Transporte público faz bem à saúde OMS defende priorização de corredores de transporte coletivo nas grandes cidades

Tânia Passos
taniapassos.pe@dabr.com.br

Publicação: 28/07/2013 03:00

Com menos carros e mais ônibus haveria redução da poluição do ar e de acidentes (JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS)
Com menos carros e mais ônibus haveria redução da poluição do ar e de acidentes
Quem enfrenta todos os dias metrô e ônibus lotados e perde tempo preso nos engarrafamentos dificilmente vai acreditar que o transporte público faz bem ao corpo. Mas um estudo científico defende a priorização de corredores exclusivos como uma política de saúde pública. Segundo a entidade, o uso majoritário de coletivos impacta diretamente na qualidade do ar que respiramos e reduz o número de acidentes de trânsito. Caminhar até a parada do ônibus também é mais saudável que dar um passo para entrar no carro. A estimativa é que uma pessoa que se desloca de ônibus pode gastar por dia 350 calorias a mais do que quem faz o mesmo percurso de carro. Equivale a uma hora de caminhada.

O recorte feito  pelo pesquisador Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde (OMS), que realizou o levantamento, foi baseado em mais de 300 pesquisas em todo o mundo sobre saúde, mobilidade, planejamento e gestão urbana. Para ele, o transporte coletivo priorizado não é apenas uma necessidade urbana, mas, sobretudo, humana. “A inatividade física ocasiona doenças como a diabetes e a hipertensão. A poluição do ar é um problema muito grave nas grandes cidades, e o carro é o principal responsável por isso. No Brasil, as estatísticas são assustadoras: 40 mil pessoas morrem no trânsito por ano”, ressaltou Carlos Dora, que também defende a melhoria de outras formas de deslocamento não motorizado, com mais incentivo para bicicleta e caminhadas.

O auxiliar de serviços gerais Cristiano Marinho, 36 anos, voltou a usar o transporte público depois que teve sua moto roubada há dois meses no Recife. Com 1,65 de altura e 80 kg, ele conta que perdeu cinco quilos desde que voltou a usar o ônibus. Além de mais magro, ainda passou esse tempo bem distante do risco de ser mais um nas estatísticas de acidentes de moto no estado, que somam 30% do total de acidentes de trânsito registrados. Apesar disso - e em decorrência das más condições do transporte público local - ele não vê a hora de voltar à moto. “ Caminho mais de 20 minutos de casa para a parada de ônibus e muita coisa tenho que resolver a pé. Uma coisa é perder peso. Outra é sofrer todo dia. Prefiro ter minha moto de volta”, revelou.

Aos 58 anos, a empresária Ana Carolina Caldas não faz a menor ideia de como é andar de ônibus. Aos 18, ganhou o primeiro carro dos pais. “Nunca andei de ônibus na minha vida. Antes de ter o meu próprio carro, sempre tinha alguém para me levar ou buscar nos lugares”, revelou. Com 1,60 de altura e 83kg, ela está acima do peso que gostaria. Mas perder calorias no ônibus, nem pensar. “O nosso transporte público é muito ruim. Prefiro a dieta”, afirmou.

A professora do Departamento de Nutrição da UFPE Fernanda Lima chama a atenção para os hábitos alimentares. “Quanto mais atividade física, melhor, e isso inclui até mesmo a caminhada ao ônibus. Mas é importante os cuidados com a alimentação”, ponderou.

Saiba mais
Relação transporte público e saúde

Obesidade
  • 300 milhões de pessoas são obesas no mundo, sendo 1/3 nos países em desenvolvimento
  • 350 calorias são gastas a mais por dia para quem se desloca no transporte público se comparar o mesmo percurso feito de carro
  • 19 milhões de pessoas morrem por ano por inatividade física com doenças como diabetes e hipertensão: 3,2 milhões estavam aparentemente saudáveis
Poluição do ar
  • 2 milhões de pessoas morrem por ano por causa da poluição do ar
  • 68% dos poluentes na atmosfera são despejados pelos automóveis
  • 90% da poluição do ar em áreas urbanas têm como fator poluidor os automóveis
Acidente
  • 1,2 milhão de pessoas morrem por ano em acidente de trânsito em automóveis. Quanto mais corredores de transportes de massa, menos carros nas ruas
  • 66% dos empréstimos no Banco Mundial entre 2002 e 2004 foram para investimentos de vias para o trânsito comum, que não privilegiam o transporte público
Fonte: Pesquisa do coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Carlos Dora