Tércio Amaral
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Publicação: 17/03/2014 03:00
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Cerimônia contou com pessoas fantasiadas e batuqueiros de maracatu em frente à primeira sinagoga das Américas |
A comunidade judaica de Pernambuco realizou uma “dupla comemoração”. Ontem pela manhã, descendentes de judeus de todo o Nordeste se reuniram para celebrar o Purim, que na cultura hebraica remete à sobrevivência do povo judeu na região da Pérsia, no Oriente Médio. A festa também fez história pelo fato de agregar em torno desta data, pela primeira vez, em mais de 400 anos, os descendentes de judeus nas ruas do Bairro do Recife. Na ocasião, foi lido em voz alta, por duas vezes, como manda a tradição, o livro de Ester, da Bíblia.
“É uma data simbólica porque remete ao não-extermínio do povo judeu na Pérsia. Pela primeira vez, os descendentes dos judeus comemoram esta data nas ruas do Recife em mais de 400 anos”, disse o estudante de direito e um dos organizadores Raniery Zarchoi, de 30 anos. A celebração foi realizada diante da sinagoga Kahal Zur Israel, na Rua do Bom Jesus, considerada por historiadores a primeira instalada nas Américas.
A festa, no entanto, mesclou tanto o lado religioso como a cultura contemporânea. As tradições judaicas no encontro foram adaptadas à realidade local. A presença de batuqueiros de maracatu, por exemplo, não faz parte da celebração original. Os judeus no Purim têm o hábito de colocar máscaras para fazer uma alusão a uma confusão em torno da identidade de líderes que teriam como objetivo exterminá-los na Pérsia.
O sincretismo - influência de culturas sobre outras - foi percebido ainda nos adereços. Muitas máscaras usadas na ocasião remetiam ao carnaval. “Os judeus estão mascarados para não serem reconhecidos. O costume vem da tradição de que hoje não se pode diferenciar um amigo de um inimigo”, disse o rabino Gilberto Ventura, que veio de São Paulo para participar da celebração.
“A história de Pernambuco se confunde com o judaísmo. O primeiro administrador do estado (na época uma capitania hereditária), Duarte Coelho, era um cristão-novo, que se converteu para se adequar às leis portuguesas (Tribunal do Santo Ofício)”, lembra o religioso. Em Pernambuco, existem três sinagogas em funcionamento, sendo duas no Recife e uma em Caruaru.
A celebração do Purim foi filmada. O material será encaminhado aos tribunais rabínicos de Israel, no Oriente Médio, porque os judeus da região não estão acreditando na volta dos Bnei Anussim - descendentes de judeus desde o período colonial - à religião e à cultura judaica.