Uma eficiente rede de intrigas Informações inverídicas jogadas na internet podem chegar a todos os brasileiros que estão online

Publicação: 13/01/2018 09:00

De acordo com o estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP), informações inverídicas jogadas na rede mundial de computadores podem chegar a todos os brasileiros que têm acesso à internet. A estrutura de campanha criada por um candidato pode não ser suficiente para desmentir as acusações, o que pode causar uma reviravolta no cenário das eleições.

O advogado Aylan Estrela, especialista em direito digital, destaca que quem cria esse tipo de boato pode ser punido com leis já existentes. “Esses crimes contra a honra são previstos pelo Código Penal. A grande questão é a identificação dos autores. Hoje existem mecanismos para identificar, como o armazenamento dos dados dos criminosos. Mas em relação a leis específicas para o período eleitoral, não temos nada em vigor nem tempo para aprovar”.

O TSE aprovou uma série de resoluções que serão válidas para as próximas eleições. O ministro Luiz Fux, relator das resoluções e vice-presidente do tribunal eleitoral, destacou que o assunto é alvo de preocupação da Justiça Eleitoral. “Abordamos a necessidade de coibir comportamentos deletérios, ilegítimos, de players que se valem da ambiência da internet e de suas principais plataformas de acesso e de conteúdo para violentar a legitimidade das eleições e a higidez do prélio eleitoral, mediante a utilização de fake news, junkie news. Poderemos dar maior robustez com a análise concreta de perfis falsos”.

O cenário virtual das eleições de 2018 pode, em determinado momento, parecer-se com algum dos episódios da série Black Mirror. Assim como na produção britânica de ficção científica, a tecnologia pode dar rumos imprevisíveis para o comportamento humano. Isso por conta de milhares de robôs espalhados pela rede com a finalidade de influenciar no comportamento dos eleitores. De acordo com um estudo da Universidade da Flórida, nos EUA, 15% dos perfis do Twitter são mantidos por programas de automação. Esse fato se repete nas demais redes sociais.

Pode parecer algo distante da realidade dos brasileiros. Mas esses programas, também chamados de bots, estão presentes e atuando na internet neste exato momento, enquanto você lê esta reportagem. Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que esses perfis pré-programados, foram responsáveis por 10% das discussões no Twitter sobre as eleições de 2014. Em abril, mais de 20% das interações no Twitter relacionadas à greve geral que ocorreu no país foram motivadas por bots.

Usando inteligência artificial ou não, esses perfis procuram imitar o comportamento humano. Entre mensagens comuns, de bom dia, comentários sobre festas e eventos aleatórios, essas contas publicam mensagens tendenciosas e de apoio a candidatos ou suas ideologias. A diferença entre os seres humanos e as máquinas é a agilidade. Alguns robôs postam mais de uma mensagem por segundo. Eles também são capazes de seguir perfis reais e marcá-los em publicações para dar uma identidade real aparente.

Uma nova modalidade de influência na web, que deve ser usada no Brasil a partir de agora, são programas de varredura das redes sociais. Esses softwares monitoram os internautas, seus perfis, opiniões e desejos. A finalidade é entregar relatórios aos candidatos, ressaltando com quais tipos de ideias e propostas ele pode se alinhar ao eleitor.

Fake news no Brasil

Como as notícias falsas povoaram os recentes embates políticos  nacionais

Setembro de 2014
O fim do Bolsa-Família

Estimulados por discursos oficiais de representantes do PT, sites e blogs sem qualquer credibilidade começaram a espalhar os boatos sobre o fim do Bolsa Família com eventual eleição de candidatos da oposição.

Outubro de 2014
Haitianos e o PT

Informações falsas que tiveram origem nas redes sociais afirmaram que o PT trouxe 50 mil haitianos para votar no Brasil durante o pleito de 2014. De acordo com a USP, 42% dos eleitores contrários à ex-presidente Dilma Rousseff acreditaram.

Outubro de 2014
A morte de Eduardo Campos

Uma publicação feita pelo jornalista norte-americano Wayne Madsen afirmava que a CIA tinha derrubado o avião do candidato à Presidência Eduardo Campos para favorecer Marina Silva. Muita gente até hoje acredita na teoria da conspiração.

Outubro de 2014
Dia da eleição

O dia do segundo turno das eleições no Brasil foi marcado por boatos nas redes sociais. Os eleitores acordaram com a falsa notícia, divulgada na internet, sobre a suposta morte do doleiro Alberto Youssef, que teria sido assassinado pelo PT.

Abril de 2015
A doação de sangue

Um boato dizia que Bolsonaro havia apresentado projeto para separar o sangue doado por homossexuais. A intenção seria para que o receptor pudesse escolher se receberia ou não sangue de determinado doador. Tudo era uma invenção.

Junho de 2015
Dilma e a internação

Uma fake news afirmou que a então presidente Dilma tentou suicídio por não suportar a pressão. Dilma precisou ir a público dizer que estava bem e que não tinha sido internada. A informação surgiu a partir de alguns blogs sem credibilidade.

Junho de 2015
Jean Wyllys e a Bíblia

Uma publicação de um site de humor acabou se espalhando como se fosse verdade. No texto, Jean Wyllys era acusado de propor projeto para alterar textos da Bíblia que falam sobre relações homoafetivas. Links foram compartilhados até 2016.