O drama de uma mãe pernambucana Atendente descobriu que seu filho tinha microcefalia após divulgação de surto na imprensa. Ontem, ministério recuou de recomendação

LARISSA RODRIGUES
larissarodrigues.pe@dabr.com.br

Publicação: 14/11/2015 03:00

Isabela (nome fictício) levou filho para fazer exames e confirmou o diagnóstico que tanto temia: %u201CO amo em dobro (LARISSA RODRIGUES ESP. PARA O DP/D.A PRESS)
Isabela (nome fictício) levou filho para fazer exames e confirmou o diagnóstico que tanto temia: %u201CO amo em dobro
Isabela (nome fictício), 28, é atendente de restaurante e mora na Zona Norte do Recife. Desde a quarta-feira ela não passou um só dia sem chorar. Descobriu por meio da imprensa que seu filho de dois meses se encaixava no perfil de bebês com microcefalia, anomalia congênita que teve aumento no número de casos no Nordeste este ano. Ontem, Isabela levou o bebê ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Santo Amaro, onde 40 casos são acompanhados desde outubro. Lá, o diagnóstico foi preciso: a criança tem a anomalia. O menino nasceu com a cabeça medindo 32 centímetros, número abaixo do considerado ideal pela Organização Mundial de Saúde, que aponta 33 cm como parâmetro saudável.

As dúvidas e o medo se misturaram à alegria de ser mãe pela primeira vez. A incerteza do futuro a machuca. Mas, se é que é possível, ela diz ter duplicado o amor pelo filho. “Você quer proteger mais, cuidar mais, amar mais. Fiquei triste porque a gente quer o melhor para o nosso filho”.

Isabela contou que durante a gestação nenhum exame identificou a anomalia. Com dez dias, o bebê foi levado a um pediatra, que achou a cabeça da criança pequena, mas disse que os reflexos eram normais. “Fiquei preocupada, mas não achei que fosse sério. Na hora em que vi a reportagem, as lágrimas caíram. Associei uma coisa à outra.” Mãe e filho foram atendidos pela chefe do serviço de infectologia pediátrica do Oswaldo Cruz, Ângela Rocha.

A especialista disse que a partir de agora os primeiros passos são os exames. “Vamos colher sangue e fazer tomografia. Você deve ficar tranquila e seguir sua vida normal. Daremos as coordenadas”, disse a médica para Isabela, enquanto tentava acalmar a jovem. Assim como outras mães de bebês com microcefalia têm relatado, Isabela teve, no início da gravidez, manchas na pele que coçavam, sem febre e sem dor. “O médico da UPA achou que era uma alergia”, comentou. Ela disse não fumar, não beber e não usa drogas. Além disso, fez o pré-natal com cuidado na rede particular.

Nova diretriz
O Ministério da Saúde voltou atrás e afirmou, ontem, que não há recomendação para que mulheres evitem a gravidez em Pernambuco. Na quinta-feira, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do órgão, Cláudio Maierovitch, aconselhou as mulheres a adiarem os planos de ter filhos até que se esclareçam as causas do surto. Ontem, o órgão declarou: “até que se esclareçam as causas, as mulheres que planejam engravidar devem conversar com a equipe de saúde de sua confiança e avaliar as informações e riscos.” A Secretaria Estadual de Saúde informou, ontem, que dos 141 casos notificados em Pernambuco, 89 foram confirmados como microcefalia.