Publicação: 21/06/2015 03:00
“Se subirmos, eu danço com ele”
No dia 6 de abril, Glauber Vasconcelos pediu licença médica da presidência do Náutico. A saúde estava prejudicada. Relacionado a isso, estava a crise que o Náutico atravessava. Como prometido, ele voltou após um mês. Com um perfil bem diferente. Mais discreto e medindo as críticas que lhe renderam uma suspensão de 15 dias - ficou fora do clube de 27 de maio a 11 de junho. Distante dos holofotes, ele recebeu a equipe do Superesportes na última quarta-feira, para uma entrevista exclusiva. Tranquilo e de bom humor, falou sobre o novo estilo, a boa fase do Náutico, a possibilidade de o time voltar a mandar alguns jogos nos Aflitos e descartou, definitivamente, concorrer à reeleição. Mas vai lançar um candidato da situação. Comentou, ainda, o estilo de Lisca e afirmou sobre a dança do treinador após a vitória sobre o Criciúma: “Falei para ele que, se subirmos, eu danço com ele”.
O senhor pediu licença médica e se afastou do clube. Como foi a sua recuperação?
Quando me afastei, na verdade, o cardiologista já estava pedindo. Estava com alguns sintomas de pré-diabetes e ganhei muito peso. Entrei no Náutico com 102 quilos e estava com 125 quilos. Tive alguns sintomas no sistema vascular e no coração. Quando fomos eliminados (do PE2015), o clube estava mais ou menos organizado. As receitas estavam equilibradas e minha presença física não mudaria tanta coisa. Mas a minha saída não significou que fiquei em alfa. Me comunicava todos os dias (com os diretores).
Após aquele jogo contra o Salgueiro, o senhor recebeu uma punição por conta dos seus comentários. Achou injusta?
Aquele momento foi um momento infeliz do ponto de vista do campeonato. Até hoje, não tem justificativa. Tem coisas inexplicáveis e não vou mais tocar nesse assunto porque já fui punido por isso. No começo se falavam em meses de punição. Depois caiu para 45 dias. Conseguimos reduzir para 15 dias. Cumpri naturalmente e, coincidentemente, voltei a trabalhar no Náutico no Dia dos Namorados.
Como anda a relação com o Conselho Deliberativo e com a oposição?
Meu relacionamento com o Conselho é de respeito. Um relacionamento institucional. O vice-presidente eleito é o vice-presidente institucional. Ele trata essas relações com a Arena, com a Federação. Quanto à oposição, é natural. Eu fiz oposição. Se tiver um erro de gestão, tem de ser apontado. Não há constrangimento. O problema é que essa oposição às vezes passa do limite da razoabilidade. Ao invés de atingir a gestão, acaba atingindo o clube e isso não pode acontecer. Temos que sempre que preservar a instituição.
Sobre as organizadas: apesar de o senhor afirmar que a relação está rompida, vimos membros com camisas dentro do clube. Inclusive chegaram a entrar em um treino do time. Como está essa relação?
Não temos nenhum relacionamento formalizado com organizada. Não damos ingresso, não patrocinamos. A sala que eles tinham aqui agora é do basquete. Devolvemos o material deles e retomamos a sala. Não existe esse relacionamento. Eventualmente aparece algum pedido de ingresso de ajuda em viagem, mas é prontamente negado. Nós não patrocinamos organizada.
O senhor já falou várias vezes da dificuldade de patrocinadores. Contra o Flamengo, alguns patrocínios pontuais apareceram. Como está essa situação?
Uma coisa muito batida é que eu cheguei a dizer que tinha patrocínios fechados. Procurem em algum lugar que eu falei isso. Primeiro, ninguém assinaria um contrato comigo sendo o azarão da eleição. E o mercado foi muito ruim ano passado e neste ano. Estamos trabalhando para que um desses pontuais fique até o fim do ano. Também temos a Turquesa, que está conosco desde o começo do ano. O momento é bom para isso (conseguir patrocinadores), pois estamos bem na Série B e estamos tendo mídia positiva. Isso é importante. Por isso, quando eu falo daquelas discussões com oposição, tem que se ter cuidado para não gerar mídia negativa para o clube. Não me importo em mídia negativa para mim. Me importo é em preservar o clube que é algo muito maior. Depois que eu sair virá outro.
O senhor se sentiu injustiçado neste período?
Eu não minto. Eu não posso mentir. Senão iria contra o que eu entendo de vida. Algumas vezes colocam algumas inverdades na minha boca. Tenho vários defeitos. Sou um cara que às vezes é grosso, truculento, mas é meu perfil. É meu jeito e as pessoas confundem. Mas não tenho mágoa de ninguém.
Depois de tantos episódios o senhor adotou um perfil de ficar mais nos bastidores.
Quando fomos eleitos, fomos eleitos com uma força muito grande. Exigia uma aproximação. Tentamos dar essa aproximação. Criamos o “papo reto” aos sábados para nos aproximarmos da torcida.
Ele ainda está acontecendo?
Não. Fui orientado a não vir mais. Ele não está acontecendo porque estava vindo a cada duas semanas falar para os mesmos 10, 15 torcedores. Não tinha evolução. O ideal era ter 10, 15 pessoas diferentes toda semana. Eu estava esclarecendo as coisas do clube para quem? Era um desgaste para a gente e para eles.
E suas redes sociais?
Tenho o Facebook e o Twitter, mas não tenho mais no celular.
Estava lhe prejudicando?
Não. Mas estava misturando as coisas. Eu tenho vida privada. Eu gosto do Náutico, mas gosto de viajar, da minha família. O público, agora, trato através da assessoria do clube. A privada de outro modo.
Um episódio polêmico envolveu um áudio passado por WhatsApp em que você falou do Santa Cruz. Quanto aquilo lhe prejudicou?
Primeiro, eu pedi desculpas de imediato a Alírio (Moraes, presidente do Santa Cruz) e Tininho (Constantino Júnior, vice). Peço desculpas à torcida do Santa Cruz. Não era para atingi-los. Eu não tenho o que justificar o que é privado. Ali eu conversei com alguém reservado e essa pessoa quebrou minha confiança. Houve uma inversão de valores. Quem devia ser criminalizado era essa pessoa, porque ela usou uma conversa privada para tornar pública. Mas como eu sou uma pessoa pública por este período, eu que fui prejudicado. Mas já perdoei quem fez isso.
Como está mantendo as contas do clube?
O torcedor ficou muito triste que não nos classificamos (para a semifinal do PE2015). Tivemos lances que nos prejudicaram, mas fizemos a opção de fazer um elenco mais apertado no início do ano para termos fôlego para o resto do ano. E ainda tiveram as lesões. Elivelton, Ronny, Jefferson Renan estavam nessa sequência de fatalidades. Também teve o Stéfano Yuri, que levou um pisão no pé e ficou o resto do campeonato machucado.
O time está muito bem na Série B. Isso lhe surpreendeu?
Meu nome em hebraico antigo significa “aquele que crê”. Eu sou crédulo e acredito em tudo o que eu faço. Eu sempre acredito que o próximo dia será melhor. Acho que a diretoria acertou no primeiro período das contratações, mas tivemos os problemas físicos. A direção também acertou no segundo período de contratações e, agora, não tivemos lesões. O período de paralisação também foi muito importante. Conseguimos nos preparar melhor.
O senhor deixou nas entrelinhas que não tentará a reeleição. Mas terá um candidato?
Não tentarei, mas faremos um candidato forte. Teremos um candidato para tocar a organização do clube. Quem entrar aqui ano que vem fará um ano mais tranquilo, mais enxuto.
E o nome do candidato?
São quatro bons nomes.
Está aqui dentro na sua gestão?
São sócios (risos).
Existe algum plano para voltar aos Aflitos?
Temos um grupo que é coordenado por Durval Valença que vem, desde o início do ano, conversando com a Arena para fazer ajustes, buscar melhorias dentro do contrato. O contrato foi assinado pela gestão passada e temos um compromisso de 30 anos. Não podemos romper. Não podemos fazer maluquice. Mas estamos atentos às oportunidades e temos que ver o que é bom para todo mundo. Está acontecendo uma série de conversas entre Arena e o governo e estamos observando para ver o que é melhor para o clube.
Nunca passou pela cabeça romper, mas passa pela sua cabeça trazer alguns jogos para os Aflitos?
Desde que haja o interesse e se chegue ao entendimento de que, por exemplo, jogos de dia semana são jogos que não sejam interesantes do ponto de vista para a Arena. Mas para isso teremos que fazer um esforço. Teríamos que recuperar o campo. Ele não vem sendo trabalhado desde a época que fomos para a Arena. Estamos atentos e se for interesse do governo, da Arena, arrumaríamos isso rapidamente.
O senhor acha que Lisca continuaria no clube em 2016 independente da gestão?
Lisca fez coisas aqui eu eu não esperava. Eu tenho um ótimo relacionamento com ele e tenho um grande respeito, mas não fui eu que o trouxe dessa vez. Seu retorno foi uma decisão da direção de futebol. Sou democrático e quero que todos participem. Somos um time, temos que jogar entrosados. Se entrar alguém que faça uma proposta sólida, ele ficará. Ele não está aqui por minha causa. Ele está aqui porque ele gosta do clube, a família dele gosta do clube e gosta da cidade. Se fizerem uma proposta convicente independente de estar na Série A ou B ele fica. Desejo tudo de bom para ele.
E o vanerão (a dança de Lista após a vitória sobre Criciúma)? Gostou?
Eu ri demais. Falei para ele que, se subirmos, eu danço com ele!