GUERRA DAS TORCIDAS » Ponta do iceberg Especialistas apontam que cenas de selvageria, como as que tivemos entre as organizadas de Santa Cruz e Sport, refletem a violência na sociedade brasileira atual

Publicação: 08/02/2025 03:00

Torcidas Organizadas são ambientes que favorecem os extremos das emoções. Desde o amor mais incondicional, até a maior das brutalidades, como foi o caso das cenas de horror envolvendo as de Santa Cruz e Sport no sábado (1/2) nas ruas da Região Metropolitana do Recife. Sociólogos e psicólogos afirmam: situações como esta são apenas a ponta do iceberg, em uma sociedade onde a violência se apresenta de forma quase onipresente.

Pesquisador do Núcleo de Estudos Sobre Violência e Segurança da Universidade de Brasília (NEVIS/UnB), Edergênio Vieira diz que as pessoas precisam aprender a brincar não só com as vitórias, mas também com as derrotas de seus times. E não pode servir de pretexto para extremos de violência.

De acordo com o sociólogo, o futebol carrega consigo muitas das expressões que permeiam a vida dos brasileiros. “Inclusive a violência contida em nosso dia a dia. Nesse caso, potencializada, devido aos aspectos de catarse coletiva proporcionada por ele”.

Vieira explica que, após chegar ao Brasil, o futebol era tido como um esporte de elite. Com o tempo, o acesso ao futebol foi ficando barato e acessível, para uma população que não tinha muitas outras formas de diversão. “O público, então, passou a ser, em geral, de jovens moradores de bairros com alta vulnerabilidade social. E eles passaram a encontrar, na torcida, um lugar de pertencimento”.

Especialista em psicologia clínica e ex-diretor da torcida organizada Rubra, do time goiano Anapolina, Pedro Henrique Borges passou por experiências que possibilitaram, a ele, um olhar privilegiado tanto para o interior dessas torcidas, como para o íntimo de seus torcedores.

“As torcidas organizadas são movimentos de massa. Sigmound Freud (o pai da psicanálise) falou (sobre situações como esta) em seus textos sobre psicologia das massas; sobre o sentimento de pertencimento das pessoas ao serem aceitas entre seus pares”, disse o psicólogo.

Ele explica que, geralmente, o torcedor é acolhido e aceito pela organizada. “Ali, ele pode ingressar mesmo tendo sido expulso ou rejeitado de outros lugares. Nesse ambiente, acaba sendo muito comum encontrar pessoas extremamente violentas e problemáticas”, disse (Agência Brasil).