Um símbolo da história em risco
Não há regras
de proteção para grande parte das chaminés de Pernambuco.
Esses exemplares da arquitetura industrial não são sequer contabilizados pelos órgãos de preservação
Marcionila Teixeira
marcionilateixeira.pe@dabr.com.br
Publicação: 31/08/2014 03:00
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Chaminés da Praça da Torre e da Fábrica Tacaruna resistem em meio a uma paisagem urbana em constante mutação ao redor |
Situada em meio ao tráfego intenso das proximidades do Forte das Cinco Pontas e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no bairro de São José, no Recife, uma chaminé destoa da arquitetura do prédio federal. Edvaldo Araújo, funcionário do TRE há 25 anos, conta que a estrutura parece ser baixa, mas na realidade afundou há cerca de 16 anos, depois que o solo cedeu às fortes chuvas. “Na época, descobrimos uma antiga cozinha no subsolo. A Universidade Federal de Pernambuco ficou de enviar especialistas para analisar a importância do achado e isso nunca aconteceu. Suponho que a chaminé pertencia ao forte”, comentou. Apesar da suposta importância histórica, a construção não integra a lista de peças tombadas ou em processo de tombamento.
Outra chaminé pouco conhecida da maioria dos recifenses fica na Torre, nas proximidades da Praça Professor Barreto Campelo e da Paróquia da Torre. A estrutura é chamada Bueirão pelos moradores do bairro e fez parte de uma olaria, melhoria instalada nas redondezas do antigo engenho da Torre. O espaço hoje é ocupado por um campo de futebol e por uma Academia da Cidade. É uma das três chaminés do estado em processo de tombamento pela Fundarpe.
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Chaminés da Praça da Torre e da Fábrica Tacaruna resistem em meio a uma paisagem urbana em constante mutação ao redor |
À própria sorte
Segundo o arquiteto José Luiz Mota Menezes, não existem regras de proteção para essas estruturas históricas. “A primeira medida para proteger é pedir o tombamento. Trata-se de uma estrutura extraordinária, muito organizada em termos de construção. Lembro que em São Paulo houve uma briga enorme para preservar a chaminé da Fábrica dos Matarazzo”, lembrou.
Como imaginar a paisagem da Avenida Agamenon Magalhães, por exemplo, sem a chaminé pintada em preto e branco da antiga Fábrica Tacaruna, hoje com sua estrutura tombada pela Fundarpe? E o bairro da Torre, sem a chaminé da antiga fábrica de tecidos, cujo processo de tombamento está em andamento? “Elas são importantes em razão de seu sistema construtivo robusto, que resiste bem ao tempo, e pelo simbolismo que possuem. Constituíam ventiladores dos sistemas de produção das fábricas à época da Revolução Industrial”, destacou Neide Fernandes, coordenadora de Patrimônio Histórico da Fundarpe.
Frederico Almeida, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ressalta que nenhuma das chaminés do estado é tombada em nível federal. Quando um imóvel é tombado por algum órgão do patrimônio histórico, ele não pode ser demolido, nem mesmo reformado. Pode apenas passar por processo de restauração, seguindo normas específicas, para preservar as características originais da época em que foi construído.
Saiba mais
Chaminés tombadas pelo município
Fábrica da Macaxeira
uma chaminé (Recife)
Chaminés tombadas pelo estado
DE FÁBRICAS:
Extinta Fábrica Arthur Lundgren uma chaminé (Paulista)
Extinta Fábrica Aurora três chaminés (Paulista)
Antiga Fábrica Tacaruna no conjunto protegido, uma chaminé (Recife)
Antiga Fábrica Rosa no conjunto em processo de tombamento, uma chaminé (Pesqueira)
Antigo Conjunto Fabril da Torre no conjunto em processo de tombamento, uma chaminé (Recife)
DE ENGENHOS
Antigo Engenho da Torre entre as edificações remanescentes do conjunto, uma chaminé, em processo de tombamento (Recife)
Engenho São João uma chaminé (Itamaracá)
Engenho Monjope entre as edificações remanescentes, uma chaminé em pre-ruína (Igarassu)
Engenho Poço Comprido entre as edificações remanescentes, uma chaminé (Vicência)
Fonte: Fundarpe