Engajamento desperta amor e ódio

Publicação: 22/07/2017 03:00

Depois de enfrentar a ditadura com metáforas e subir com orgulho no palanque das Diretas Já - movimento que começou em 1983 - os artistas enfrentam agora a fase de intolerância, bem conhecida por qualquer brasileiro. Os simpatizantes do PT são chamados de “petralhas” ou “comunistas”, como o próprio Chico, enquanto os favoráveis ao PSDB são chamados de “coxinhas”, como Luciano Huck. A intolerância não poupa os famosos, cujo último engajamento mais emblemático aconteceu há cerca de 35 anos.

O que diferencia o movimento dos artistas na defesa das Diretas Já de 2017 e daquele vivido na década de 1980 é a polarização. Na década de 1980, houve uma unidade entre todas as forças políticas e lideranças como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Ulisses Guimarães (PMDB) e Leonel Brizola (PDT) estavam juntas por um objetivo - permitir ao povo a escolha de um presidente. Não havia divisão entre os artistas que subiam ao palco para emocionar as multidões. Num comício realizado em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1984, diante de aproximadamente 300 mil pessoas, estavam juntos Fafá de Belém, Gilberto Gil, Alceu Valença, Chico Buarque, Regina Duarte e Fernanda Montenegro.

Hoje, embora exista uma característica muito semelhante àquela época - o fim do milagre econômico - os artistas estão divididos entre os palanques. E ainda existe uma apatia na população, diferente da esperança que tomava as ruas há mais de 30 anos. Os artistas do primeiro movimento Diretas Já distinguiam os políticos entre vilões e mocinhos, sobrando para o MDB o papel de herói. Agora, uma parte não sabe quem é o mocinho e alguns têm medo de externar sua posição política para não gerar repercussões negativas na internet. O patrulhamento é diário.

O cantor Flávio Augusto Câmara, conhecido no meio artístico como China, diz que é preciso se posicionar. China fez parte do Manguebeat, um movimento de contracultura pernambucano. “Antes de ser artista, a gente é povo também e está indignado com tudo isso, porque estamos sendo feitos de besta”, declarou. “Acredito que a movimentação das pessoas que acabam sendo formadoras de opinião ajuda o debate”, declarou, contando que tem ido a várias manifestações na Avenida Paulista como cidadão.

“Acredito na necessidade de se modificar as coisas no Brasil. Não é só Temer. A gente precisa recuperar a honestidade. É importante que a sociedade participe de tudo mesmo que tenha posicionamento político diferente”, disse o baixista Almir de Oliveira, do Ave Sangria, banda psicodélica que teve um LP censurado na ditadura. (A.M)