30 anos do Tetra: os relatos do "Xerife" No dia 17 de julho de 1994, o Brasil era tetracampeão mundial. O pernambucano Ricardo Rocha contou detalhes do título historico nos EUA

Publicação: 17/07/2024 03:00

Todos no gol com Taffarel. Baggio x Taffarel. Bateu...acabou! É tetra, é tetra! O Brasil é tetracampeão mundial de futebol! A eterna narração de Galvão Bueno, abraçado com o Rei Pelé não sai da lembrança! Uma memória viva que completa 30 anos nesta quarta-feira (17/7).

Há exatas três décadas, no dia 17 de julho de 1994, Brasil e Itália se enfrentavam no Rose Bowl, em Pasadena (EUA), na decisão da Copa do Mundo de 1994. E após um tenso empate por 0 a 0 que persistiu no tempo normal e na prorrogação, a Seleção Brasileira venceu nos pênaltis por 3 a 2. Sob um sol escaldante, veio a explosão de alegria dos jogadores e comissão técnica. E também do povo brasileiro, que voltava a soltar o grito de campeão após 24 anos.  

Presente em toda a caminhada do tetra, o pernambucano Ricardo Rocha contou em seu canal no YouTube detalhes e bastidores daquele período, daquela conquista inesquecível. O xerife, inclusive, foi o primeiro a descer com a taça na volta ao Brasil, quando todos os protocolos foram quebrados e a Seleção veio para o Recife em vez da Capital Federal, São Paulo ou Rio de Janeiro. Isso por causa do apoio dado pelos pernambucanos ainda na campanha das Eliminatórias, na goleda por 6 a 0 sobre a Bolívia, no estádio do Arruda. A conversa contou com a participação do filho do xerife, o comentarista esportivo Ricardo Rocha Filho e do jornalista Marcos Leandro, do DP Esportes.

Confira alguns trechos e relembre essa marcante conquista do futebol verde e amarelo.   

Entrevista - Ricardo Rocha // zagueiro tetracampeão mundial

PRESSÃO  
“O Brasil nunca tinha perdido um jogo de Eliminatórias. E quando acontece a derrota contra a Bolívia (2 a 0, em La Paz), foi muita porrada na gente. Ninguém queria saber de altitude e que era a melhor seleção da história da Bolívia. Queriam massacrar a gente. Era um grupo que ainda era marcado pela Copa de 1990 (eliminação para a Argentina nas oitavas). E aquela seleção foi criada na porrada. Tudo era motivo de chacota. E o grupo foi se fortalecendo. Seguramos muita coisa”.  

A SEMENTE DO TETRA
“A semente do Tetra foi no Recife. Tudo aconteceu ali. A gente perdeu para a Bolívia, fomos vaiados em São Paulo e a roleta muda em Recife, quando levamos o jogo da volta contra a Bolívia para o Arruda. O povo apoiou desde a chegada no aeroporto até os treinos. E no vestiário, lembrei do que tinha acontecido na final do Campeonato Pernambucano de 1983, quando estava no Santa Cruz e entramos em campo de mãos dadas contra o Náutico. E dez anos depois, com todos os problemas que a gente tinha, repetimos naquele jogo contra a Bolívia. Ninguém esperava. Tive a ideia antes do aquecimento, no dia do jogo, no vestiário do Arruda. Falei com Parreira (Carlos Alberto), o capitão Ricardo Gomes e Branco. Aquilo fechou, deu ainda mais união àquele grupo. Foi sensacional e emocionante. A gente estava engasgado com a Bolívia. A gente perdeu, Zetti foi acusado de doping (caso do chá de coca) e ficamos espantados com o que aconteceu depois. Cercaram nosso ônibus, não deixaram a gente entrar no hotel. Criaram uma raiva da gente, não sei porquê”  

ROMÁRIO
“Alguns jogadores se machucaram e a gente sabia que ele tinha que vir. (contra o Uruguai, ainda pelas Eliminatórias). Ele estava voando na Europa. E quando ele chegou, no treino, ele disse que ia arrebentar, naquele jeito Romário de ser. E ele acabou com o jogo mesmo, deu caneta, chapéu e fez os dois gols. Foi um dos maiores jogos que o Brasil fez. E vou te dizer, se ele tivesse jogado desde o começo das Eliminatórias, não sei se a gente ganharia a Copa. Ele chegou na Copa “cego” para a Copa do Mundo, com uma sede de ganhar o título. E na Copa do Mundo ele puxo fila e treinou todos os dias”.

LESÃO NA ESTREIA DA COPA
“Era titular e joguei contra a Rússia. Faltavam 20 minutos para acabar o jogo quando eu me machuquei. Aí entrou Aldair, que pra mim foi um dos melhores zagueiros de todos os tempos. Para mim foi difícil, fiquei muito mal, mas uma lesão faz parte de uma Copa do Mundo. Em princípio pensei que ia voltar para casa, mas Zagallo e Parreira conversaram comigo e reforçaram a minha importância para o grupo e aí fiquei para ajudar de outra maneira. Era palestrante, amigo, psicólogo, a reza era comigo. Agora eu tinha o timing entre a brincadeira e a conversa séria”. A gente tinha uma caixinha para atraso e tudo mais, o presidente era Jorginho (lateral direito)”.

ERRO ZERO

“Tem uma frase do Parreira que era erro zero.  Fizemos uma primeira fase tranquila. E essa mentalidade do erro zero começou nas oitavas de final, contra os Estados Unidos. Para mim foi o jogo mais importante. Por tudo que envolvia a data para eles, a motivação. Teve a expulsão de Léo (Leonardo) também. Complicado. Mas o time taticamente era perfeito e ganhamos por 1 a 0”.

A FINAL
“Para a grande decisão contra a Itália, Parreira me chamou e me disse que Aldair era dúvida para o jogo. Estava treinando só há dois dias, mas disse que se precisasse, poderia contar comigo. Mas graças a Deus Aldair jogou e deu tudo certo”.

LIDERANÇAS
“Essa seleção era de grandes lideranças, como a de 70, que tinha Rivellino, Brito, Piaza, Carlos Alberto, Gérson. O que falta muito hoje em dia. Dunga era um grande capitão. Jorginho, Taffarel, Zetti, Gilmar, Taffarel, Branco, Mauro Silva, Leonardo, Raí. Nego escutava mesmo, era pau. E quando tinha problema a gente resolvia com a gente mesmo. Tinha um jogador que veio falar comigo e queria desistir da Copa porque estava chateado. No diálogo com as pessoas, conseguimos resolver”.

VOLTA AO BRASIL
“Como passa rápido, 30 anos. Outro dia estava lembrando da chegada ao Brasil. Vendo a reportagem depois, Galvão gritando “é tetra!”. Na matéria de Chico (Francisco José, TV Globo), o  avião chegando (em Recife). Lindo. Você descer na sua terra, que abraçou a Seleção Brasileira. Fiquei muito feliz”.