O drama de uma mãe pernambucana
Atendente descobriu que seu filho tinha microcefalia após divulgação de surto na imprensa. Ontem, ministério recuou de recomendação
LARISSA RODRIGUES
larissarodrigues.pe@dabr.com.br
Publicação: 14/11/2015 03:00
Isabela (nome fictício) levou filho para fazer exames e confirmou o diagnóstico que tanto temia: %u201CO amo em dobro |
As dúvidas e o medo se misturaram à alegria de ser mãe pela primeira vez. A incerteza do futuro a machuca. Mas, se é que é possível, ela diz ter duplicado o amor pelo filho. “Você quer proteger mais, cuidar mais, amar mais. Fiquei triste porque a gente quer o melhor para o nosso filho”.
Isabela contou que durante a gestação nenhum exame identificou a anomalia. Com dez dias, o bebê foi levado a um pediatra, que achou a cabeça da criança pequena, mas disse que os reflexos eram normais. “Fiquei preocupada, mas não achei que fosse sério. Na hora em que vi a reportagem, as lágrimas caíram. Associei uma coisa à outra.” Mãe e filho foram atendidos pela chefe do serviço de infectologia pediátrica do Oswaldo Cruz, Ângela Rocha.
A especialista disse que a partir de agora os primeiros passos são os exames. “Vamos colher sangue e fazer tomografia. Você deve ficar tranquila e seguir sua vida normal. Daremos as coordenadas”, disse a médica para Isabela, enquanto tentava acalmar a jovem. Assim como outras mães de bebês com microcefalia têm relatado, Isabela teve, no início da gravidez, manchas na pele que coçavam, sem febre e sem dor. “O médico da UPA achou que era uma alergia”, comentou. Ela disse não fumar, não beber e não usa drogas. Além disso, fez o pré-natal com cuidado na rede particular.
Nova diretriz
O Ministério da Saúde voltou atrás e afirmou, ontem, que não há recomendação para que mulheres evitem a gravidez em Pernambuco. Na quinta-feira, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do órgão, Cláudio Maierovitch, aconselhou as mulheres a adiarem os planos de ter filhos até que se esclareçam as causas do surto. Ontem, o órgão declarou: “até que se esclareçam as causas, as mulheres que planejam engravidar devem conversar com a equipe de saúde de sua confiança e avaliar as informações e riscos.” A Secretaria Estadual de Saúde informou, ontem, que dos 141 casos notificados em Pernambuco, 89 foram confirmados como microcefalia.