Centrão: o fiel da balança em Brasília
Bloco se tornou o centro do poder após intensificação da polarização entre direita e esquerda e, para especialistas, atua com oportunismo estratégico
Cecília Belo
Publicação: 21/07/2025 03:00
Os últimos anos do cenário político brasileiro têm sido marcados por choques recorrentes entre Executivo e Legislativo, desacordos em políticas estruturais e a consolidação de um bloco parlamentar que, sem base ideológica estável, tornou-se um dos principais centros de poder de Brasília: o Centrão. Com a intensificação da polarização desde 2013, o embate entre polos partidários acentuou a paralisia institucional e abriu ainda mais espaço para que o Centrão atuasse como mediador — ou freio — de qualquer governo.
Enquanto Planalto e Congresso travam batalhas sobre verbas, composição ministerial, agenda econômica e reformas estruturais, temas como segurança alimentar, emprego, controle fiscal e proteção social seguem em compasso de espera. Para entender os efeitos desse cenário, o Diario ouviu os cientistas políticos Ana Larissa, mestranda pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e Ernani Carvalho, professor e pesquisador da mesma instituição e doutor pela USP.
Ernani Carvalho observa que a trajetória do Centrão é marcada por oportunismo estratégico e uma estrutura heterogênea que o permite atuar em diferentes conjunturas. Como exemplo, ele cita a reação ao tarifaço dos EUA. “Ainda que grande parte do Centrão flertasse com o bolsonarismo, rapidamente se reaglutinou para se posicionar contra a medida, revelando flexibilidade diante da conjuntura”.
Essa elasticidade é justamente o que garante sobrevida constante ao bloco. “A polarização excessiva torna não impede que atores do centro se movimentem. Ao contrário, facilita que esse grupo se apresente como solução pragmática”, complementa Carvalho.
Nas palavras de Ana, “o Centrão opera como uma terceira via estrutural”. “Ele não precisa vencer eleições presidenciais para governar. Basta estar em posição de decidir os rumos das votações no Congresso”.
Para ambos os cientistas políticos, o bloco não apenas resiste à polarização como se alimenta dela. “Nos momentos mais críticos, é o Centrão que decide. Isso ocorreu com Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e está ocorrendo novamente”, conclui Carvalho.