Ataques virtuais à democracia Notícias falsas que se espalham pela internet comprometem imagem de candidatos, credibilidade de instituições e levam o eleitor ao erro

Publicação: 13/01/2018 09:00

Com a popularização de sites, blogs e páginas nas redes sociais que alegam oferecer conteúdo informativo, fica fácil o eleitor cair numa armadilha. O problema das notícias falsas não é exclusividade da internet, nem é uma novidade. No entanto, o que mudou foi o alcance e a velocidade que esses assuntos se espalham. Levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP) revela que essa ameaça é bem maior do que se imaginava. Somente nas redes sociais, 12 milhões de pessoas compartilham informações inverídicas, as chamadas fake news. O mundo entrou em alerta após o FBI apontar que as eleições para presidente dos EUA foram influenciadas por ataques vindos de hackers da Rússia.

No Brasil já existem exemplos  de como isso pode influenciar a política. Um boato que surgiu em 2015 ganhou força em 2016 e permanece até hoje sendo compartilhado na rede trata-se de uma suposta tentativa de suicídio da ex-presidente Dilma Rousseff. Em junho de 2015, o assunto foi tão compartilhado pela internet que a petista, que ainda ocupava a Presidência da República, teve que ir a público desmentir a informação.

Na campanha de 2014, circulou na internet a informação de que o PT trouxe ao país 50 mil cidadãos do Haiti para votar. De acordo com o texto da falsa notícia, os haitianos receberam dupla cidadania para engrossar o saldo de votos de candidatos petistas. Uma pesquisa da USP revelou que 42% dos eleitores contrários à candidatura de Dilma acreditaram nesta afirmação. Mesmo após as eleições, as fake news continuaram se disseminando no campo da política.

Um texto compartilhado em sites e nas redes sociais em 2015 afirmava que o deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) apresentou um projeto de lei para alterar versículos da Bíblia. A intenção do político, de acordo com a mensagem, seria alterar partes do livro que tratavam sobre relações homoafetivas. A especialista Helena Martins, diretora da ONG Intervozes - voltada para o direito à comunicação - destaca que atualmente existe um modelo de negócios em torno das notícias falsas. “É uma questão muito complexa. A maioria dos boatos se espalha com interesses financeiros, por meio de sites caçadores de cliques. Mas também temos os que se espalham por ideologia e outros que querem silenciar minorias, atacando homossexuais e mulheres, por exemplo”.

Helena afirma ainda que a solução envolve mudanças no acesso à informação, mas o problema não pode ser usado para pregar a censura. “Não penso que a criação de leis vai resolver. Pois é difícil avaliar o que é fake news e informação verdadeira. O ideal seria que empresas como o Facebook, por exemplo, deixem claro quando uma publicação é patrocinada”.  (Do Correio Braziliense)