Amizade comemorada há 50 anos Cinco décadas depois de formadas, alunas do antigo Colégio Nossa Senhora do Carmo, na Boa Vista, se reúnem em momento de saudosismo

Lorena Barros
lorena.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/12/2016 03:00

Alunas do Ensino Médio da unidade de ensino, na Boa Vista em foto de 1966... (ISABEL SILVA/CORTESIA)
Alunas do Ensino Médio da unidade de ensino, na Boa Vista em foto de 1966...

As casas agora são empresariais e as tranquilas ruas, corredores de ônibus; onde antes havia silêncio, há caos. A mudança do bairro da Boa Vista, no Recife, foi um dos motivos que levaram o Colégio Nossa Senhora do Carmo a fechar em 2011. Cinquenta anos depois da formatura no ensino médio, 30 mulheres da turma de 1966 voltaram a se reunir no local, hoje sede da Faculdade de Direito Facipe, que preserva a mesma fachada das nove décadas de funcionamento da escola.

...e após 50 anos, em missa em homenagem à amizade de mais de meio século (ISABEL SILVA/CORTESIA)
...e após 50 anos, em missa em homenagem à amizade de mais de meio século

Passar pelas portas do colégio é voltar ao passado, com o conservado pátio e a organizada capela, sede de tantas eucaristias e casamentos, a alimentar memórias. Vem do grupo de mulheres, que passaram a década de 1960 entre as freiras beneditinas, o exemplo de como manter contato mesmo após tanto tempo – ou da “falta” dele.

Algumas chegaram ainda no primário e nem a divisão “científico x pedagógico”, que determinava quais seriam professoras e quais teriam outras profissões, as separou. No início, cartas e telefonemas deram conta das reuniões, gradualmente facilitadas pela tecnologia. “Todo mês a gente se comunica para marcar. Às vezes é pelo celular e no grupo do WhatsApp”, comenta Lúcia Cunha, 68, ex-aluna e organizadora da missa, em que as mulheres se reuniram em êxtase.

A relação com a escola - aberta por 92 anos - moldou a vida de muitas das ex-alunas. Para Lúcia, que ali encontrou a vocação de professora, a estrutura permitiu que ela contribuísse na formação de outras turmas. “Depois de formada, passei 12 anos trabalhando como professora no colégio”, lembra. As recordações antigas e atuais, como a foto da primeira turma de crianças sob os cuidados dela e as homenagens de antigas alunas, são guardadas com zelo em álbuns e plásticos.

As memórias se misturam com a satisfação de ver o grupo reunido depois de tantos anos. Os momentos de silêncio são raros, restritos à missa ou às poucas pausas para fazer mais um registro do momento. Muitas gostam de contar como aprenderam com aquele lugar. Outras, como dona Zuleica Cerqueira, 72, e Rosa Gonçalves, 68, gostam de lembrar de quando selaram matrimônios naquela capela. “Meu casamento foi celebrado por dom Fernando Saburido, aqui dentro, em 1968. Guardo a foto até hoje”, diz Rosa.

A dificuldade para organizar tantas histórias em um grupo tão grande revela o trabalho dado às freiras que tomavam conta do espaço quando elas eram crianças. “A gente fazia muito barulho, não é à toa que as irmãs reclamavam tanto”, brinca Socorro Caminha, 68, uma das quatro alunas que estudaram ali desde o jardim da infância. A gratidão de ver o local conservado, mesmo depois de tantos anos e tantas mudanças na estrutura do bairro, porém, serve de lembrete que amizades não têm prazo de validade.