Pedestre será prioridade de novo plano Plano de Mobilidade do Recife será enviado à Câmara no próximo semestre. Uma das suas prerrogativas é propor soluções para problemas das calçadas

Anamaria Nascimento
anamarianascimento.pe@dabr.com.br

Publicação: 27/05/2016 03:00

Rua da Hora é uma das que devem receber ações para permitir compartilhamento dos modais com pedestres (RICARDO FERNANDES/DP)
Rua da Hora é uma das que devem receber ações para permitir compartilhamento dos modais com pedestres
Priorizar os pedestres. A ação apontada como uma das soluções para melhorar a mobilidade urbana nas cidades deve receber reforços com a implementação do Plano de Mobilidade Urbana do Recife. O documento, em elaboração pelo Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, deve ser encaminhado à Câmara Municipal do Recife no próximo semestre. No projeto - que tem como uma das prerrogativas propor soluções para resolver os problemas das calçadas - está contemplada a pedestrianização de ruas e a previsão de restrição de circulação de veículos motorizados em determinados dias e horários. De acordo com o instituto, uma via com potencial para receber um projeto piloto de priorização dos pedestres é a Rua da Hora, no bairro do Espinheiro.

Conhecida por ser o polo gastronômico da Zona Norte do Recife, a rua tem as características necessárias para a criação de um projeto de priorização dos pedestres: é arborizada e tem vários pontos comerciais em toda a extensão. “Ela tem os atributos das vias que vamos priorizar para serem pedestrianizadas. As ruas Afonso Pena, nos arredores da Universidade Católica (de Pernambuco), e do Futuro também têm potencial para um projeto piloto nesse sentido”, afirmou o presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, João Domingos.

Para as vias que receberão ações especiais para privilegiar os pedestres, o plano prevê a padronização de calçadas, a instalação de “martelos urbanos” (redesenho das esquinas ampliando a calçada para cima das áreas zebradas) e a priorização de veículos não motorizados. “Estamos fazendo um mapeamento nas principais vias da cidade para saber como podemos melhorar a situação para os pedestres. Dentre elas, podemos identificar ruas para serem fechadas (para carros) ou ter circulação restrita”, disse o presidente do órgão.

Segundo o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, o Plano de Mobilidade Urbana do Recife - que tem como objetivo orientar os investimentos públicos em infraestruturas de transportes da cidade pelos próximos anos - está pela metade. Entre os 50% pendentes estão os resultados do diagnóstico dos deslocamentos na cidade; a realização de sessões de debates em alguns bairros e uma discussão prévia antes do envio à Câmara. A conclusão do plano era prevista para este semestre. “Depois de passar pelo poder legislativo, ainda será necessário um projeto executivo para aplicação do que está no plano”, explicou João.

O arquiteto e urbanista Geraldo Marinho, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou que priorizar o pedestre não significa necessariamente fechar as ruas para carros. “Na década de 1980, quando a Rua Nova foi fechada, essa concepção era mais forte. Hoje, a criação de espaços exclusivos para pedestres foi substituída pela ideia de compartilhamento harmônico entre diversos modais”, destacou. Ele deu como exemplos que podem ser usados como inspirações pelo Recife o centro histórico de Santiago, no Chile, e a área histórica de Oxford, Inglaterra. “Nesses lugares, as calçadas são muito largas e há apenas uma faixa para os ônibus circularem em baixa velocidade.”

Conheça as vias

Vias exclusivas para pedestres do Recife
  • Avenida Rio Branco
  • Rua Imperatriz
  • Rua Nova
  • Rua 7 de Setembro
  • Rua Duque de Caxias
  • Pátio do Livramento
  • Rua Larga do Rosário
  • Pátio de São Pedro
  • Rua Matias de Albuquerque
  • Rua Rosário da Boa Vista
  • Rua da Roda
  • Rua da Alfândega
  • Rua Barão Rodrigues Mendes
  • Rua Frei Vicente do Salvador
  • Travessa do Apolo
Perfil do pedestre na Região Metropolitana do Recife
1,5 milhão de pessoas se deslocam por dia na RMR, segundo o Plano Diretor de 2008

Tempo médio gasto por deslocamentos de acordo com a pesquisa de Origem e Destino
43 minutos de ônibus
28 minutos de transporte individual
16 minutos a pé

Em 1972 19% dos deslocamentos eram a pé

Em 1997 24% dos deslocamentos eram a pé

Calçadas no Recife
25 milhões de metros quadrados de calçadas
Equivalente a cobrir com calçadas dos dois lados uma linha reta de 5 mil km*

* considerando a largura de 2,5 metros por calçada

5 mil km é equivalente à
Distância em linha reta entre Recife e Quito, no Equador
Distância em linha reta de ida e volta entre Recife e Curitiba, no Paraná

Ruas
5 milhões de metros de ruas
2,5 metros é a largura da calçada

Princípios de uma calçada ideal
Sombreamento: utilização de árvores para amenizar os efeitos do sol
Continuidade: interligação entre zonas de serviço dos bairros
Acessiblidade: acesso a deficientes, crianças, idosos e adultos
Serviços: evitar instalação de obstáculos na faixa de passagem
Tamanho: não se limitar ao mínimo de 1,20 m

Faixa de serviço + faixa livre + faixa de acesso
Faixa de serviço (instalação de hidrantes, árvores e postes): 0,75 cm de largura mínima

Faixa livre (para circulação): 1,20 m de largura mínima admissível e 1,50 m de largura mínima recomendada

Faixa de acesso: Sem largura mínima

Rampa de rebaixamento para acessibilidade: 1,20 m de largura

  • Mobiliário urbano de grande porte (banca de revista) devem estar a 15 m do eixo da esquina
  • Mobiliário urbanao de pequeno e médio porte (telefone público ou caixa de correios) devem estar a 5 m do eixo da esquina

Árvores:
Mudas com 2,30 m de altura máxima
A vegetação escolhida deve ter altura máxima de 6 m quando adulta

Fonte:
Prefeitura de Recife, Secretaria das Cidades, Guia de Construção de Calçadas da ONG Soluções para Cidades e dados da pesquisa Origem/Destino.