Os artistas por trás das máscaras Em Bezerros, diz-se que em cada casa há um artesão. Mestres do artesanato que já trabalharam como mecânico e com pisos e azulejos dão força a esse ditado

Rosália Vasconcelos
rosaliavasconcelos.pe@dabr.com.br

Publicação: 25/01/2015 03:00

Máscaras de Bezerros traduzem a trajetória da cultura do papangu em Pernambuco (ANNACLARICE ALMEIDA/DP/D.A PRESS)
Máscaras de Bezerros traduzem a trajetória da cultura do papangu em Pernambuco
No município de Bezerros, Agreste pernambucano, as máscaras carnavalescas trazem em si a história de vida da população bezerrense e traduzem a própria trajetória da cultura do papangu em Pernambuco. Diz-se até que, em cada casa, há um artista plástico ou pelo menos alguém com inclinação para os trabalhos manuais. São os artistas de Bezerros que materializam a riqueza cultural do lugar, dando ao artesanato da cidade o status de patrimônio cultural. Em uma visita aos ateliês e espaços culturais do município, é possível reconhecer a importância de cada mestre para o artesanato local e como as máscaras têm ultrapassado os limites do estado. O Diario foi atrás de histórias curiosas sobre os artesãos bezerrenses. Confira.

MECÂNICO QUE VIRA ARTESÃO
Antônio Alexandre da Silva, 53 anos, é mais conhecido como Galego da Oficina. Mas, entre a troca de um pneu e o conserto de embreagem, é na fabricação de máscaras e outros itens artesanais que ele se encontra. No Carnaval, além de máscaras de papangus decorativas e para uso pessoal, ela produz fantasia de burrinhas e porta cerveja. “Sempre trabalhei com mecânica, mas o artesanato me oferece outras possibilidades, além de ser uma terapia. Com o dinheiro que ganho com as produções, já consegui viajar para muitos lugares”, conta Galego. Quando o Carnaval acaba, a produção não pára. “Mudo a temática e passo a produzir balões para as festas de São João de Caruaru e Campina Grande”, orgulha-se.

O CAMINHO DE VOLTA PARA CASA
Zé Pezinho saiu de Bezerros e foi morar em São Paulo, em busca de trabalho e qualidade de vida. Mesmo fora da sua terra, o artesanato nunca saiu de sua rotina. “Desde os 15 anos sou artesão. Fui para São Paulo trabalhar com acabamento de pisos e azulejos. Nas horas vagas, faço máscaras decorativas e todo mês de dezembro volto para Bezerros para vendê-las. Fico até depois do Carnaval”, conta José Pedro da Silva, 52 anos. Seu tempo em São Paulo lhe rende o aprimoramento de sua arte. “Geralmente, uso como material o poliéster com resina, porque acho que dá mais produção. Também troco muito conhecimento com o pessoal das escolas de samba, o que me permite sempre renovar meus personagens. Já a pintura é feita com grafite e não com tinta de tecido”, revela.

UM PATRIMÔNIO VIVO DA CIDADE
Desde os oito anos de idade, Amaro Arnaldo do Nascimento, 70 anos, produz máscaras de papangu. Mas quem procurar em Bezerros por Amaro, certamente não vai encontrá-lo. O artesão é conhecido por Lula Vassoureiro, apelido que herdou do avô, que no início do século 20 era famoso pelo fabrico de vassouras na cidade. “Meu pai também era chamado de Zé Vassoureiro, mas não gostava do nome. Até a rua que a gente morava era a Rua das Vassourinhas”, recorda Lula. Sem saber ler nem escrever, é no trabalho manual que Lula Vassoureiro se encontrou e ganhou o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Todos os anos, o artista faz a decoração da cidade de Bezerros, durante o Carnaval, e é um dos poucos que ainda trabalha de forma rústica, utilizando o grude de goma e papel de jornal. “Não preciso mais trabalhar porque sou aposentado. Mas não consigo deixar de fazer máscaras, só diminuir minha produção”, confessa o artesão.

A DESCOBERTA DO ARTISTA
Ser artista não estava nos planos de Murilo Albuquerque, 29 anos. Mas aos 18 anos, ele precisava ganhar dinheiro para fazer um curso superior em administração. Foi chamado pelo artista Sivonaldo para trabalhar em seu ateliê e descobriu que “levava jeito para o artesanato”. Hoje, Murilo, que já concluiu sua graduação e agora se programa para um pós, é um dos artistas mais conceituados de Bezerros. Chega a produzir 2.000 peças por ano. “Procuro diversificar as peças e o material usado na produção”, diz. Além do papel machê, fabrica máscaras de couro e faz aplicações de máscaras em telas e pedestais, entre outros usos decorativos. Seu trabalho já fez parte do figurino de novelas e já compôs a produção do desfile da escola de samba carioca Império da Tijuca.