'Por uma vida sou capaz de qualquer coisa'

Publicação: 24/06/2017 03:00

Aconteceu há 17 anos. Um adolescente tirou a vida do companheiro de Cícera Maria da Silva, 65. Foi para roubar uma moto. Ao ser apreendido, o menino disse à mulher em prantos diante de si que não tinha intenção de matar.

Depois da tragédia, Cícera ressignificou a própria vida. Na época, já morava em uma comunidade carente de tudo, a Buenos Aires, em Jaboatão. Também já garantia os direitos humanos usurpados dos cidadãos, através da associação de moradores. Sua missão seria, então, evitar que outras famílias passassem o mesmo sofrimento que ela. Para isso, precisava resgatar adolescentes infratores.

Cícera coordena um programa de Liberdade Assistida no município em convênio com a prefeitura. Calcula “salvar” cerca de 60% dos jovens. “Por uma vida sou capaz de qualquer coisa. O segredo é amor. Eles têm que se sentir amados para se valorizarem.”

A meta da associação é atender 75 jovens. Hoje são 52. Um total de 80% é envolvido com o tráfico. A LA é uma das medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O jovem é a acompanhado em meio aberto por ONGs e prefeituras. “O sistema tem denúncias de maus-tratos, tráfico, há falhas na estrutura, falta aptidão dos agentes socioeducativos. Os jovens não podem ser tratados como irrecuperáveis”, denuncia o promotor Guilherme Lapenda. Entre 2005 e 2017, foram mais de 48 mortes sob custódia do Estado. “Temos denúncias em Timbaúba, Cabo e Abreu e Lima. Mas se o juiz decide pela internação, as unidades precisam estar aptas a receber adolescentes. Não se pode creditar o caos do sistema socioeducativo à Justiça.”