Contraste verde-amarelo Duas faces de um mesmo Brasil entram em campo em jogos decisivos neste domingo. A seleção dos homens, na Copa América; a seleção das mulheres, da Copa do Mundo

Emanuel Leite Jr.
Especial ara o Diario
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Publicação: 21/06/2015 03:00

Ela é considerada a melhor jogadora de futebol de todos os tempos. Venceu por cinco vezes consecutivas o prêmio da Fifa de melhor futebolista do ano - sendo a recordista no esporte, incluindo a versão masculina. Duas vezes medalhista de prata olímpica e uma vez vice-campeã mundial. Ela é, também, a maior goleadora da história das Copas do Mundo - 15 gols em 16 jogos. Apesar de todas essas credenciais, Marta - a “Pelé de saias”, apelido dado pelo próprio rei do futebol - tem lutado, nos últimos oito anos, para encontrar clubes que possam pagar seu salário. Atualmente a jogadora com melhor salário do mundo - R$ 1,248 milhão por ano -, a alagoana de Dois Riachos ganha bem menos do que muito jogador de médio escalão do futebol masculino.

Simone de Beauvoir, filósofa existencialista e feminista francesa, criticava a posição hierárquica do masculino e feminino. “O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro.” O masculino é o ativo, revestido da representação da totalidade, enquanto o feminino representa o passivo. Em uma sociedade culturalmente marcada pelo patriarcalismo e, por conseguinte, pelo machismo, a subjugação da mulher é marca do Ocidente. No futebol, esporte codificado como algo masculino em essência, não seria diferente. No Brasil, por sinal, a prática do futebol feminino esteve proibida entre 1941 e 1979: “Mulheres não tinham permissão para praticar esportes incompatíveis com a natureza feminina”, dizia o embargo.

Lógica excludente que se reflete nos dias de hoje e ajuda a explicar a desigualdade que existe entre os dois mundos completamente distintos que orbitam sobre o mesmo esporte. Neste domingo, Marta entra em campo com a Seleção Brasileira. Às 14h (horário do Recife), encara a Austrália no Moncton Stadium, no Canadá. O jogo vale uma vaga nas quartas da Copa do Mundo. Mais uma oportunidade para que esta brava nordestina escreva mais um capítulo dourado em sua gloriosa carreira. Um jogo, porém, que poucas pessoas vão acompanhar em sua terra natal.

Copa América
As atenções do torcedor brasileiro, neste domingo, vão estar voltadas para a seleção masculina. Mesmo sem o astro Neymar. A equipe comandada por Dunga enfrenta a Venezuela. O jogo acontece no estádio Monumental, em Santiago do Chile, à noite. Horário, portanto, compatível com o jogo da seleção feminina. Mas, enquanto equipes de tevê - abertas e fechadas - acompanham passo a passo os detalhes dos homens, as mulheres disputam o Mundial com transmissões apenas na TV por assinatura.

Discrepância de interesses que, naturalmente, tem reflexo nos salários dos jogadores. Enquanto Marta em julho de 2014 assinou pelo FC Rosengard, da Suécia, por US$ 400 mil anuais (R$ 1,248 milhão), Neymar acabou de renovar seu contrato com o Barcelona. O craque da seleção masculina ampliou seu vínculo com os catalães até 2020 e, por isso, vai receber R$ 42 milhões por temporada (12 milhões de euros).

Isso significa que enquanto Marta - a maior de todos os tempos no futebol feminino - recebe R$ 104 mil por mês, Neymar - ainda coadjuvante de Messi no Barcelona e até mesmo de Cristiano Ronaldo no campeonato espanhol - vai ganhar R$ 117 mil por dia.