O detonador de Itapuama Roberto Pino tem apenas 1,35 metro. É anão. Não chama a atenção por isso, mas pela habilidade nas ondas que o levaram a um título estadual

Maria Eugênia Nunes
eugenianunes.pe@dabr.com.br

Publicação: 07/12/2014 03:00

Pino Detonador foi campeão da quarta etapa do estadual de surfe (PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS)
Pino Detonador foi campeão da quarta etapa do estadual de surfe
Roberto Pino, 37 anos, é surfista. Campeão master na 4ª etapa do estadual, é conhecido como Pino Detonador. Recebeu o apelido pela habilidade com que domina as ondas em Itapuama, em Pernambuco. A remada curta, a velocidade e as rasgadas violentas aguçam a curiosidade dos que passam pela beira da praia. Pino tem apenas 1,35 metro de altura. Autodefine-se como o único surfista anão do Nordeste.

Mais do que a condição física, é por superá-las que o surfista tornou-se uma referência. Pino disputa as ondas de igual para igual com a elite do surfe pernambucano. Faz esforço dobrado. E a baixa estatura não é o único motivo de desvantagem para Roberto. A sua resistência é menor do que a dos adversários. Ele revela sentir um cansaço fora do comum dentro do mar. “Eles têm braços mais compridos. Os pulmões são maiores. Consequentemente, saem na frente”, explica ele, que, antes de entrar no mar, usa uma bombinha para ajudar na respiração. “Tem dias que ele leva no bolso, para o mar, quando vai passar muito tempo surfando”, revela a esposa Maria Eriane, de 26 anos, que acompanha o marido junto com os filhos, que também são anões. Lara tem cinco anos. Otávio, sete.

Na vida e no esporte, Roberto precisou se adaptar de forma especial para levar uma rotina normal. A prancha é feita especificamente para ele. “É menor do que as que estamos acostumados a ver por aí. Mas também não se compara com a de uma criança. Ela precisa ser mais grossa. Ter mais volume para flutuação por causa do meu peso e tamanho”, explica.

Filhos

E não é só Pino que chama a atenção na praia de Itapuama enquanto treina pesado. Os filhos Lara e Otávio também herdaram a paixão pelo surfe. “Costumo dizer que somos uma família de sangue salgado. Tenho passado a lição de superação para os meus filhos através do surfe. Eles já estão ficando em pé na onda. Curtem muito me acompanhar. Otávio já tem a própria prancha. A de Lara já está a caminho. Ela vem pedindo muito”, revelou Pino. Não qualquer prancha. “Quero uma prancha rosa”, afirma a menina.

Os filhos, natural, mostram-se encantados ao ver o pai dominando as ondas de Itapuama. Perguntado sobre o que queria ser no futuro, Otávio não demorou para responder. “Quero ser surfista igual ao meu pai”, disse.

Roberto faz o estilo paizão. Quer ser um exemplo para os filhos. Não só no esporte. No dia a dia também. Não deixa os meninos faltarem aula. Não foi muito bom na época em que estudava. “Fiz até a 5ª série. Acho que eu tinha algo tipo dislexia. Estudava, sabia das coisas, mas chegava na hora da prova e parecia que dava um branco. Eu esquecia de tudo. Quero que com meus filhos sejam diferentes de mim nisso. Por isso sou duro com eles na escola”, diz.