Selma, a dona do Coco
Aos 84 anos, 60 deles dedicados à música, nove CDs gravados e um DVD, coquista homenageada no São João 2014 influencia a nova geração
Lenne Ferreira
lenneferreira.pe@dabr.com.br
Publicação: 08/06/2014 03:00
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A cantora descoberta na década de 1990 quer retomar seu trabalho social e receber artistas de outras cidades |
A voz e a locomoção comprometidas pela idade não foram capazes de afastar dona Selma do Coco dos palcos. Aos 84 anos, a rainha do ritmo que virou seu sobrenome, completa 60 anos de carreira. Ao lado das netas, Selma, que é uma das homenageadas do São João do Recife, faz planos de gravar CD novo. “A música é a minha alegria”, diz, soltando a gargalhada que eternizou a canção A rolinha.
Um dos endereços mais conhecidos de Guadalupe, em Olinda, a casa dela é ponto turístico. Patrimônio Vivo desde 2005, a cantora e compositora precisa de auxílio para se levantar da cadeira e subir escadas, mas não perdeu o gosto pela música.
Natural de Vitória de Santo Antão, a coquista vive em Olinda há mais de 50 anos, onde criou quatro dos 14 filhos. O marido morreu quando ela morava na Mustadinha. Nunca se casou novamente e vendeu tapioca na Sé para educar os meninos. Selma relembra que vendia a iguaria cantando os cocos que aprendeu nos sítios da infância.
Na década de 1990, foi descoberta em meio ao Movimento Mangue. Em 1999, fez a primeira turnê europeia. Entre grandes momentos, destaca que em 2002 recebeu do Lula a medalha de Comendadora da Cultura Popular.
Em 2000, o filho mais velho, José Ferreira, que cuidava da carreira dela, morreu. Ele organizava sambadas quinzenais na casa, que ficou de luto. Mas Selma se refez. Quer resgatar seu trabalho social e receber artistas. “Dependo do apoio público para retomar as atividades”. Também quer gravar um disco com convidados. Em sua homenagem, a Prefeitura do Recife nomeou o polo junino do Pátio de São Pedro de “Arraial Dona Selma do Coco”.
A vida com a família só é interropida por shows - esse mês ela vai a São Paulo. “Já fiz muita anarquia por esse mundo”, diz. Anarquia, agora, só nos palcos, onde Selma continua fazendo a rola voar.