Marília busca formar chapa Com o anúncio de apoio do Avante de Sílvio Costa, petista começa a preparar o terreno para não deixar que o PT nacional interfira no diretório local

Aline Moura
aline.moura1@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/06/2018 03:00

Pré-candidata ao governo pelo PT, Marília Arraes procurou mostrar ontem ter condições de tirar o partido do isolamento em Pernambuco, num contraponto ao cenário nacional, onde pelo menos oito pré-candidatos da legenda ainda não conseguiram firmar alianças, inclusive em Minas Gerais. Ela recebeu o apoio do Avante para concorrer ao Palácio das Princesas e, ao mesmo tempo, anunciou apoio ao deputado federal Silvio Costa para o Senado, o primeiro nome de sua eventual chapa majoritária. O evento contou com a participação de lideranças petistas e sindicais. Marília frisou que espera ter o senador Humberto Costa em sua chapa. O petista, no entanto, não participou do evento e demonstrou contrariedade.

Marília Arraes negou estar em rota de colisão com a executiva nacional, que suspendeu o encontro eleitoral do PT por duas vezes para tentar negociar uma aliança nacional com o PSB e o PCdoB. Mas o gesto foi interpretado como uma tentativa de tornar a pré-candidatura irreversível, de baixo para cima. “O PSB não quis mais aliança com o PT de Pernambuco (referiu-se ao rompimento desde 2012), está tentando se movimentar para garantir o governo do estado, mas não vejo o governador com força política suficiente para direcionar o PSB para uma aliança formal e oficial com o PT. A gente não vê nenhuma liderança do PSB denunciando a prisão política de Lula ou fazendo autocrítica por ter apoiado o impeachment (de Dilma)”, declarou.

A vereadora buscou esvaziar os argumentos dos correligionários que defendem a aliança com Paulo Câmara. Para seu grupo, aliás, ela conseguiu resgatar o diálogo com a base petista – que já assistiu a derrota do partido em três campanhas majoritárias (2012, 2014 e 2016), tem os números de pesquisa a seu favor e não aceita o fato de que sua pré-candidatura serviu como moeda de troca para o PT obter uma aliança com o PSB. Indagada porque Humberto não estava presente, Marília deixou as portas abertas. Disse que quer tê-lo em seu palanque e ressaltou que ele “não precisava do PSB para se eleger”.

A petista ainda fez críticas ao deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB), a quem acusou de fazer alianças por conveniência desde 1994. Jarbas apoiou a eleição de Gustavo Krause (então PFL) ao governo pernambucano em 1994 contra Miguel Arraes (PSB). Em 1998, Jarbas derrotou Arraes com o apoio do então PFL e virou adversário de Eduardo Campos. “Se você observar a trajetória de 20 anos para cá, ele tem se comportado de acordo com a conveniência. Uma pessoa que lutou contra a ditadura, se uniu com a direita simplesmente para ganhar a eleição para o governo do estado. Depois, quando estava em baixa, se aliou de volta ao PSB, o qual combatia arduamente. Agora, já está elogiando o PT”, atacou.

Humberto Costa disse ao Diario que Marília anunciou o apoio de Silvio numa “ação intempestiva”. “Compreendo que ela possa estar ansiosa, mas é a primeira vez que eu vi isso no PT. Nunca aconteceu uma coisa de alguém anunciar uma candidatura sem que isso seja discutido com o partido. Só posso creditar a apresentação de nomes à ansiedade ou desconhecimento de como o PT funciona. Como ela está há pouco tempo no partido, não sabe como as coisas se constroem”, afirmou o senador. “Uma coisa como essa termina comprometendo todo o esforço que o presidente do partido, Bruno Ribeiro, vem fazendo para que o partido saia unido”, acrescentou.