Volta a polêmica dos recibos de Lula Suposto laranja do ex-presidente disse em depoimento ao juiz Sérgio Moro que era Bumlai que o ressarcia por carnê-leão de aluguéis

Publicação: 16/12/2017 09:00

O engenheiro Glaucos da Costamarques afirmou ao juiz Sergio Moro nesta sexta-feira que era ressarcido pelo pagamento do carnê-leão dos aluguéis do apartamento em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Ministério Público diz que Costamarques atuou como “laranja” de Lula na compra do imóvel, que teria sido adquirido com propina da Odebrecht, obtida por meio de contratos com a Petrobras.

O engenheiro disse a Moro que era o pecuarista José Carlos Bumlai, seu primo e amigo do ex-presidente, quem o ressarcia pelo imposto sobre o aluguel. Bumlai chegou a ser preso pela Lava-Jato, mas teve a prisão domiciliar revogada pelo STF em abril deste ano.

Segundo Costamarques, o acerto de contas era feito de maneira informal, como na situação de uma compra de cavalos. Nestas ocasiões, Bumlai repassaria o valor anual dos impostos, que somados chegariam a cerca de R$ 2,5 mil. O engenheiro afirmou que o acordo foi firmado quando reclamou com Bumlai de que não havia recebido os valores referentes aos primeiros meses de aluguel, no início de 2011. “Ele falou: Glaucos, esquece o aluguel.”

Em seguida, Costamarques teria reclamado de que, além de não receber os aluguéis, ainda teria que pagar os impostos correspondentes. “Além de não receber o aluguel vou pagar um imposto? Ele falou: não, vou ressarcir esse imposto para você.”

O engenheiro voltou a afirmar que não recebeu nenhum aluguel até 2015 e que, ainda assim, assinou recibos referentes ao pagamento. “Eu tinha o contrato de aluguel, pagava o imposto, tinha que declarar que recebi. Porque eles, dona Marisa (mulher de Lula, morta em fevereiro deste ano), ia declarar que pagou.”

Costamarques disse que, até Bumlai ser preso, ao final de 2015, acreditava que havia comprado o apartamento para ele e que o dinheiro seria devolvido. Após o episódio, afirmou ter pensado: “Então daqui para a frente, já está no meu nome mesmo, vou assumir, o apartamento é meu”.

O engenheiro também confirmou que, quando internado no hospital Sírio Libanês, no final de 2015, recebeu visitas do contador João Muniz Leite. Na ocasião, disse ter assinado recibos referentes a 2015 e “talvez algum recibo anterior que ele tenha falado que estava errado”. Ele afirmou que o encontro pode ter sido consequência da visita do advogado Roberto Teixeira, que, segundo Costamarques, esteve no hospital antes do contador. “Eu estava internado e ele entrou dentro do meu quarto. Foi comunicar que daquela data em diante iriam pagar o aluguel.”

O nome de Teixeira não consta no registro de visitas do hospital. Segundo o engenheiro, isso é porque o advogado entrou sem se identificar. “A entrada é falha. Nem toda entrada é fiscalizada, a principal é, as outras não são.”

CONTADOR
Também nesta sexta-feira, o contador João Leite falou ao juiz Sergio Moro. Ele se contradisse em relação a outro depoimento, prestado ao final de setembro. À época, Leite afirmou que recebia das mãos de Glaucos, periodicamente, os recibos referentes ao pagamento dos aluguéis, de 2011 a 2015, os quais serviam para dar lastro às declarações do imposto de renda.

Desta vez, o contador disse que só recebeu os recibos diretamente do engenheiro em 2015, por meio de uma pasta, após cobrá-lo pela ausência dos documentos referentes a 2014. Como alguns recibos estavam faltando e outros não tinham a assinatura de Glaucos, Leite teria ido ao hospital regularizar a situação. “Me equivoquei nesse ponto aí”, afirmou, ao ser questionado por Moro.

O contador disse ter sido responsável pelas declarações de renda de Lula, a pedido de Roberto Teixeira, de 2011 a 2015. Afirmou que o advogado repassava a documentação necessária para que fizesse a contabilidade. (Folhapress)