Quando a pressa é inimiga da saúde No segundo dia da série, apresentamos o perigo escondido no fast food, da gordura aos açúcares. Amanhã, confira como a glicose, associada ao consumo excessivo de doces industrializados, abre caminho para o diabetes, que já atinge mais de 6% dos pernambucanos

Publicação: 26/01/2015 03:00

Pernambuco é o terceiro estado com maior parcela da população sofrendo de colesterol alto, ao lado de São Paulo, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde. Entender o cenário em um local que, por anos, passa por uma expansão econômica acelerada não é difícil. Se deixar de estocar em casa comidas com excesso de gorduras ou açúcares não chega a ser complicado, resistir à tentação de substituir refeições por lanches rápidos com a desculpa de economizar tempo é cada vez mais desafiador. Almoço vira sanduíche e o jantar, pizza, refrigerante ao lado. O “ganho de tempo” significa ingestão diária de gorduras e açúcares bem acima do recomendável e deixa o caminho livre para a alta de colesterol e triglicerídeos.

De cada 30 pernambucanos, ao menos um admite substituir sistematicamente refeições por fast food. O surpreendente é que o comportamento ocorre sobretudo na parcela mais esclarecida da população, com ensino superior, e é 20% mais comum entre mulheres. “Crescemos economicamente, mas esse crescimento é desvinculado da educação. Pessoas têm mais acesso, passam a matar a vontade de consumir o que não podiam. A consequência é na saúde”, diz Fábio Moura, endocrinologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz.

Uma dieta saudável é composta por menos de 7% de gorduras saturadas no total de calorias ingeridas. Nesse campo, alimento processado perde de longe: mais calórico e com menos fibras (redutoras naturais dos triglicerídeos), ele é rico em gorduras saturadas e trans (de origem industrial). Resultado? Oferece excesso de carboidratos simples, aumentando o risco de obesidade e, no médio prazo, de problemas cardiovasculares porque a gordura é absorvida e levada do fígado às artérias, onde se acumula e diminui o espaço de passagem do sangue ao coração.

Um vilão que facilita essa realidade é o refrigerante. Processado no corpo como açúcar, mesmo sem ser, ele desperta desejo por mais doces e aumenta a resistência à insulina, além de elevar a excreção de cálcio, caminho mais curto à osteoporose. “Ele é pobre em nutrientes e rico em corantes e conservantes e o dietético tem excesso de adoçante, conservante e fosfato”, alerta a nutricionista Isabele Calaça, provando que mesmo em pequenas doses, a bebida não deve virar rotina.

No limite da razão
A alimentação do administrador João Paulo Andrade, 28 anos, foge à tradição do brasileiro. Na mesa dele não entram arroz ou feijão. Carne, às vezes. Verduras, jamais. “Tive refluxo na infância e perdi o tempo da habituação alimentar”, conta. Nem as tentativas da mãe o impediram de adotar como preferências os sanduíches e frituras. “Criei um bloqueio psicológico. Mas faço exercícios e exames regulares”, justifica.

Em dias úteis, evita comer fora de casa. Mesmo assim, não abre mão da batata frita e não consegue fugir à pizza no jantar. Fim de semana, é rede de fast food. Apesar disso, mantém peso adequado para altura e idade e não apresenta alterações no colesterol e triglicerídios. Para os médicos, pura sorte.