Em Arcoverde, a água para o Agreste Acionamento da estação elevatória no distrito de Ipojuca vai beneficiar 615 mil pessoas com abastecimento em nove municípios da região

Juliana Sampaio

Publicação: 05/04/2024 03:00

ARCOVERDE (PE) - Na sua primeira agenda em Pernambuco, na manhã de ontem, o presidente Lula (PT), ao lado da governadora Raquel Lyra (PSDB), acionou a estação elevatória da primeira etapa da Adutora do Agreste, no distrito de Ipojuca, em Arcoverde, no Sertão do Moxotó.

Fugindo do roteiro cerimonial, Lula improvisou no discurso. Disse estar testemunhando um milagre de Deus: levar água encanada às casas do semiárido pernambucano, relembrando que foi justamente a falta d’água que fez sua mãe, Dona Lindu, sair do distrito de Caetés, em Garanhuns, rumo a São Paulo para tentar sobreviver com seus oito filhos.

“Quando eu tinha 7 anos de idade e morava em Caetés, tínhamos que buscar água num açude, com um pote. E água de açude é barrenta, com xixi e cocô dos animais. Pegávamos aquele pote d’água, levávamos para casa, deixava assentar, trocava de pote e bebia. Não tínhamos cultura de ferver, não tínhamos filtro. Muita gente morria de esquistossomose na época pelos maus-tratos da água, perdia os dentes com facilidade. A água não era tratada”, relatou.

“É um milagre o que estamos vivendo, ninguém acreditava que era possível fazer a Transposição do São Francisco”, afirmou, explicando que diversos estados rejeitavam o projeto. “O Brasil tem o direito de fazer a transposição para trazer água para 12 milhões de pessoas que moram no semiárido”, declarou.

“Ninguém pediu para ser pobre, ninguém pediu para não ter água. Mas agora isso vai mudar. Foi preciso um nordestino, pernambucano, chegar à Presidência para colocar água na casa das pessoas. Por isso minha obsessão pelo Nordeste, porque eu sei o que é isso”, disse, sob gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.  Ao fim, ele desceu do palanque e foi até o povo distribuir abraços e beijos.

“Ganhei meu dia. Fui abraçada e ganhei um beijo na testa do meu pai Lula, que trouxe água pra minha casa”, disse a agricultora Lindinalva Inácio, de 63 anos, que usava um chapéu com referência ao presidente “dado pelo filho (Pedro Campos) do meu outro pai, Eduardo Campos”, afirmou com um sorriso de canto a canto.

Visivelmente emocionada, a governadora Raquel Lyra comemorou o início da operação da estação elevatória, sem esquecer de agradecer ao presidente pela parceria que vem celebrando junto à sua gestão. “Obrigada, presidente, por estar hoje aqui. Sou filha do Agreste e sei o que é ter que usar cuia”.

A estação de bombeamento de água vai atender nove municípios do Agreste pernambucano: Alagoinha, Arcoverde, Belo Jardim, Pesqueira, Sanharó, Tacaimbó, Caruaru, São Caetano e três distritos de Brejo da Madre de Deus. Ao todo, serão beneficiadas 615 mil pessoas na região, que possui o pior balanço hídrico do estado, enfrentando rodízios rigorosos de abastecimento.

Com a inauguração da estação elevatória de Ipojuca, a capacidade de bombeamento de água será triplicada, saindo dos atuais 600 litros por segundo para 2 mil litros de água por segundo, segundo as estimativas da Compesa - responsável pela execução da obra da Adutora do Agreste.

Nesta primeira etapa do projeto, cuja conclusão é prevista para 2026 - 10 anos após o início das obras - serão beneficiados 23 municípios do Agreste.

A água que será bombeada pe será a primeira a atender o roteiro do projeto inicial da Adutora do Agreste. Isso porque ela virá da Barragem do Ipojuca, que por sua vez recebe água da Transposição do Rio São Francisco, através do Ramal do Agreste, que fica entre as cidades de Sertânia e Arcoverde. Para a conclusão da primeira etapa, ainda são necessárias a finalização das obras e a estação de tratamento de água na zona rural de Pesqueira e das outras duas estações elevatórias que ficam nos municípios de Buíque e Iati.

Até agora já foram investidos R$ 1,4 bilhão em recursos públicos na Adutora do Agreste, sendo R$ 1,2 bilhão do governo federal e R$ 200 millhões em contrapartida do governo do estado.

O ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, destacou que esta obra é prioridade para o governo federal. “Nós temos recursos garantidos por meio do Novo PAC, em demonstração clara de que o governo federal está comprometido em entregar essa obra, que é tão importante para garantir a segurança hídrica para Pernambuco”, afirmou.

“É um momento emocionante e um dia de grande importância para Pernambuco, porque leva mais água para toda a população de uma região já tão sacrificada. Agradeço ao presidente e à governadora por tirarem essa obra do papel e transformarem a vida das pessoas”, disse o prefeito de Arcoverde, Wellington Maciel.