Igreja quer exumação de D. Vital Arquidiocese de Olinda e Recife pedirá ao Vaticano autorização para examinar o corpo do bispo. Objetivo é comprovar morte por envenenamento e acelerar beatificação

Raphael Guerra
raphaelguerra.pe@dabr.com.br

Publicação: 03/07/2014 03:00

Vital foi o primeiro bispo capuchinho no Brasil (ARQUIVO DP/D.A PRESS)
Vital foi o primeiro bispo capuchinho no Brasil
A Arquidiocese de Olinda e Recife dará novo passo para acelerar o processo de beatificação de Dom Vital - primeiro bispo capuchinho do Brasil, conhecido pela luta em defesa da fé e pela resistência ao regime imperial. Será solicitada à Santa Sé, no Vaticano, autorização para que o corpo do frei seja exumado. O objetivo é comprovar que ele morreu por envenenamento e, assim, ser declarado como um mártir pela Igreja Católica.

“Se isso acontecer, não há necessidade de confirmação de milagres para que ele seja beatificado pelo papa Francisco, já que morreu pela fé”, explicou frei Jociel Gomes, vice postulador da causa de beatificação de Dom Vital. A tese da igreja é de que, enquanto estava preso, o religioso era envenenado, por isso veio a falecer anos mais tarde.

Segundo pesquisas históricas, o capuchinho foi condenado a quatro anos de reclusão, com trabalhos forçados, em 1874, por denunciar irregularidades na igreja, entre elas a de que membros de confrarias e associações católicas faziam parte de maçonarias. “As seitas secretas eram proibidas, por isso foram denunciadas. João Alfredo, conselheiro do Império, não aceitou a imposição e conseguiu a prisão de Dom Vital”, disse frei Jociel.

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O médico-legista Carlos Vilar explicou que a conclusão sobre a causa da morte é muito difícil, já que o corpo tem mais de 130 anos. “Somente será possível se houver venenos minerais ou em formato de metais entre os ossos, que devem ser analisados em laboratório especializado em bioquímica”, pontuou.

O pedido da exumação será feito até o primeiro semestre de 2015, quando será entregue, à Santa Sé, documento final com o material colhido ao longo do processo de beatificação, iniciado em 1960, mas interrompido por décadas. Somente em 1999, foi reaberto pelo então arcebispo dom José Cardoso Sobrinho.

Duas comissões, sendo uma formada por bispos e cardeais e outra por teólogos, analisarão o material para emitir parecer ao papa, que decidirá pela beatificação.

Amanhã, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, preside missa solene em memória dos 136 anos da morte de Dom Vital, às 10h, na Basílica Nossa Senhora da Penha. Ao final, no mesmo local, haverá visita ao túmulo dele e oração pela beatificação.

Saiba mais

A trajetória de Dom Vital, perseguido em vida e venerado após a morte

27 de novembro de 1844
Nasceu Dom Vital no Sítio Jaqueira do Engenho Aurora, atual município de Pedras de Fogo, na Paraíba (na época território de Pernambuco)

2 de janeiro de 1846
Foi batizado pelo padre Francisco Santana, na Capela do Engenho Bonito, em Goiana, recebendo o nome de Antônio Gonçalves de Oliveira Júnior

Fevereiro de 1861
Ingressou no Seminário de Olinda. No ano seguinte, foi estudar em Paris, na França

1863
Recebeu o hábito de São Francisco e o nome religioso de Frei Vital Maria de Pernambuco

Maio de 1871
Por decreto imperial, Frei Vital de Oliveira foi nomeado Bispo de Olinda

1873
O papa Pio IX pediu aos bispos do Brasil para combaterem as seitas inimigas. Dom Vital escreveu cartas aos sacerdotes e diocesanos sobre o pedido, contrário ao governo imperial

1873
Foi decretada a prisão do religioso, recolhido ao Arsenal da Marinha do Recife

Fevereiro de 1874
No Rio de Janeiro, foi julgado e condenado a quatro anos de prisão

Março de 1874
O papa Pio IX enviou carta à Diocese de Olinda, afirmando que o único crime de Dom Vital foi ter defendido a religião

1874
Anistiado, viajou para Roma, onde foi recebido cinco vezes pelo papa

1876
Voltando a Olinda, continuou o apostolado, até março do ano seguinte, quando se sentiu doente, e viajou à França em busca de tratamento

4 de julho de 1878
Faleceu no convento capuchinho de Paris, com suspeita de envenenamento

23 de janeiro de 1860
O então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antônio de Almeida Morais Júnior, introduziu o processo de beatificação

Fonte: Arquidiocese de Olinda e Recife