EDUCA PE » A nova pedagogia dos desinibidos Projeto de escola em Olinda aposta na combinação da música e dança com outras disciplinas para desenvolver a autoestima e a confiança dos alunos

Anamaria Nascimento
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/05/2017 03:00

Na apresentação deste ano, com o tema baseado na novela Mulheres de areia, até o figurino foi bem pensado (NANDO CHIAPPETTA/DP)
Na apresentação deste ano, com o tema baseado na novela Mulheres de areia, até o figurino foi bem pensado

Para driblar a dispersão dos adolescentes em sala de aula e aproximar o conteúdo escolar do cotidiano da garotada, uma escola de Olinda apostou na arte como recurso pedagógico e atraiu a atenção dos estudantes para outras disciplinas. O Musicarte, projeto que acontece anualmente na Escola de Referência em Ensino Médio Santa Ana, em Rio Doce, leva música, pintura e dança à rotina escolar. A ação interdisciplinar - que envolve professores de todas as matérias - estimula os alunos a prepararem apresentações de canto, dança e a criarem releituras de imagens conhecidas por eles.

O ensino de artes ganhou evidência nas escolas desde o ano passado. No dia 3 de maio de 2016, o teatro, as artes visuais e a dança foram incluídos no currículo do ensino básico brasileiro. Até então, apenas a música era considerada componente “obrigatório, mas não exclusivo” do ensino de arte na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Após a incorporação de outras expressões como obrigatórias, as escolas públicas e particulares do país têm até 2021 para se adaptar às novas exigências.

 (NANDO CHIAPPETTA/DP)

De acordo com o Instituto Arte na Escola, “a arte melhora o aprendizado da língua, da matemática, das ciências naturais e humanas e ainda evita a evasão escolar”. As professoras responsáveis pelo projeto na Escola Santa Ana vão além. Segundo elas, por meio da arte, os adolescentes trabalham melhor em grupo, desenvolvem a autoestima e perdem a timidez, ajudando na resolução de conflitos típicos da adolescência. “Além de treinarem a parte artística e, com isso, trabalharem a criatividade, eles ganham autonomia por meio da colaboração mútua. Todos se ajudam, independentemente dos grupos aos quais pertencem. É gratificante ver como eles torcem e ficam felizes quando a apresentação do outro é bonita”, ressalta a professora de artes, Onézia Lima.

A professora de espanhol da escola, Flávia França, explica que, no início do ano letivo, os estudantes são divididos em grupos. Cada turma - que tem, em média, 45 alunos - é dividida em duas equipes. Um tema geral é lançado. Este ano, o desafio foi criar apresentações que se inspirassem em produções audiovisuais nacionais ou internacionais. Como parte do trabalho, eles precisam pesquisar e apresentar um embasamento teórico para a escolha do filme, série ou novela.

 (NANDO CHIAPPETTA/DP)
Depois de um mês de preparação, com a criação de figurino, repertório e coreografia, os estudantes se apresentam para toda a comunidade escolar. Apresentações em português, inglês e espanhol são feitas na quadra poliesportiva, que fica com as arquibancadas lotadas de espectadores. “Toda a escola se envolve, e a pontuação que eles conquistam por meio da apresentação vale para todas as disciplinas”, afirma Flávia, que coordena o projeto com as professoras Onézia Lima, Fabiana Montenegro e Valéria Farias. “O que eu mais gosto de fazer é tocar violão e guitarra, mas nunca tive coragem de me apresentar para as pessoas. Isso aconteceu pela primeira vez no Musicarte, que me fez perder a timidez. Desde o evento, já consegui compor oito músicas e penso em seguir essa carreira”, conta o estudante do segundo ano do ensino médio, Jefferson Oliveira, 17 anos.     

Prêmio para o professor de arte


Professores com projetos na área de artes podem inscrever as iniciativas pedagógicas na 18ª edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã. Realizada pelo Instituto Arte na Escola desde 2000, a premiação já reconheceu os trabalhos de 89 professores de arte em todo o país. O objetivo do prêmio é identificar, reconhecer e divulgar ações na área de artes em sala de aula. As inscrições dos projetos podem ser feitas até o dia 28 de maio pelo site www.artenaescola.org.br/premio.

Podem participar do concurso professores ou equipes de professores que desenvolveram projetos nas linguagens artes visuais, dança, música ou teatro concluídos até maio de 2017, em escolas de ensino regular, públicas ou privadas, em todo o Brasil. Todos os inscritos receberão uma prancha com proposta pedagógica a partir da obra Puros e duros (1991), do artista Leonilson, para trabalhar em sala de aula.

Os professores responsáveis pelos melhores projetos inscritos recebem um prêmio no valor de R$ 10 mil e participam da cerimônia de entrega, que acontecerá no dia 8 de novembro em São Paulo, com todas as despesas de viagem e hospedagem pagas. As escolas dos projetos vencedores - que terão os nomes divulgados em 5 de setembro - ganharão um computador e uma câmera digital. Os equipamentos devem ser usados na realização de novos projetos pedagógicos. A premiação é realizada pelo Instituto Arte na Escola, uma associação civil sem fins lucrativos que, desde 1989,  atua na formação continuada de professores da educação básica.

10 motivos para desenvolver projetos na área de artes nas escolas
  1. Melhora o aprendizado da língua, de matemática e das ciências naturais e humanas
  2. Evita a evasão escolar
  3. Desenvolve nos alunos habilidades perceptivas e capacidade reflexiva
  4. Incentiva a formação de uma consciência crítica, não se limitando à autoexpressão e à criatividade
  5. Aumenta a capacidade de interpretação
  6. Além de estimular a inteligência e o raciocínio, desenvolve o afetivo e o emocional
  7. Promove o trabalho em grupo
  8. Melhora a autoestima e faz diminuir a timidez do estudante
  9. Ajuda na resolução de conflitos da adolescência
  10. Desenvolve a comunicação ao colocar em pauta o verbal, o sonoro, o visual e o gestual
Fonte: Instituto Arte na Escola