Déficit de imagem dos partidos

Publicação: 15/08/2016 03:00

O doutor em ciência política pela UnB Leonardo Barreto avalia que o PT começou a pagar a conta da Lava-Jato antes mesmos das eleições. “A operação já influenciou, a começar pela mudança da Presidência da República. Agora, a expectativa é de que candidatos do PMDB ou apoiados pelo partido possam ter uma vantagem por ter acesso a recursos que não tinham antes”, diz. Ele analisa que o déficit de imagem do partido é grande e isso respinga em seus candidatos. “A consequência direta é a redução do PT, que terá um deficit de imagem importante, em algumas regiões mais e outras menos. Uma quantidade grande de petistas deixou o partido. A sigla começou a pagar a conta mesmo antes de disputar o processo eleitoral”, avalia.

Barreto acrescenta que a Lava-Jato já produziu um fato importante para as eleições municipais deste ano. “Uma inferência indireta é que os desdobramentos da operação são responsáveis por fazer o Supremo Tribunal Federal (STF) adotar postura contrária ao financiamento privado de campanha. É, sem dúvida, um filhote da Lava-Jato. A proibição do financiamento privado tem um impacto grande nas eleições. Vai valorizar aqueles que tentam a reeleição por ter a máquina pública. Também valoriza os pastores e sindicalistas porque precisam de menos recursos”, declarou.

O cientista político avalia a apatia do eleitorado diante de tantas denúncias contra políticos. “Não me surpreenderia se o número de brancos e nulos aumentasse. Já temos uma base de desconfiança muito forte. Você já tem consolidado um grau de abstenção e de votos brancos e nulos. É possível que se tenha um incremento, mas é difícil de estimar.”

Em 2006, os efeitos do mensalão não foram suficientes para impedir a reeleição do presidente Lula. A avaliação é de que a impressionante força política do petista, na época, e um governo muito bem avaliado reduziram a quase nada os desdobramentos do escândalo de compra de apoio parlamentar. Já os candidatos proporcionais em 2006 citados na Operação Sanguessugas amargaram derrotas políticas. Dos 64 deputados e três senadores que responderam a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) e foram candidatos, a grande maioria passou longe do número necessário de votos para garantir o retorno. Apenas seis citados no caso conseguiram se eleger.

A investigação do núcleo político da Lava-Jato começou em março de 2015, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou 28 petições ao Supremo para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 eram titulares de foro por prerrogativa de função.

A expectativa é de que a Lava-Jato tenha maior influência em grandes cidades. “Normalmente, as eleições municipais se concentram em temas locais. Os assuntos nacionais quase não aparecem. É mais provável que apareça com mais força nos grandes colégios”, atesta Barreto.

Doutor em ciência política e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Rui Tavares Maluf diz que é difícil fazer um diagnóstico certeiro hoje, mas que a Lava-Jato deve produzir um eleitorado mais atento à lisura dos candidatos. “Não se pode ainda fazer uma afirmação fechada sobre isso, mas é evidente que não há como ignorar o peso da Lava-Jato e todos os processos de investigação contra os políticos. Nestas eleições, uma parcela do eleitorado estará mais sensível à lisura dos candidatos, à trajetória na vida pública. O filtro da ética tende a ser bem maior. Tem que pesar muito bem, porque, de uma certa forma, todo mundo está envolvido”, ponderou.