Treze anjos da guarda a serviço de novas vidas Trabalho de doulas contribui para taxa de 76% de partos normais em maternidade municipal

Thamires Oliveira
Especial para o Diario
local.pe@dabr.com.br

Publicação: 23/08/2016 03:00

Teresinha Pereira, 65 anos, é a doula mais antiga da Maternidade Professor Bandeira Filho, da rede municipal, em Afogados. Socióloga por formação, trabalhou por 25 anos em uma junta médica, onde se apaixonou pelos cuidados com a saúde, especialmente da mulher. Depois de se aposentar, decidiu se formar doula no Rio de Janeiro. Trabalha na maternidade há cerca de 10 anos. Voluntária, ela não recebe nada, mas garante que a gratidão e a garantia de um sistema de saúde mais humano é suficiente e gratificante.   “Nosso trabalho é dar apoio emocional e físico. Fazemos com elas todos os exercícios para facilitar o parto e aumentar a dilatação. E servimos principalmente como um ponto de segurança e tranquilidade. Criamos um laço afetivo de confiança.”

No Brasil, atualmente, mais de 50% dos partos acontecem por meio de intervenção cirúrgica. Na rede privada cerca de 84% dos partos são cesarianas, enquanto que na rede pública o percentual é de 40%. O ideal indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 10% a 15%.

“Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer!” é o que afirma a placa colorida colada à porta da sala de parto da Bandeira Filho. O hospital, que conta com uma equipe de 13 “anjos das guarda” das grávidas, tem uma taxa de 76% de partos normais. As doulas, profissionais responsáveis por acompanhar as gestantes antes, durante e depois do parto humanizado, dão assistência às mães em um dos momentos mais importantes de suas vidas. Na semana passada, a Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei que que garante a presença de doulas nas unidades da rede pública e privada de Pernambuco durante os procedimentos do parto.

“Desde que adotamos o parto humanizado no hospital, a procura por cesáreas diminuiu bastante. Hoje, mais de 70% são humanizados e contam com a presença das doulas”, afirma Eud Johnson Lima, diretor da maternidade.

Além da Bandeira Filho, outras três unidades do Recife - Arnaldo Marques, no Ibura, Barros Lima, em Casa Amarela, e o Hospital da Mulher, no Curado - já atendem suas gestantes com acompanhamento das doulas. Para as mulheres, ter com quem contar durante o trabalho de parto é um fator importante. Welma Pereira, 24 anos, deu à luz a filha Letícia. Buscando um procedimento natural e seguro, e por indicação do médico, ela optou por se submeter a um parto humanizado.

Desde que chegou à maternidade, a gestante foi acompanhada por uma doula. Welma garante que as profissionais lhe trouxeram mais tranquilidade. Esse foi o quarto parto de Welma, que tem filhos de 7, 5 e 2 anos. “O atendimento realizado dessa forma é ótimo. Os movimentos facilitam a dilatação e a doula sempre me acalma. Foi o melhor procedimento de todos os meus partos”, diz.

Na Maternidade Professor Bandeira Filho, o suporte para os partos humanizados é referência. Antes da chegada do bebê, as doulas e a equipe de enfermeiros trabalham com equipamentos que facilitam a dilatação da área pélvica, a movimentação do bebê e a diminuição das dores, como a bola, o cavalinho, o repouso, a escada de link e massageadores. Além disso, sempre com orientação médica, a mulher pode escolher a posição e condições em que quer ter o filho. No procedimento humanizado a mulher pode fazer coisas diferentes em relação ao tradicional, como andar ou comer durante o trabalho de parto.

Só em 2016 já foram realizados 1.921 partos na unidade. Desses, 462 foram cesáreas, enquanto os 1.459 foram humanizados, o que representa 76%. “É importante respeitar a individualidade da mulher em um momento tão difícil que é a dor e tão bonito que é o nascimento”, ressaltou o diretor da unidade.

Números

Cesarianas no Brasil:

  • 84% rede privada
  • 40% rede pública
  • 10% a 15% ideal indicado pela OMS
Maternidade Professor Bandeira Filho - 2016:
  • 1.921 partos
  • 1.459 normais (76%)
  • 462 cesárianas (24%)