PT amarga uma derrota histórica Resultados mostram que legenda perdeu cerca de 400 prefeituras em todo o Brasil, afora espaço entre eleitores dos maiores colégios eleitorais

Silvia Bessa
silviabessa.pe@dabr.com.br

Publicação: 03/10/2016 03:00

Nas capitais, PT teve apenas dois bons resultados: em Rio Branco/Acre, e no Recife (Rafael Martins/DP)
Nas capitais, PT teve apenas dois bons resultados: em Rio Branco/Acre, e no Recife
O Partido dos Trabalhadores, o PT, é o maior derrotado das eleições municipais de 2016. Teve o pior desempenho dos últimos doze anos. A legenda, que na disputa de 2012 elegeu 635 prefeitos (11% do total dos 5.568 do Brasil), até 21h30 de ontem só havia conseguido dar a vitória a 204 prefeitos - ou 4% do país. Restava a apuração de 620 municípios. Somente em 2000, o PT elegeu menos prefeitos que agora: foram 187. Desta vez o enfraquecimento da legenda nas capitais torna o fracasso mais retumbante.

O revés nos maiores colégios eleitorais deve ser medido a partir de São Paulo: candidato à reeleição, o prefeito petista Fernando Haddad não só ficou na segunda colocação, com apenas 16,70% dos votos, como viu seu principal adversário, João Dória (PSDB), ganhar em primeiro turno com mais de dois milhões de votos de vantagem. O significado do placar será sentido internamente, com a tendência de debandada gradativa no final de gestão e com a ascensão do grupo de Geraldo Alckmin, patrono de Dória.

No Rio de Janeiro, município com quase cinco milhões de eleitores, este ano o PT sequer apresentou candidato próprio. O mesmo aconteceu em Salvador, na Bahia. Das 19 capitais onde teve representante, o PT só conquistou uma disputa no primeiro turno. Foi com a reeleição de Marcus Alexandre (54,87% dos votos), em Rio Branco, no Acre. Em 2004, elegeu quatro nas capitais.

O PT conseguiu levar a disputa para o segundo turno somente aqui no Recife, com o ex-prefeito João Paulo tendo conquistado 23,76% dos votos para uma disputa contra o candidato à reeleição, Geraldo Julio (PSB). A votação do Recife deve ser comemorada por petistas. É comum se dizer que segundo turno é uma disputa iniciada do zero. A depender do tom e clima da campanha, uma verdade. Mas  lembra-se  que a diferença de votos nominais para Geraldo Julio e João Paulo ficou em 223 mil votos.

Para o PT, o balanço das capitais indica ainda resultados muito negativos, como de Porto Alegre (RS), onde havia expectativa de que o correligionário Raul Pont fosse para um segundo turno. Pont amargou o terceiro lugar, com 16,37% dos votos. O mesmo aconteceu em Fortaleza (CE), onde a ex-prefeita Luiziane Lins acabou com 15,06% da preferência do eleitorado, em terceiro lugar. Cita-se vários resultados pífios, como em Belo Horizonte (Minas Gerais, onde Reginaldo Lopes ficou com 7,27%), Goiânia (GO), Palmas (TO), Campo Grande (MS) Petistas ficaram em terceiro e até sétimo lugar (é o caso do Macapá, no Amapá). Hoje o PT governava três capitais brasileiras: Goiânia, Rio Branco e São Paulo.

No berço do PT, o estado de São Paulo, derrotas simbólicas devem ser contabilizadas nas eleições deste ano. A sigla perdeu em São Bernardo, em Osasco e em Guarulhos. Em São Bernardo, nem mesmo o filho de Lula, Marcos Lula, conseguiu reeleger-se vereador. Marcus ficou em 58º lugar, com 1.504 votos. Candidatos do PT da legenda terão de enfrentar segundo turno em Santo André e Mauá. Venceu apenas em Franco da Rocha e Araraquara.

Ontem, nem mesmo tinham sido divulgados os placares, e o presidente nacional do Democratas, senador José Agripino, já jogava o PT para a opinião pública: “Os resultados destas eleições mostrarão em definitivo se os brasileiros vão referendar o PT como partido ou se vão recusá-lo”, disse.

Na primeira eleição após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e denúncias que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - principal liderança do partido, o que as urnas mostraram foi o reflexo de crises política e econômica prolongadas. Provaram em estatísticas que os escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato abalaram mais que pessoas. Foram avassaladores para as instituições. Destacam-se as partidárias.

O PT nas capitais X resultados

RECIFE (PE)    proporção de votos    número de votos   
Geraldo Júlio (PSB)    49,34%    430.997     
João Paulo (PT)    23,76%    207.529     2º colocado   

FORTALEZA (CE)   
Roberto Cláudio (PDT)    40,81%    524.973     
Capitão Wagner (PR)    31,15%    400.802    
Luiziane Lins (PT)    15,06%    193.687     3ª colocada   

MACEIÓ (AL)   
Rui Palmeira (PSB)    46.86%    197.134     
Cícero Almeida (PMDB)    24,73%    104.036     
Paulão (PT)    2,44%    10.267     5º colocado   

JOÃO PESSOA (PB)   
Luciano Cartaxo (PSDB)    59,67%    222.689     
Cida Ramos (PSB)    33,54%    125.146     
Professor Charliton (PT)    4,43%    16.526     3º colocado   

NATAL (RN)   
Carlos Eduardo (PDT)    63,42%    225.741     
Kelps (SD)    13,37%    47.576     
Fernando Mineiro (PT)    10,15%    36.123     3º colocado   

SÃO PAULO (SP)   
João Doria (PSDB)    53,29%    3.085.181    
Fernando Haddad (PT)    16,70%    967.187     2º colocado

PORTO ALEGRE (RS)   
Nelson Marchezan (PSDB)    29,84%    213.646    
Sebastião Melo (PMDB)    25.93%    185.655    
Raul Pont (PT)    16.37%    117.225     3º colocado   

BELO HORIZONTE   
João Leite (PSDB)    33,40%    395.952    
Kalil (PH)    26,56%    314.845    
Reginaldo  Lopes (PT)    7,27%    86.234     4º colocado   

MANAUS (AM)   
Artur Neto (PSDB)    35,17%    364.485     
Marcelo Ramos (PR)    24,86%    257.689     
José Ricardo (PT)    10,99%    113.936     4º colocado   

PORTO VELHO (RO)   
Dr.Hildon (PSDB)    27,20%    58.964     
Léo Moraes (PTB)    26,12%    55.656     
Roberto Sobrinho (PT)         26.629      Votação não é válida para candidato porque ele está inelegível

PALMAS (TO)   
Amastha (PSB)    52,38%    68.634    
Raul Filho (PR)    31,43%    41.191     
Zé Roberto (PT)    3,71%    4.865     4º colocado   

RIO BRANCO (AC)   
Marcus Alexandre (PT)    54,87%    104.311     1º colocado   
Eliena Sinhasique (PMDB)    32,02%    60.871     

BOA VISTA (RR)   
Teresa (PMDB)    79,39%    121,148     
Sandro Baré (PP)    9,42%     14.378     
Roberto Ramos (PT)    3,83%    5.841     3º colocado

GOIÂNIA (GO)     
Iris Rezende (PMDB)    40,47%    227.074     
Vanderlan (PSB)    31,84%    217.981     
Adriana Acoorsi (PT)    6,73%    46.103     5ª colocada   

MACAPÁ (AP)   
Clécio (Rede)    44,59%    95.129     
Gilvan Borges (PMDB)    26,37%    56.256     
Dora Nascimento (PT)    1,02%    2.174     7ª colocada   

CAMPO GRANDE (MS)   
Marquinhos Trad (PSD)    34,57%    147.694     
Rose Modesto (PSDB)    26,62%    113.738     
Alex do PT (PT)    1,99%    8.482     6º colocado   

CURITIBA (PR)   
Rafael Greca (PMN)    38,38%    356.539     
Ney Leprevost (PSD)    23,66%    219.727     
Tadeu Veneri (PT)    4,28%    39.758     6º colocado   

BELÉM (PA)   
Zenaldo Coutinho (PSDB)    31,02%    241.166    
Edmilson (PSOL)    29,50%    229.343     
Regina Barata (PT)    1,71 %    13.332     6º colocado   

VITÓRIA (ES)   
Luciano (PPS)    43,82%    81.315     
Amaro Neto (SD)    35,32%    65.554     
Perly Cipriano (PT)    3,48%    6.461     4º colocado   

* Os resultados acima listam  apenas os dois candidatos mais votados das eleições. Em alguns casos, foram incluídos os candidatos do PT das capitais onde os representantes do Partido dos Trabalhadores não ficaram entre os preferidos do eleitorado

Fonte: Justiça Eleitoral