Padre lutou pelos desvalidos

Publicação: 22/04/2017 09:00

A papa d’água (mingau feito com farinha de mandioca, água e açúcar) era o principal alimento das crianças de Jussaral quando o padre Carlos aportou naquela terra, em 1965. O religioso diocesano era amigo de dom Helder, com quem já desenvolvia trabalhos sociais no Coque, no bairro de São José, no Recife. O índice de mortalidade infantil na região era imenso. Registros nos cartórios dão conta de que uma criança morria a cada quinze dias.

Segundo moradores antigos, foi ele quem fez os primeiros trabalhos sociais no lugar. Abriu uma oficina de carpintaria, uma pequena fábrica de chocolate e criou até uma vacaria para alimentar as crianças pobres. “Ele vendia o leite para as pessoas com posses das cidades vizinhas e assim tinha como manter o lugar funcionando para alimentar os pobres. Muita gente se salvou da fome por causa daquele leite”, lembra Severina Maria da Conceição, que acompanhou o religioso.

A irmã Colette Catta, da congregação Irmãzinhas de Assunção, na França, chegou sete anos depois do padre para dar continuidade ao trabalho junto aos mais pobres. Depois de uma visita ao ponto mais alto do Cabo de Santo Agostinho, a Pedra da Pimenta, em Jussaral, ela anunciou que permaneceria naquele lugar para sempre. Assim foi até o ano passado, quando morreu, aos 95 anos. O padre somente deixou o distrito em 1997, para cuidar melhor da saúde.

Em 1979, os dois religiosos decidiram juntos transformar a vacaria em uma escola maternal. Cinco anos depois, ampliaram as ações e criaram uma creche para receber os filhos das mulheres trabalhadoras dos canaviais que não tinham com quem deixar suas crias. Foi a primeira creche rural do estado. “Geralmente as crianças ficavam sob os cuidados dos irmãos mais velhos, que também eram crianças. Na época houve uma certa resistência e as famílias chegaram a dizer que iam roubar os seus filhos”, lembra Severina.