"Um simbolismo contra o crime e a corrupção"

Publicação: 02/11/2018 03:00

Juristas, especialistas em Direito e políticos comentaram a ida de Sérgio Moro para o “superministério” da Justiça do futuro governo Bolsonaro. Entre elogios ao currículo e à competência do juiz federal, há também o temor de que a Lava-Jato seja esvaziada com o desligamento de Moro das investigações em Curitiba.

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que Jair Bolsonaro acertou na escolha. “Eu, no lugar dele, também tentaria compor uma grande equipe, inclusive com o juiz Sérgio Moro”, disse.

Para o ministro Luiz Fux, a escolha “foi a que a sociedade brasileira faria, se consultada” e que a ida de Moro para o “superministério” foi “por genuína meritocracia”.

Para um terceiro ministro do STF, que pediu para não ser identificado, a escolha de Moro foi uma “jogada de marketing” do governo Bolsonaro - com data de validade - e colocará o magistrado no centro do debate político, vulnerável a críticas sobre a sua futura gestão.

O professor de Direito Público Carlos Ari Sundfeld, da Fundação Getúlio Vargas, acredita que o nome de Moro é uma aposta no simbolismo. “Ele esteve envolvido em processos importantes anticorrupção, então, a aposta de Bolsonaro e do juiz é no simbolismo de ter uma figura como a de Moro no Poder Executivo”, analisa. “Um simbolismo contra o crime e a corrupção.”

Sundfeld aponta que a indicação, porém, pode acentuar o risco de que a atuação do Poder Judiciário no País seja questionada em função da ligação com um governo.

A advogada constitucionalista Vera Chemim vê riscos à continuidade da Operação Lava Jato com a ida do juiz federal para Curitiba. “É preciso ver quem vai substituí-lo.”

O também especialista em Direito Constitucional Marcellus Ferreira Pinto acredita que Moro “vai viabilizar um ganho de eficiência e de efetividade” por ter conhecimento e experiência em relação à Lava-Jato.

“Um ganho”
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ontem considerar “um ganho” ter Sérgio Moro no Executivo. “Acho que é alguém que tem toda a autoridade e legitimidade”, disse. Ele contou que Sérgio Moro deverá ir a Brasília na próxima semana para se reunir com integrantes da pasta e iniciar a transição.

Ao aceitar o convite, Moro afirmou que terá “forte agenda anticorrupção e anticrime”. “Quanto a uma cruzada contra a corrupção e o crime, só tenho a aplaudir. É tudo o que eu quero”, disse Jungmann.