Avanço sem volta
Nos últimos dez anos, futebol americano evoluiu no Brasil, conquistando mais adeptos fora e também dentro de campo
Alexandre Barbosa e Rafael Brasileiro
esportes.pe@dabr.com.br
Publicação: 10/09/2016 03:00
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Em 2006, não havia interpretação diferente em solo brasileiro: bola oval era a que não tinha muita serventia, atrapalhava o jogo com os pés e merecia ser descartada. Segurar a bola com as mãos, não fosse o goleiro, era falta inequívoca. E quem cobrasse uma falta muito acima da meta levava logo o título de “beque de usina”. Época em que o futebol americano era um estranho, conhecido apenas pelo nome. Algo muito distante, que pouco se sabe. Dez anos depois, a história é outra. No Brasil e no Recife.
A “invasão territorial” voltará a ser percebida com mais ênfase a partir desta semana, quando teve início a temporada 2016/17 da NFL (Liga Nacional de Futebol Americano, sigla em inglês). Desde quinta-feira, os televisores dos bares especializados na transmissão dos jogos começam a ficar divididos entre a bola redonda e a oval. O grito de gol ganha a companhia do “touchdown”. Exagero? A audiência mostra que não.
O canal ESPN é quem, até pouco tempo, detinha a exclusividade de transmissão para o Brasil - há quatro anos o Esporte Interativo também adquiriu os direitos de transmissão. E vem registrando um aumento considerável da audiência nos últimos anos. Revelou alguns à reportagem do Superesportes. O mais impactante mostra o crescimento do público com as tevês ligadas entre as duas últimas temporadas. O aumento entre 2014/15 e 2015/16 foi de 78%! Um número expressivo, ainda mais considerando que trata-se de uma modalidade que ainda busca a sua penetração nos campos brasileiros. Na NFL, por exemplo, há apenas um brasileiro, o kicker Cairo Santos, que vai disputar a sua terceira temporada pelo Kansas City Chiefs.
No total, a audiência do último ano da NFL rendeu ao canal mais de quatro milhões de espectadores. Número que tende a continuar em crescimento. A expectativa é superar a marca de cinco milhões. Meta factível. A final do ano passado é, talvez, o exemplo mais nítido da chegada de vez do futebol americano à rotina dos brasileiros. O Superbowl 50, entre Denver Broncos e Carolina Panthers, deu à ESPN a liderança de audiência no horário na televisão fechada.
Uma das pessoas que sentiu de perto o crescimento do interesse brasileiro na bola oval foi Paulo Antunes. Desde 2006, ele comenta os jogos da NFL para a ESPN. “O público que acompanha as transmissões tem se tornado cada vez mais focado, buscando informações sobre o esporte além da hora da partida através de sites e de toda evolução trazida pelas redes sociais. Essa interação sem dúvidas também contribuiu para a popularização e maior interesse pela NFL no Brasil”, afirmou.
TERMÔMETRO
O professor Sérgio Mendes, 29 anos, é um termômetro preciso do crescimento do interesse do futebol americano em Pernambuco, bem como da atenção dispensada à modalidade. Ele começou a acompanhar o esporte em 2007. E lembra que não era fácil. “Em 2007, quando a nossa turma resolveu se juntar para assistir ao Superbowl, entramos em contato com vários bares. Foi uma dificuldade enorme. Conseguimos fechar com um em Boa Viagem, depois de procurar muito. Mesmo assim, eles só aceitaram passar o jogo sem o áudio”, lembra Sérgio.
Ele credita boa parte do mérito pelo crescimento do interesse pelo futebol americano ao acesso à TV por assinatura e às transmissões dos canais pagos. A didática e até o estilo dos narradores e comentaristas têm ajudado na difusão do esporte, que já tem uma dinâmica bastante atrativa. “A forma como os canais transmitem, com o cuidado de explicar o esporte para quem ainda não conhece, é um fator muito importante. Quem já é mais experiente não é tão atrativo, mas para o público é bem interessante”, conta, ressaltando o trabalho do irreverente Rômulo Mendonça, da ESPN.
O mapa da NFL
Como funciona a liga?
TEMPORADA REGULAR
Os 32 times são divididos em duas conferências: Nacional (NFC) e Americana (AFC). Dentro das conferências, as equipes se dividem em quatro grupos com quatro times cada. No total, cada time faz 16 jogos. Além de enfrentar os rivais de divisão em jogos de ida e volta (seis jogos), o time ainda enfrenta todas as equipes de outras duas divisões, sendo uma divisão da sua conferência nacional (quatro jogos) e outra da conferência americana (quatro jogos). A definição é por sorteio. Os outros dois adversários (mais dois jogos) são definidos pela colocação na divisão no ano anterior. Quem ficou em primeiro lugar em sua conferência, por exemplo, enfrentará os campeões das outras divisões da sua conferência.
Para ficar mais claro
- 6 jogos dentro da divisão, partidas de ida e volta
- 4 jogos contra os times de uma divisão da sua conferência
- 4 jogos contra times uma divisão da outra conferência
- 2 jogos contra equipes que terminaram na mesma posição nas outras divisões da sua conferência (a terceira já está incluída na divisão da conferência pré-estabelecida)
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PÓS-TEMPORADA
É dividida em quatro fases, até o famoso Superbowl. É disputada em jogos únicos por 12 times, sendo os oito campeões das divisões (grupos) mais os dois melhores de cada conferência que não terminaram como líderes dos seus grupos (wild card). Os times são dispostos de acordo com a classificação na conferência, do primeiro ao sexto lugar.
Wild Card Weekend
Os dois primeiros colocados nas conferências não disputam a fase. Os oito restantes disputam o Wild Card Weekend, na seguinte ordem: o 3º colocado na conferência enfrenta o 6º; o 4º enfrenta o 5º.
Divisional Playoffs
São as semifinais de conferência. O 1º colocado na conferência enfrenta o pior time que avançou do Wild Card Weekend - da sua conferência, frise-se. O 2º colocado enfrenta a outra equipe. Mais uma vez, jogo único, na casa do time com melhor campanha. Venceu, está classificado.
Final de conferência
Os classificados da mesma conferência se enfrentam por uma vaga no Superbowl.
Superbowl
O duelo dos campeões de conferência. O Super Bowl desta temporada, o 51º, será disputado em Houston, em 5 de fevereiro de 2017.
Eles também têm “cartola”
No Brasil, o jogo virtual Cartola tornou-se uma febre nos últimos anos. Uma “brincadeira” que tem a sua inspiração nos Estados Unidos. No país, o fantasy é bem mais antigo e abrange várias modalidades. No caso do futebol americano, a primeira versão virtual data de 2003. E, sim, também há brasileiros, aficionados pelo esporte, escalando as suas equipes.
Um deles é Antônio Oliveira, torcedor dos Eagles. Ele joga com os amigos há três anos e revelou que deixa de lado o Cartola quando começa a temporada. “O Cartola eu acompanho até o primeiro mês. O Fantasy Footbal não. Fico até o fim”, revelou o estudante de 18 anos. Nos EUA, várias empresas trabalham com a indústria desses jogos e cerca de US$ 26 bilhões foram movimentados em 2015 nas plataformas. Algumas dão prêmios em dinheiro que chegam até US$ 1 milhão.
A premissa é a mesma do que já é visto no Cartola. Os “cartoleiros” escalam os jogadores e o que acontece nas partidas é transformado em pontos. Na NFL, a diferença é que a maioria das ligas não é baseada na compra de jogadores. Os times são formados através do draft (seleção de jogadores) antes da temporada começar. Algo que segue os moldes de como as equipes da NFL escolhem os novatos vindos das universidades.