente envolvida em episódios relacionados de alguma maneira à Operação Lava-Jato. Seja envolvimento individual, seja dos partidos, a população está influenciada por essa marca de desconfiança do sistema político e partidário. Afeta porque o prestígio dos partidos, e o político em geral, está abalado”, diz.

Ele faz uma leitura de que haverá uma potencialização da descrença na classe política. “Acho que esse é um elemento que contribui para desinteresse e descrença em relação aos políticos. E isso, inegavelmente, fortalece a tendência de as pessoas ignorarem a eleição. É muito ruim. Sobra para todos os partidos, mas o PT será o mais afetado.”