Os artistas na linha de frente Mobilização se fortaleceu após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a posse de Michel Temer (PMDB)

Aline Moura
aline.moura@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/07/2017 03:00

Com o poder de emocionar as pessoas, seja no palco ou na televisão, artistas brasileiros decidiram adotar um papel ativo para mudar a realidade política do país, mergulhado numa crise desde a reeleição de Dilma Rousseff (PT) e a posterior posse de Michel Temer (PMDB). Sem cobrar cachê, eles vestiram a roupa das ruas para defender as Diretas Já, articular uma candidatura presidencial para 2018 e cobrar que os parlamentares votem a favor da denúncia contra Temer. Se os artistas que lutaram contra a ditadura correram o risco de serem torturados e tachados de subversivos, os de agora têm o desafio de espantar a apatia que tomou conta da sociedade e reduzir o ambiente de intolerância. Cantores, atores, cineastas e tantos outros famosos vivem o desafio de se inspirar na realidade e reinventá-la.

O esfoço da classe artística para mudar as regras do jogo tem explodido na internet e nas ruas. Um grupo de atores e cantores influentes tem feito contagem regressiva e divulgado no site www.342agora.org.br o nome dos deputados federais que vão votar a favor ou contra a denúncia de corrupção passiva apresentada contra Temer. A página virtual divulgou depoimentos em vídeo de estrelas como Caetano Veloso, Renata Sorrah, Wagner Moura, Aline Moraes, Adriana Esteves, Sônia Braga, Fernanda Lima e Otto - todos cobrando a abertura das investigações contra o presidente. “#342 agora. Se informe e pressione os deputados para que Michel Temer seja julgado!”, diz um trecho da apresentação do site, que se considera “apartidário”, termo usado para evitar polarizações que tirem o foco do debate.

Essa não é a primeira provocação política dos que atraem, naturalmente, os holofotes. Em junho passado, personagens como Lázaro Ramos, Fernanda Torres, Thiago Lacerda e Marisa Monte se reuniram com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para tentar convencê-lo a disputar a Presidência da República. Pouco antes, em abril, outro grupo de artistas e intelectuais assinou um manifesto denominado Projeto Brasil Nação, que colheu mais de 10 mil assinaturas em defesa de um programa para quebrar o círculo de polarização do país. Somente este ano, houve protestos que contaram com a presença de artistas em vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco.

Com vivência num bairro do Recife que tem muitos problemas sociais - o Alto José do Pinho -, Cannibal, vocalista de Devotos (banda que se consolidou no auge do Movimento Manguebeat), externou os motivos para se engajar no protesto Não me venha com indiretas. A manifestação se realizou em Olinda e em outras cidades brasileiras. “Com a situação política que a gente vive, não dá mais para ficar em cima do muro, ou você aceita ou não aceita. A gente está vendo muitos direitos sendo tirados do povo e, na minha opinião, as diretas seriam a melhor opção. Nossos pais e avós lutaram tanto por uma democracia, agora é nossa vez de brigar por isso”, disse ele.