Protesto para marcar a data vai reunir os movimentos sociais
O encontro acontecerá a partir das 16h, em frente às Torres Gêmeas e seguirá em caminhada até o TJPE
Publicação: 02/06/2025 03:00
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Mirtes diz que sente a presença do filho e mantém as memórias do tempo em que passavam juntos até a tragédia |
O ato de protesto em alusão aos cinco anos da morte de Miguel Otávio Santana da Silva acontece hoje, às 15h, em frente às Torres Gêmeas do Recife, no bairro de São José, centro do Recife. A manifestação – liderada pela mãe de Miguel, Mirtes Renata, e que contará com a participação de movimentos sociais - deve seguir, por volta das 16h, em caminhada até o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Mas nessa luta que se arrasta há quase cinco anos e que ainda não parece ter fim, Mirtes conta que sente a presença do filho e que continua lutando pelas memórias com ele, no breve recorte de vida que tiveram juntos. “Infelizmente, foi um período muito curto que a gente passou junto, mas foi tudo muito intenso. Eu tenho muito orgulho de ser mãe de Miguel. Ele me ensinou muita coisa enquanto estava do meu lado e só fica a saudade, que não é pouca”, disse.
Convivendo com o luto e a luta nesses últimos anos, Mirtes deseja ver a justiça feita para conseguir ter paz . “A única coisa que eu espero, é que o caso do meu filho se resolva, que eu possa ter um pouquinho de paz, ter aquela sensação de missão cumprida. Que enquanto mãe do Miguel, de que a justiça foi feita. É isso que eu espero”, contou.
RELEMBRE
Miguel Otávio Santana da Silva morreu em 2 de junho de 2020, durante o lockdown da pandemia de covid-19, após cair do nono andar – o equivalente a uma altura de 35 metros - de um dos prédios das famosas Torres Gêmeas do bairro de São José, no Recife. A mãe dele, Mirtes Renata, trabalhava à época para a família de Sarí Côrte Real e Sérgio Hacker.
Ele chegou a ser socorrido, mas faleceu. Mirtes era empregada doméstica e levou o menino para o trabalho porque a creche estava fechada e ela não tinha com quem deixar o filho. O governo de Pernambuco havia definido que o trabalho doméstico não era essencial, mas Mirtes teve de manter a rotina para não perder o emprego.
Ela foi incumbida de passear com o cachorro da patroa. Sarí ficou em casa fazendo as unhas e se responsabilizou por cuidar de Miguel. O menino pediu pela mãe, a patroa o colocou em um elevador. Sozinho, ele chegou em uma área de maquinaria, acessou uma janela e caiu.
Logo depois da morte de Miguel, foi divulgado o vídeo das câmaras de segurança do elevador. Nele, é possível ver o garoto entrando correndo sozinho no elevador de serviço. Em seguida, Sarí aparece e fala rapidamente com o menino. Pela imagem, ela também parece apertar um botão de um andar alto do prédio, antes de deixar o menino sozinho no elevador, cuja porta se fecha.
Ao sair do elevador, ele abre uma porta, passou por um corredor onde há uma janela, por onde o menino teria subido. Do outro lado da janela, há um vão onde fica o maquinário dos aparelhos de ar-condicionado do andar e um gradeado, única estrutura que fecha o vão do prédio. Isso tudo aconteceu no nono andar do edifício.
Em agosto de 2020, a Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou, e depois foi sancionada, a Lei Miguel. Ela determina que crianças de até 12 anos não podem utilizar elevadores desacompanhadas de adultos.
TCE
Outra repercussão do caso foi a recente condenação, pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) , a Sérgio Hacker Corte Real, por ter posto servidores municipais para prestar serviços pessoais a ele quando era prefeito de Tamandaré. Entre esses servidores estão, justamente, Mirtes Renata e Marta Maria Santana Alves, respectivamente mãe e avó do menino A decisão foi publicada no Diário Oficial do TCE-PE do dia 4 de abril.
Além de pagar multa de R$ 31 mil, o ex-prefeito deverá quitar débito de R$ 509.114,59 em solidariedade com outros três servidores. Com relação aos serviços pessoais prestados pelo servidores, a auditoria cita o caso de Mirtes e Marta, que constavam como servidoras municipais da Prefeitura de Tamandaré, mas trabalhavam como domésticas de Sérgio Hacker e da ex-primeira dama Sari Corte Real, além de Luciene Raimundo Neves, trabalhadora doméstica na casa de praia do então prefeito.
Segundo os auditores, a prefeitura apresentou documentos “em que resta evidente que Mirtes, Marta e Luciene recebiam salário como servidoras municipais e de que inexiste qualquer prova de prestação de serviço das mesmas ao município de Tamandaré”.
Em sua defesa feita ao longo do processo, em conjunto com o ex-secretário Carlos Eduardo, Sergio Hacker alega que a denúncia havia sido realizada por opositor político que buscava angariar vantagem nas eleições, que houve o ressarcimento e que “gestores públicos no Brasil possuem muitas vezes prerrogativas como moradia que inclui empregados domésticos pagos pelo erário, o que afasta a gravidade da conduta”. Ele acrescenta que a nomeação das servidoras foi inspirada em outros municípios que destinam imóvel para residência oficial do prefeito.
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